Breve e inevitável história explicativa de como tudo se define pelo seu contrário e vice versa, ponto final parágrafo.
No princípio do Mundo havia uma espécie de rei tão mau e tão feio que fazia concorrência à própria maldade.
De vez em quando, tomava-se de manias do que viria a ser Alexandre o Grande noutras terras, por exemplo, e partia em cobiça de outras terras que nem sequer conhecia de perto nem de longe.
De uma dessas vorazes vezes, partiu para o Sul da Terra e aí conheceu uma princesa pela qual se tomou mais de posse que de paixão, porque do amor repentino ou lento nada nunca soube ou viria a saber até hoje.
Levou então a donzela, sem consentimento dela ou dos seus, para os seus domínios no Norte, para mais perto da Estrela Polar e do sítio onde a terra dá a volta para se tornar no outro lado do Mundo.
A princesa recolheu-se dia e noite num canto do imenso castelo, se é que no princípio de todas as coisas existiam tais defensivas moradias.
A espécie de rei , furiosa com tal falta de alegria e jubilo, castigou-a em fome e conforto até a donzela que dada a natureza viril do seu raptor , suponho, já não seria, começar a definhar toda a vida que tinha na grandeza dos olhos.
Entrou, então, em tal sofrido lamento que as árvores, condoídas, choraram todas as viçosas folhas, ao mesmo tempo que o vento, triste, abandonou todo o calor que espalhava por todos os ares.
Ouvindo a donzela, em extremo da saudade, contar da alva cal e do sol nela reflectida das casas da sua terra, as nuvens brancas pousaram e cobriram todas aquelas paragens, aproveitando para castigar a terra, mãe que tinha gerado no seu seio, tal maldosa espécie de rei, tornando-a estéril como uma raiz possuída por uma pedra de gelo.
Como o corpo frágil da donzela tremia com falta do sol do sul na sua pele morena, o fogo resolveu sentar-se aos seus pés e daqueles que pela noite, às escondidas da espécie de rei, lhe ouviam as histórias imensas sobre as suas terras lá para as bandas do muito longe.
Nem a espécie de rei nem a donzela, imaginavam que as aves, ao verem tanta desolação, tanto trabalho árduo naquela terra agora fria, agreste e sem fruto que desse sustento, tinham partido para contar tal desventura ao sul.
E do sul, partiu, então o grande amor que amparava na lembrança a solidão da donzela naqueles dias desterrados, acompanhado de todos os sóis, todas as brisas, todas as cores e nascimentos.
Foi tão longa e tão sangrenta a batalha entre os dois pela donzela,
que o Universo, embora preguiçoso em decisões e pouco atento ao que se passava debaixo do céu, resolveu em conluio secreto com o sol, com desprezo por todos os seres mortais e parcos em transcendência e até ao fim dos tempos, que na rota que a terra desenhava em redor deste astro, ficaria a donzela entregue aos cuidados da espécie de rei em metade da volta e ao príncipe do sul na outra metade embora
os espíritos dos bosques também digam que o tal Universo determinou que enquanto a donzela estava recolhida em esperanças de fruto, reinaria a espécie de rei e que por alturas do parto, seria o príncipe do sul a tomar-lhe a mão para a glória dos festejos.
A Natureza, ainda segundo outra versão, que é sábia e para cada coisa sempre criou o seu contrário, determinou que nem só de labor, nem só de folia vive a terra e que ambas devem ter lugar pois que uma não pode viver sem a outra, como a luz não pode existir sem a sombra que lhe dá a vida e contorno.
Tanto quanto se sabe, o futuro nunca soube qual destes destinos e fins da história correspondem à verdade. Não há notícia que o Universo ou a Natureza tenham alguma tido alguma vez a humildade de esclarecer.
(O que interessa é que esta história, com origem, e em várias versões, nos nativos da América do Norte , foi mote, com formas mais ou menos violentas na estética e na execução e a partir dos fins do Séc. XIX, para inúmeros coreógrafos narrativos e compositores.)
