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Durante uns dias, vou guardar o prodigioso rebuliço das palavras.
Ficarão numa espécie de arca revestida de silêncio e rodeada de memória por todos os lados.
Uma ilha cheia de palavras em repouso. Parecem-me até sonolentas. Sem impulso para se ordenarem umas às outras e fazerem sentido em forma de conversa. Recusam-se até à troca que é a tradução.
(Faz de conta... porque quem sou eu para mandar nelas, tão atrevidas, tão infiltradas, tão escorregadias...?)
Nem só com palavras se pensa, se constrói. Nem só com letras juntas se sonha.
Não, não!
Por isso, se me dão licença e a partir da senhora cansada que não conheço de lado nenhum e que vi uma vez destacada na carruagem do comboio e me fez lembrar outra de Nova Iorque isolada da multidão, como personagem única saída de toda uma biblioteca de literaturas, ambas convergentes num retrato saído da mão de um mestre, vou-me concentrar noutros sentidos, ou seja,
vou tentar, tanto quanto consiga inventar e nem que seja por um micro segundo no Tempo
Oferecer um oceano ao peixe
5 comentários:
Senhora,
assisti em silência às mudanças várias de dona maria do céu, desde citadina nas alturas, a rural e a felina,saberá o altíssimo porquê.
vejo agora que já se deram mudanças desde o dia quatro.
não tenho a certeza de serem girinos os infelizes que estão dentro do frasco mas, que na sua mutaçaõ se transformem em verdes hulks e rebentem a prisão que os encerra.
na minha actual prisão não sei o que farei, continuarei a passar por cá, talvez sem palavras mas atento. até ver...
deixo as minhas amorfas despedidas, à espera e melhores dias.
Senhor
também em silêncio,já vos havia estranhado e em cuidados que, pela vossa arrumação de letras, não me passaram completamente já que falais em prisão que é coisa gradeada que impede a leveza dos movimentos e, por vezes, muito mais, os pensamentos.
Por agora tenho que ficar por aqui, voltando amanhã.
Os meus livres respeitos.
em pouco tempo, no pouco tempo em que me ausentei, como é possível ?, esqueci os rituais que durante anos fui criando.
esqueci até em que gavetas guardo algumas coisas.
em tão pouco tempo...
há poucos anos já me tinha queixado, numa consulta de rotina, que andava muito esquecido. o médico disse-me: -o senhor esquece aquilo que não lhe interessa.
pensei: possivelmente ele tem razão. mas não, mesmo o que me interessava eu esquecia.
assim, quando lá voltei disse-lhe. respondeu-me: -olhe, eu não acredito em remédios para a memória. compre uma agenda.
assim fiz e comecei a assentar o que precisava. era inverno. o verão chegou e novamente o inverno.
tirei do guarda-fatos um casaco mais apropriado ao frio e vi que esquecera num bolso, durante todos aqueles meses, a agenda.
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acho, Senhora, que estou a passar por uma experiência interessante, e espero não me esquecer, durante os tempos mais próximos, de ir passando pelo vosso maravilhoso jardim.
e, Senhora,
é vosso o patinho. fico contente e agradecido.
os meus respeitos.
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