Andando ainda , qual magala, a toque de caixa, resolvi, em vez de escrever comentário de resposta ao Senhor Dom Augusto, Distinto entre Mil no post de baixo, fazer este novo.
resposta por resposta…
vai este.Tenha eu tempo de ir ao sótão buscar os quadrinhos para enfeitar as paredes.
Quanto a modificações em casa, pois cá eu, nem que já esteja no leito (que tão pouco tenho gozado) a horas tardias, lembro-me de mudar o sítio de móveis, quadros e o mais que seja.
Só o despertador, mesmo mudado de sítio, teima em gargalhar à mesma indecente hora.
Ai o grandessíssimo filho dos bons costumes que anda sempre mais depressa que os meus perversos hábitos.
E agora vamos aos artistas, ou assim mais ou menos que, às vezes, é difícil discernir o que é doutamente classificado como Arte do ofício hábil de descascar batatas em fino corte.
Mas pronto, parece-me que é destino bicudo dos Artistas que têm a Arte no peito, andar à procura de obra que os satisfaça em pleno e sem paliativo mesmo quando sofrem de desmesura na grandeza do ego.
E talvez essa loucura compulsiva de conseguir expressão perfeita, seja o motor que os move: cada surpresa, se forem artistas que inventem a partir do coração, leva a outra. E a surpresa sucessiva de cada descoberta, é mote de grande vício sem cura.
Até Mondrian, que era geómetra na cabeça, perseguia o milímetro certo que não perturbasse o equilíbrio da conversa entre as cores .
Assim, mesmo os para nós perfeitos Mikhail Baryshinikov e
Fred Astaire,
se viam tão imperfeitos que levavam a sua ambição interior de perfeição até ao sangue, como peregrinos em chão de terra árida.
Conheceis a história do escultor que começava a obra com grande penhasco de pedra bruta e a acabava, insatisfeito, do tamanho de um caroço de azeitona?
(Esta história sempre nos serviu de refrão para a desgarrada que cantávamos, seguido do outro “diz ao roto para o nu: porque não te vestes tu?”)
E tal, chamemos-lhe necessidade, pelo menos nos que conheço, é mais virada para dentro do que para o reconhecimento exterior.
Para muitos é uma questão de honestidade na glória, mais que a visibilidade dos prémios ou distinções.
Seja ou não considerado oficialmente artista.
Ao longo do tempo sempre houve quem ligasse, até de forma anedótica, a tristeza e a melancolia extrema ao acto criativo e pensador.
Voltaire, consta, espremia os sacos lacrimais para mostrar a sensibilidade face aos mais idiotas poemas ou traços que socialmente lhe apresentavam.
Embora tal ideia dure e seja cultivada e regada ainda nos dias de hoje,
vasculhando nas biografias e conhecimentos presentes, chega-se à conclusão que os houve, e há, grandes, enormes mas com muito siso e responsabilidade.
Outros, claro, encontraram na loucura ou excentricidade (por vezes estratégicas) uma forma de se exibirem na fama e serem completamente livres de todos os compromissos.
Talvez Matisse, por exemplo, lhe tivesse dado uma colorida bengalada.
Há um sentimento que talvez seja presente em todos: a solidão. A desejada ou a que lhes cabe em sorte no baralho.
Para além das fontes inspiradoras, cada um tende a recolher-se em luta consigo.
Por mais que ame ou seja amado.
Vossa Lizzie
vai este.Tenha eu tempo de ir ao sótão buscar os quadrinhos para enfeitar as paredes.
Quanto a modificações em casa, pois cá eu, nem que já esteja no leito (que tão pouco tenho gozado) a horas tardias, lembro-me de mudar o sítio de móveis, quadros e o mais que seja.
Ilusão do novo, do diferente, do variado.
Como se a mudança implicasse um novo início, embora muitas vezes não saiba de quê nem para quê.
Porque não poderão haver actos sem filosofia de pacote que os justifiquem?
Só o despertador, mesmo mudado de sítio, teima em gargalhar à mesma indecente hora.
Ai o grandessíssimo filho dos bons costumes que anda sempre mais depressa que os meus perversos hábitos.
E agora vamos aos artistas, ou assim mais ou menos que, às vezes, é difícil discernir o que é doutamente classificado como Arte do ofício hábil de descascar batatas em fino corte.