11 comentários:
no possível princípio do fim da moeda havia uma espécie de façanhuda rainha que fazia concorrência a todos os meus piores pesadelos.
quando tinha aqueles que para si eram os seus sonhos mais cor de rosa via-se baptizada de angela merkel e partia à conquista de paragens bem longínquas que nem sequer conhecia nem de perto nem de longe.
talvez por estranha telepatia comecei a sonhar com ela: que me dobrava deitado em cima do seu dragão e me levava.
num casarão onde me meteu,à beira de enorme precipício, tratava-me desveladamente. todos os dias a sua fiel criadagem me servia duas refeições de torradas e chá de tília.
e acordo, Senhora, alagado em suores , acreditando que nenhuma princesa virá salvar-me.
os meus respeitos e o meu agradecimento pela coragem e paciencia com que hoje me aturasteis. e, também as minhas desculpas pois sois merecedora de coisa melhor do que aquilo que aqui vos deixo.
Senhor,
aqui, na masmorra onde me encontro, já tive dessa rainha notícia:
dizem que não faz depilação e que lhe cresce todos os dias um bigodinho desaguado da cana do nariz e que tal como Catarina a Grande se faz acompanhar de anões que a cada passo seu correspondem com piruetas e vénias que, de tantas, ainda hão-de ficar entrevadinhos com dores nas cruzes.
E também me chegou nova que há outro rei que tem os olhos oblíquos e nunca diz que não nem sim e sempre sorri, que vai alcançando o reino do longe e diz que os conquistados não devem ter folia nem ao sábado todo e que, além disso, dormem tanto que ainda podem ficar inteligentes.
E também há outro rei que apanha tanto sol que fica mais moreno que os outros que diz que o reino do longe tem mas é que trabalhar para ele e recomenda aos cronistas que sequem a tinta e afoguem os papiros.
Senhor, nos meus pesadelos e por mais que olhe para a parte de trás e da frente do horizonte,para nascente e poente, também não vislumbro nenhum princípe que me salve nem ninguém que venha arrumar a casa, que bem precisa, com mãos generosas de fada.
Senhor, vou para a alcova porque está na hora da espécie de rei me visitar a ver se tenho direito, depois da visita, à refeição de duas bolachas maria e um chá de camomila.
Valham-me, Senhor, estes vossos ramos de rosas que, voando, entram pela minha janela perfumando o castelo que, a pouco e pouco, se vai esquecendo do nome.
Os meus agradecimentos e respeitos.
Senhora,
eu, que ultimamente mais pareço ser da família das cigarras, nada me apetecendo fazer no blog e, quando o faço é com algum custo e porque a isso me obrigo, fico sempre surprendido quando venho a esta vossa casa e vos sinto quase como laboriosa formiga. e isto apesar de ao meter-me a caminho pensar "será que houve alguma alteração? não há concerteza". mas há.
sabei, Senhora, que senti falta daquelas belas romãs; é a romã um fruto que acho bonito.
quanto à infeliz donzela nota-se, de ontem para hoje, um semblante bem mais sofrido. embora me pareça, um sofrimento resignado e calmo.
ór-----------------------------
e concordo, embora ninguém mo peça nem pergunte que a estória ficará muito bem muito bem "on stage".
e, porque tinha adormecido em frente ao computador, parto desta vossa agradável morada deixando os meus ensonados respeitos.
aqule ór só pode ser explicado pelo sono...
Senhor,
formiga eu?
Pois sempre achei que nasci para cigarra (e para cigarros também) ou, se quiserdes, para ser formiga cigarrando que foi o que fiz durante alguns anos ou seja, ter tanto gosto e prazer no cigarrar que nem sei se notei que estava formigando a toda a sela.
Agora, infelizmente, só cigarro noutro reino que neste a fábula ainda é levada, e cada vez mais, muito a sério mesmo quando as formiguinhas irritantes (que nunca apreciarão o canto de qualquer cigarra) se estafam em trabalhos que levarão tanto fruto como um vento velho.
Senhor, ficai sabendo que é uma cigarra que agora botou, com todo o gosto, as várias idades das romãs, fruto que também acho lindíssimo e que anuncia as cores de Outono e que tem uma mitologia, noutras terras, de que vos daria notícia agora mesmo se não tivesse um compromisso declaradamente formigueiro.
Se tendes observado as mudanças da infeliz donzela, então vou-vos mostrar a verdadeira expressão da natureza, chamemos-lhe assim, contrariada.
Talvez muita gente, seja pequena ou grande, tenha nelas um espelho.
Pelo menos é o que leio nos olhos das pessoas sejam lá quais forem os voos dos balões antes de perderem o ar e baixarem, mirrados, à terra.
