Dos touros e da temida insolvência testicular dos homens, ai Jesus, "Maria não me mates que sou tua mãe"
Pronto, já sei que de palito no canto da boca e camisa aberta até ao umbigo ou rodeados de livros decorados com máscaras antropológicas ou quadros sangrentos da...(Lizzie cala-te senão em vez de vinho ao jantar bebes sumo de laranja que também é muito bom) hão-de dizer que sou urbana, que não percebo nada do assunto e tal e coisa, volta mas é para a tua terra e mantêm-te mansa.
Mas uma pessoa fica irritada quando está a dormir a sesta no jardim, no ano da Graça de 2013, e ouve megafones a anunciar touradas, mais a inversão de sentidos nas portas de Pamplona ou vê na fisioterapia um peito inchado de orgulho na razão inversa da diminuição de um joelho num forcado de vinte anos em que as canadianas são farpas que o destino (ou Fado de João Ferreira Rosa de preferência) amputou.
Parece que em cada região do globo há sempre um animal possante que os homens querem mais absorver que imitar: ursos, touros, bisontes, búfalos, gorilas.
Quando digo homens refiro-me aos humanos que têm os orgãos reprodutores virados para fora, activos e próprios para lançar sementes e não à humanidade em geral, incluíndo os seres que os têm recolhidos e a bem dizer mais discretos, passivos como terra a ser lavrada.
Da importância disto na história da arte incluindo a dança hei-de falar um dia. Agora não é para aqui chamada. Esta é mais prosa de pasodoble que de sinfonia auditiva ou visual.
Sempre foi simbolo do poder, da vida e também da morte.
Aliás, disse-me uma vez uma senhora andaluza de olhos negros e voz rouca e trágica de oiro flamenco que as almas são levadas para o céu por um touro. Suponho que Miura.
Não será coisa espanhola nem portuguesa porque já tal transporte se vê na arte egípsia. E na mitologia cristã o touro pode ser a representação de Cristo umas vezes, outras do vício (vários teólogos medievais ligavam os prazeres da carne, exteriores à procriação, à decadência e à imundíce).
E, abreviando, lá muito no fundo, aquele espectáculo de tortura que se vê nas arenas (ao que se passa antes e depois - o depois em Portugal- já dediquei post indignado) tem a ver com o poder masculino. Acreditava-se e, pelos vistos, acredita-se, que através do sacríficio o poder fecundador, a virilidade do touro é transferida para o homem que o enfrenta e/ou mata.
Aliás o touro é por excelência O PAI, o chefe, o violador de apetite voraz, a natureza em bruto, sem gravata, desodorizante, after shave, chapéu na mão ou cavalheirismo.
Isto é tanto mais coisa de homens que a única mulher que se atreveu a ser toureira em Espanha foi retirada, quer pelo desprezo dos inseridos no meio, quer pelas doutas considerações dos intelectuais, expulsão esta que Pedro Almodôvar usou como metáfora no filme Hable con ella, interpretado pelo cruzamento de toureiro com cantora , Rosario Flores. Coño!
É também devoção pagã que ainda hoje não tem esquerda nem direita politica, heterosexual ou homossexual.
Desde Picasso, que era comunista e que fazia alarde da sua potência taurina elevado ao infinito,
cuja paixão, correspondida, diz-se por Dalí, o levou a associar a beleza da Morte à magnitude do sacrifício do touro, passando pelo recalcado e sexualmente confuso Hemingway, pelo salivante Francisco Franco ou pelo terreno sedento de Ava Gadner.
Todos viveram desde dentro, ou para dentro (Lizzie, olha o sumo...), as touradas.
Mas voltando, esta conversa do poder de fecundar era da maior importãncia. Em tempos que não sei se já lá vão, quando não se matava o bicho bebia-se-lhe o sangue fresco ou comiam-se-lhe os testículos sem fervura ou tempero . A virilidade digere-se.
Era necessário produzir muitos filhos porque, como toda a gente sabe, eram mais os que morriam dos que viviam.
A aristocracia precisava deles bem vivos e de preferência machos para manter os bens na família e o povo deles bem fortes para garantir o trabalho e o consequente dinheiro em casa garantindo o trato futuro dos velhos, tarefa esta para as filhas ou para os mais fracos.
(Parece que esta coisa dos afectos maternais,paternais e filiais desinteressados é recente, mais de ganho cultural que congénita. Em todas as classes, obviamente.)
Nas festas de Corte, nada inocentes, era costume haver uma dança/performance em que o bailarino fisicamente mais dotado exibia os dotes anatómicos usando uma máscara de touro. Com cornos de oiro. O acompanhamento musical era à base de tambores e trompetas, ou seja, os mesmos instrumentos utilizados para excitar, perdão, estimular os soldados nas batalhas.
Ao longo do tempo muitas encenações coreográficas , foram inspiradas nesta figura.
Maurice Béjart, lá de cima, que conte o seu fascínio pela mitologia do touro. Com o Bolero de Ravel à mistura, claro.
Nas populares, a evidência nas poses, nos códigos e nas danças, era mais descarada e menos púdica e poética que a exibição das penas nos pavões. Por exemplo. Da mesma forma que se avalia um touro pelo volume das glândulas reprodutoras, também os estilistas da época, por assim dizer, faziam salientar o volume das mesmas nos bípedes. Consta que o que não era suficiente era acrescentado com couro ou sífilis.
nem o hábito tão remoto quanto contemporâneo, tal como observo na aldeia da minha morada ( tão virada à tauromaquia) e no futebol, sobretudo naquele espécime chamado Ronaldo CR7, de confirmar amiúde com as mãos se tal propriedade ainda lá está em forma e conteúdo e não fugiu para qualquer lugar impensável e secreto
porque, como diria a senhora que me fornece as alfaces, rijas que nem cornos mas enfim, à vista do neto que não gosta de touros nem faz investidas no bordel mais famoso da zona nem na curva mais arborizada da estrada nacional,
e referindo-se àquela coisa sem vergonha nem honra que se passeia na vila mais próxima, ai Jesus, antes morto que maricas.
Isto para não falar no serralheiro, aquele ali da mulher mandona, tão mole e permissivo, tão banana, que a horta não tem sequer um tomatinho que se veja.
Sobre o que se diz sobre a preferência das mulheres em relação a estes, a estes...minotauros prodigiosos da natureza, não me prenúncio.
Cada uma que confidencie com a sua almofada, com o seu secador de cabelo, com a sua bilheteira do Pavilhão Atlântico, com a sua festa rústica finalizada em momento musical do Continente no Terreiro do Paço, com o golo de chapéu. Sei lá, com o que quiser.
Arriscar-me-ia, Senhores, a beber sumo de laranja, em concentrado, para o resto dos meus dias.
E convenhamos que existem finais mais felizes.
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