terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sermão de Stº António às pecadoras



De como grandes pecados se tornam menores à vista de outros maiores.

Por Lizzie Antónia Vieira
Irmãs de Lisboa, tomai tento no que vos digo que é meu tempo curto e inventado que foi o kinder surpresa e a coca-cola, está Meu Menino de mais peso em meu braço já cansado de tantos séculos de carrego e afago.


Irmãs Nnanna e Lizzie, outra que não a que vos escreve, tende compostura e modos que já dias são passados e não tendes escusa para nestes preparos vos apresentardes


Vós Irmã Emma, levantai-vos de vez que os alquimistas descobriram fabricação de ouro em forma de vitamina a que chamaram de Guronsan e desculpa não tendes para não laborar em V.ofício onde me chegam novas e velhas que sois de boa práctica.



E vós, que sois hidráulica, de bom siso, arribai, que como disse Lizzie a pecadora em prosa no folheto que em baixo deste se situa, haveis de ficar pior que v. mãe em arroubos e devaneios e haveis de perder tal ar de pastora das ovelhas tresmalhadas.



E agora vos digo que males maiores não haveis como vossos, que não quer meu Senhor que andem tristes as almas, que já basta o que por outros, que não vós, tem de sujidade sido feito.

Pecado é sorrir quando se verte o sangue do inocente;

pecado é inventar armas onde não têm elas morada para assim se roubar ouro negro de morte;

pecado é nestes tempos que agora correm manter crianças sem que letra seja por elas sabida, e dar-lhes trabalhos que depressa velhas as tornam;

pecado é a traficãncia das mesmas e mulheres a soldo da prisão dos vícios da carne;

pecado é fingir-se o que não se é para divertimento dos ouvintes e gláudio próprio;

pecado é dizer ao terceiro o que não foi dito pelo segundo;

pecado é sovar preta por ser preta em comboio subterrãneo sem que por isso se seja presente a juíz, como o acontecido nas barcelonesas terras;

pecado é maltratar as criaturas de Deus, como se de obra de arte se tratasse, como aquele dito artífice que deixou à vista de todos morrer cão de fome e sede;

pecado é mais tanta coisa em género, sítio, pessoa ou animal, para servir soberbas e vontades próprias, enganando com mansa conversa os incautos não prevenidos de autúcia.



E ainda tenho tempo, irmâs, para ir ali a tasca da concorrência, em lugar chamado de S.Vicente de Fora, comer mais uns pastelinhos e caldinho verde, acompanhado de vinho da pipa, que dá alento e força, santificado que é. Vinde pois mais eu, que me foi dito pelo referido padroeiro desta singular terra que também ali se cantam amores, coisa que faz andar o mundo e me põe sorriso na face, ou não fosse eu franciscano dado às maravilhas da natureza, que ser doutor já me cansa e mais gosto de ser popular e brejeiro.


Tirai essa cara de amuo, irmã Lizzie, esta que vos escreve, que já me cansam os males que escrevestes e aproveitai folias e saúdes em tempo de repouso que tendes guerra certa, pois assim está na vil natureza dos homens.


À Vossa!

17 comentários:

Emma Larbos disse...

Pois Irmã Lizzie Antónia Vieira, muito folgo de saber que já é permitido às mulheres pregar. Muito esperei eu esse dia, em que às mulheres concedesse o nosso Santo Papa iguais direitos e dignidades que aos varões, os quais, toda a gente sabe, nada seriam sem nosso concurso. Por mim vos digo que, logo que vos ouvi, me apressei a acabar de calçar os meus botins - que não estavam afáveis de ajustar ao meu pezinho, quiçá porque a bota encolheu ou o pé alargou com as longas caminhadas penitenciais que me impusestes no último sermão e que cumpri escrupulosamente. Pus uma capa pelos ombros e logo me espevitei quarto fora a laborar no meu ofício sem desculpas nenhumas.
Agora descansai vós, que me parece também estardes necessitada de umas cápsulas de Gurosan, pois que já confundis vossa personalidade de pregadora vieirense, que não é nem nunca será santa, com a do Santantoninho que carrega o Menino.

-pirata-vermelho- disse...

Confiteor deo omnipotenti et vobis fratres quia peccavi nimis cogitatione verbo opere et omissione mea culpa mea culpa mea maxima culpa ideo precor beatam mariam semper virginem omnes angelos et sanctos et vos fratres
orare pro me ad dominum deum nostrum.

Lizzie disse...

Mi Tan Grande Emma, sabei que em sonhos me apareceu o Santo Papa, num estranho linguajar germanico, encomendando-me sermão, não vendo bem ele de que natureza seria eu, que tanto estudo e traje saiado em volta, lhe turba a distinção de género. Fosse ele homem do mundo e muito se espantaria que às mulheres do século seja já dada a faculdade de ter pensamento e dele botar solta escritura

Lizzie disse...

Desculpai a interrupção, mas aqui prossigo até que toque a trompeta.
Mais me foi prometida célere beatificação, não por meu mérito mas por graça de Santatoninho, que tem queixume no braço e lusamente alvorou que é preciso distribuír o mal pelas aldeias.

