terça-feira, 20 de maio de 2014


Homenagem e apresentação à sociedade do repousante, inspirador e debutante Filho da Mãe.


Porque neste tempo de carrocel sem rumo onde uns se sentem tontos e outros ainda imaginam o chão que lhes foge, ainda existem, Senhores, recantos de ternura eterna.


 A que sempre existiu e sempre existirá mesmo que, cada vez mais se imitem as máquinas que se criaram,  mesmo, Senhores, na rejeição da  fadiga, fiabilidade e finitude que nos são naturais embora cada uma delas pouco produtivas e quiçá até maçadoras.



(Cá para mim é sempre filosofia mecânica de travão quando o criador imita a criatura.)

Porque as maquinetas podem ser sofisticadas na eficiência mas deficientes crónicas na arte de sentir todos os sentidos. Talvez por enquanto.


 Quando assim não for, espero já estar convosco a levantar, com travessura, as saias dos anjos sem lingerie, para, com leveza despreocupada, resolver a inutilidade da questão que há séculos entretem a humanidade.

 Sentir com todos os sentidos para não dizer já no amar que até o amor parece já ser servido em menús de fast love não vá ele apunhalar pelas costas a carreira, o sucesso. Não vá ele lançar um grito que nunca se imaginou.




Como o pensamento das gentes anda despachado no fast think: engolem-se ideias prensadas sem sequer se olharem os ingredientes. Ai, Senhores, a ilusão da vitamina...

Como acho que ainda somos produtos do sangue, há sempre uma  fragilidade que se respeita, uma força que se doseia. Um cuidado que se aprende.


Vem esta prosa a propósito do Filho da Mãe que aqui imediatamente acima vos apresento, entidade repousante e fruto de uma clandestina união ibérica, ou seja, de uma visita que Madrid fez ao Tejo e que convive, sem necessidade de debates peninsulares sobre a adopção, com  outra clandestinidade de quando o Tejo se deslocou a Madrid.



(Madame Bovary - filha de mãe francesa e pai inglês, imagine-se- foi à Movida numa noite de luar com flamenco-jazz como música de fundo, entrou-lhe el duende e Don Pepe enlouqueceu de paixão.)

De vez em quando largo os afazeres  que me sugam o tempo e vou-me reconciliar com a vida em geral, aos aposentos do Filho da Mãe. Escuros por exigência de Madame Bovary.

É gratificante!

O Filho da Mãe, aliás como Madame Bovary, não miam sobre futebol.


Mostram-se indiferentes a discursos, nomeadamente aos meus, quando lhes fiz a prelecção sobre de quanto mais rebuscada é a retórica mais duvidosa é a mente do orador. Adormeceram quando lhes falei no King Lear de Shakespeare.


Também não lhes vislumbro qualquer interesse pelo espectacular da actualidade. Não acordam à hora de telejornais ou de outros programas de grande audiência e formação.


Pouco lhes interessa o carácter gourmet das refeições desde que  não tenham fome. Não aspiram a estrelas tenham ou não nomes de pneus.


Também não exigem marca na roupa de cama. Contentam-se com uns higiénicos, e de muda diária, restos de lençol de algodão ou flanela. Sempre no tradicional branco.


Não exigem indumentária especial, como o fardamento de hospedeira e comissário de bordo do Hospital da Luz, por exemplo, para nos apresentar-mos perante eles. Um simples roupão branco, roupa de jardinagem ou outra informal de arrastar por casa, servem perfeitamente. Desde que limpa.


Com a sua intuição,  o Filho da Mãe sentiu que me faltavam umas pontas que se ligassem para completar um todo, resolveu fazer uma demonstração com os seus dotes de plasticidade física e respectivo enquadramento.


E já agora, que me ia esquecendo da generosidade, por agora habitar numa arrecadação, deitou abaixo uma pilha de CDs mostrando-me este que veio atar com nó sorridente as tais pontas mostrando-me que a voz de coxinho antigo pode ser a quase ironia necessária para ilustrar a solidão.



Resolveu-me, assim, um problema sem que eu esgotasse todo o plafond de  imaginação. Graças ao Filho da Mãe ainda posso aproveitar o que sobra para outras coisas que estagio em mente.



Mas sobretudo, mais uma vez e porque nunca é demais, o Filho da Mãe e os outros filhos dos pais, levam-me a trazer pelos dias,  a ternura na palma da mão.


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