Senhor, também estou cheia de sono. Muito gostaria de estar a dormir a sesta ao sol de Inverno. Para depois cigarrar formigando pela noite fora e com o fogo aos pés.
Os meus agradecidos e cantados respeitos.
Vim à procura das tuas lendas, Lizzie. Das tuas palavrinhas de veludo. Das chicotadas da ironia bem colocada. Das imagens poderosas, belas. Que me confortam e me situam. Percebes? Situam num espaço e num tempo que me agrada ao espírito.
Obrigada por te teres dado a conhecer.
Como se de repente voltasse a ler "(O)A Feiticeira de Oz" e me tivesses mostrada a estrada de tijolos amarelos...
Bjs
Clickit:
se esta casa te serve de paliativo nas dores de espírito, fico contente.
Quanto à ironia, normalmente dizem-me que é muito estrangeira, cirúrgica, bomba de neutrões, enfim, um dos meus maiores defeitos porque pode conter injustiças ou falsos juízos. Pois pode.
Talvez as pessoas não suportem os lugares vazios no conhecimento e, por isso, criem as lendas como formas de explicação. De qualquer forma, são sempre hinos à imaginação de que a verdadeira ciência, a racional, não deveria ter ciúmes nem muito menos fazer guerra.
A pluralidade engrandece e complementa. É por isso que existe a arte e a necessidade dela.
Acho eu.
Bjs
julgava ser ainda inverno mas à medida que andava apercebi-me de que no caminho novas flores tinham crescido. seria simplesmente a primavera que chegava e eu não sabia já a quantas andava? ainda duvidando olhei para trás. sim, o caminho corbrira-se de novas cores.
e reparei que havia já carreiros de formigas que saíam do chão...
e, porque não? porque não há-de também a primavera ser quando um homem quiser? ou, uma trabalhadora cigarra...
Senhor,
neste mundo tudo é possível menos algumas coisas que são muitas.
(por exemplo, até é possível responder-vos em feliz acto de cigarra enquanto estou numas conferências a apelar à sonolência e sem interesse nenhum mas no papel de formiga atenta. Diria mesmo que vou ganhar um Oscar por tal representação: admirai como estou concentrada a tomar notas através do teclado...)
Pela escuridão, por formigas, se tal fôr possível, embora com erros dadas as circunstâncias, ainda vou botar cores novas hoje.
Os meus respeitos e puxai uma cadeira que vos seja a jeito.
Senhora,
acredito em coincidências. cada vez mais: falasteis no comentário acima (às 15:01) na hipóse de vos ser atribuído um óscar. pois ficai sabendo que, lá em minha casa um vos tinha sido atribuído às 00:50.
acontece que o comentário estava em "standby". agora já o publiquei e podeis levar a estatueta.
os meus sinceros parabéns.
ó mai gód.
tenquiú, tenquiú véri mátche indide.
(aplausos enquanto pego na estatueta e a olho como se fosse um recém nascido já com cara de Jude Law,de Helmut Berger que o Brad Pitt dispenço.
Agora olho para o público. Gaguejo)
Aime so gláde tu bi ire. (respiro fundo) Aime so gratefule tu iú.
Dis aúórde ar to áll ove iú, coño.
(embargo na voz)
Excuse me if... but i must...is so kind of You, Sir August..i feel i don´t deserve it at all...and thinking that all of it...that poor girl, so virgin and pure, in the middle of the beach, (lágrimas) in the hairdresser... with her wonderfull husband giving her roses twice a day (pranto)
Oh My God, thank you
Obrigada, Portugal
Thank you, England
Gracías España
( e saio pela esquerda baixa seguida pela cauda do vestido emprestado pela casa Versage, especialmente para o planetário evento)
...
Agora fora de brincadeiras, obrigada Senhor, não só pelo prémio como sobretudo pelas razões que dais dele.
Pensei eu, quando fiz a tal coisa de publicar comentário "credo, o Augusto e demais devem pensar que sou completamente chanfrada da cabeça"
E, assim desta maneira genuinamente agradecida vos envio os meus respeitos.
Ps. Entre palestras enfadonhas e algumas com vozes monocórdicas e cheias de certezas, lá escrevi o texto das novas cores.
Agora tenho que ir para outras bandas, metade cigarra metade formiga e lá ficará para depois.
Também botar a prosa sem decoração, sem uma romãzinha que seja...
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