Mas pronto, parece-me que é destino bicudo dos Artistas que têm a Arte no peito, andar à procura de obra que os satisfaça em pleno e sem paliativo mesmo quando sofrem de desmesura na grandeza do ego.
Estou-me a lembrar de dois narcisistas puros, como Durer
e o bailarino setecentista que inventou alguns dos passos daquela parte da Dança que se chama Ballet, o gracioso Gaetano Vestris (a quem já dediquei prosa de maledicência, se bem me lembro).
E talvez essa loucura compulsiva de conseguir expressão perfeita, seja o motor que os move: cada surpresa, se forem artistas que inventem a partir do coração, leva a outra. E a surpresa sucessiva de cada descoberta, é mote de grande vício sem cura.
Até Mondrian, que era geómetra na cabeça, perseguia o milímetro certo que não perturbasse o equilíbrio da conversa entre as cores .
Assim, mesmo os para nós perfeitos Mikhail Baryshinikov e
Fred Astaire,
se viam tão imperfeitos que levavam a sua ambição interior de perfeição até ao sangue, como peregrinos em chão de terra árida.
Conheceis a história do escultor que começava a obra com grande penhasco de pedra bruta e a acabava, insatisfeito, do tamanho de um caroço de azeitona?
(Esta história sempre nos serviu de refrão para a desgarrada que cantávamos, seguido do outro “diz ao roto para o nu: porque não te vestes tu?”)
E tal, chamemos-lhe necessidade, pelo menos nos que conheço, é mais virada para dentro do que para o reconhecimento exterior.
Para muitos é uma questão de honestidade na glória, mais que a visibilidade dos prémios ou distinções.
Como pessoas, são normalmente discretos. Com o corpo exposto mas a alma escondida debaixo da primeira mesa que encontrem.
Quanto à tristeza, ( nestas coisas é estado que também tem moda e aproveitamento publicitário) que tais ansiedades e ambições trazem, será coisa do temperamento ligado à história de cada um.
Quanto à tristeza, ( nestas coisas é estado que também tem moda e aproveitamento publicitário) que tais ansiedades e ambições trazem, será coisa do temperamento ligado à história de cada um.
Seja ou não considerado oficialmente artista.
Ao longo do tempo sempre houve quem ligasse, até de forma anedótica, a tristeza e a melancolia extrema ao acto criativo e pensador.
Voltaire, consta, espremia os sacos lacrimais para mostrar a sensibilidade face aos mais idiotas poemas ou traços que socialmente lhe apresentavam.
Usava-se muito na altura o derramar águas sentimentais mesmo quando o coração era granítico.
Mais tarde criou-se o mito da infelicidade, a desgraça e a loucura, serem condição indispensável para o artista ser digno de tal estatuto.
Mais tarde criou-se o mito da infelicidade, a desgraça e a loucura, serem condição indispensável para o artista ser digno de tal estatuto.
Embora tal ideia dure e seja cultivada e regada ainda nos dias de hoje,
vasculhando nas biografias e conhecimentos presentes, chega-se à conclusão que os houve, e há, grandes, enormes mas com muito siso e responsabilidade.
Outros, claro, encontraram na loucura ou excentricidade (por vezes estratégicas) uma forma de se exibirem na fama e serem completamente livres de todos os compromissos.
Como um certo pintor português que conheci quando era menina e moça que, por ser artista nas suas afirmativas palavras, desprezava compradores dos seus quadros a bom preço enquanto os filhos pequenos viviam da caridade alheia.
Talvez Matisse, por exemplo, lhe tivesse dado uma colorida bengalada.
Há um sentimento que talvez seja presente em todos: a solidão. A desejada ou a que lhes cabe em sorte no baralho.
Para além das fontes inspiradoras, cada um tende a recolher-se em luta consigo.
Por mais que ame ou seja amado.
Ou nem uma coisa nem outra.
E com esta me fico sem saber também se era bem isto que queria responder mas fica assim: apressado, imperfeito, incompleto e com erros. Como sempre.
Talvez amanhã, com a cabeça mais fresca e ainda mais mal dormida mude alguma coisa. Ou quase tudo.
De resto, fico-me com a felicidade de comunicar convosco.
Sem mais e respeitosamente
Sem mais e respeitosamente
Vossa Lizzie