Mais vos digo que meteis vosso pé em salgada água ou água sólida, que Santatonhinho não tem por mote a dor e não é par de moléstias. Disse-me ele pelas matinas, aparecendo no fundo da malga do Kellogs.

E mais sabei que Lizzies me apareceram várias quando vinha na minha montada, todas de alforge, à beira do carreiro, de polegar estendido e todas tiveram assento e nem sei qual agora vos escreve.

Fazei o favor de não chamar ainda o físico das mentes e se chamardes que seja jesuíta que sempre será do conhecimento do Vieira e gosta como eu de falar aos peixes.

Lizzie disse...

Pirata, sois vermelho por via das cardinalícias vestes?

Tal latim, irei aprende-lo aquando da beatificação, que por ora me sobra a ignorância de tal charla, só entendendo e de forma não clara o mea culpa, mea culpa,mea culpa e logo penso:
não tenho,não tenho,não tenho!

Por Deus aclarai-vos...

Anónimo disse...

Venham mais Lizzies!

Nunca são muitas.


Assim.



:)))

Lizzie disse...

e teríamos o milagre da multiplicação das loucuras!

Credo, estas já chegam, com as que já ficaram para trás e as que hão-de vir.
São piores que os cogumelos, aqueles que daqui a umas horas, saltarão em castelhana frigideira, comigo a pensar: crescei e multiplicai-vos, que já cá vai alentejano frutado para ajudar. Pode-se-lá deixar os cogumelos sózinhos...seria pecado.


Pena tenho de não levar no bolso as pecadoras. A esta hora já devem estar mais purificadas. Suponho eu...coitadinhas!

-pirata-vermelho- disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
-pirata-vermelho- disse...

Foi o meu bater c'a mão no peito dum cristão saber o pecado, pia lizzie, perante o texto com que m'exalteis... exltast... exaltasteis.
Voilá!

Emma Larbos disse...

Cara Lizzie, qualquer uma delas que neste momento vos habite: como sabeis, nossa pequena Hidra seria ora de grande valia, a trasladar como ninguém o latinório. Mas como a pobre deve já estar a arrumar o seu baú de marinheira, e decerto sem tempo para estas outras navegações, aqui vos deixo a tradução do -pirata-vermelho-, que o meu latim para tão pouco como isto ainda é bastante:

Confesso-me a Deus omnipotente e a vós, irmãos, porque pequei em pensamentos, palavras, obras e omissões, por minha culpa, minha máxima culpa, e rogo a Santa Maria sempre virgem e a todos os anjos e santos e a vós, irmãos, que rezem por mim ao Senhor Nosso Deus.

-pirata-vermelho- disse...

Enfatise-se o voto pelo começo, irmã - 'A ti me confesso deus omnipotente e a vós irmãos' etc etc mas! sem vírgunlas nem hesitações.

-pirata-vermelho- disse...

(Pecadoras...!)

-pirata-vermelho- disse...

Não estamos a tentar infiltrar a tal Hidra no corso, espero... iria ver-se desenculatrada antes mesmo de o navio levantar ferro. E o baú devassado, até às mais ínfimas miudezas e preciosidades!
Mas

como imagina a irmã (?) emma a trasladação do verso latino?
Tansliterado, traduzido ou transmutado em hieroglifo?

É uma questão de fé?

Anónimo disse...

...vai lá. e anima-te, minha Eli!

http://meinem-lied.blogspot.com/2007/10/i-shall-die-here.html




:)

nnann arella musashi disse...

Venerável Mestra Antónia-Lizzie-san do Menino Jesus-san,


venho por este meio informar-Vos que minha Ama, compungida por Vosso dedo acusador, resolveu retirar-se ao convento cristão, para remissão dos seus pecados e aprendizagem de melhores composturas e modos.
Diz que por algum tempo se punirá lavando, cardando, penteando, fiando e tecendo a lã dos agnus dei, em vade retro de toda a vil infame e prevaricadora mundaneidade, abstendo-se de se aproximar da adega e jejuando pelas hortas enfestoadas de hera, madressilva, glicínias e roseiras de Santa Teresinha.
Mais diz que não se esquecerá de Vós nas suas preces, a fim de haverdes bom e auspicioso caminho em Vossa jornada às terras dadonde nunca chegam bons ventos nem casamentos.

Obsequiosamente, com votos das melhores fortunas em Vossas empresas,

Vossa.

A Passage In Time disse...

É por estas e por outras que peco que nem uma doida. E venham os faisões, os vinhos, e as fivelas de oiro e os cintos de cetim. E se o Filipe II quiser vir, que venha.

nnannarella disse...

Expulsa daquele convento (como não poderia deixar de ser...), folgando em uníssono com a irmã Emma quanto às féminas predicações, penando por não ir no teu bolso para onde quer que fosse,pedindo desculpa pela Hidra que não viu a tempo o apelo tradutório, e não desmerecendo todos os pecados que elencas, venho lembrar o que o sábio cego, que não Homero, disse: o único pecado é não ser feliz (Jorge Luis Borges).



P.S.
Desculpa a aparente ausência da Hidra, que quando está em casa não sai do sofá, mas que lá me vai mandando que dizer, como desta feita, beijos, até ao teu bom regresso. :)