quinta-feira, 18 de outubro de 2007

retratos com caderno ao fundo


Lembro-me de te ter feito esta pergunta ainda não me passeavas tu pelos recantos do pensamento, de forma descontraída, a passares os dedos pela alma, a olhar o pó que o tempo nela depositou. Pó de terra inconforme como o é agora que me pedes que a pinte, a ela , à pergunta. Agora que já não é precisa voz falada para que te diga, ou me digas, que cores tem o teu rio desaguado em mim. Já te sei ler nos olhos os risos ou nas mãos os soluços quando viras as páginas nessa tua paisagem,


livro em branco onde escreves o que sempre foste em gestos imaginários, disfarçados, escondidos não vão os outros devassar-te os segredos tão ávidos que são de penetrar no que nunca hão-de perceber. Gostam de encontrar brechas, para denegrir o que não alcançam.
Mas lá temos o nosso canto em ária nocturna à torreira do sol


com sopranos, contraltos, barítonos, tenores e todas as outras tonalidades que ninguém se deu ao trabalho de classificar mas que nos alimentam a solidão dos dias parados de sonhos.




Longos são os caminhos que percorremos, tantos azuis condenados a perderem-se numa correria doida para sítios desconhecidos, ao acaso, que o futuro é uma pintura abstracta sem traço certo.
Mas fez-se o passado presente, assim num instante, sem reparo, e sem dar por isso olho para ti e já estou aninhada num calor protegido



esse calor, que são os teus sonhos de mim.

Pedes-me que te retrate e eu penso na tua beleza, na tua calma, naquele passeio onde recolhias pedrinhas que com delícia e espanto me mostravas, formas perfeitas como só o Mar pode conter naquele ventre aguado e imenso. E nesse teu sorriso infantil e distraído quase que penso, de forma leviana, e em tempo de nevoeiro nos dias, que nele deposito o meu futuro.





como se um filho, um quadro, uma viagem vadia, acabasse de nascer de mim.

( Alguns dos retratos escolhidos por Mi Mar, num dia, e em perfeito acaso, ao som do violoncelo de Benedetto Marcello, entre adagios e allegros. A poderosa amizade tem o dom de escolher os andamentos certos.)

16 comentários:

-pirata-vermelho- disse...

Mas...

porquê 'tudo'em inglês, em am'ricano;
ou isso?!

A. disse...

[...que o futuro é uma pintura abstracta sem traço certo.]






________
_____
_______________
___
_É.

St. J. disse...

cor de mim

grande abraço elizabeth.

és linda,



fica bem

Lizzie disse...

Ó Pirata, eu sou tão misturada que penso em três línguas. Por acaso estes, e mais uns tantos, têm mesmo que ser em inglês e depois em espanhol. Pode ser que um dia tenham que ser em português. E já foram transformados, isto são meros esboços feitos em grande velocidade nos cadernos, para se adequarem a um fim específico. Calhou.
São retratos de pessoas tal como elas se me desenham na alma. Talvez sejam o retrato mais fiel ao que não se pode, ou não se deve, pôr em traço e palavra. Ficam assim, guardados em grandes segredos abertos.

Lizzie disse...

Xantinho de mi corazón, cá vai abraço com força, com a mesma beleza dos cantos de uma tribo nómada do norte de África que agora ando a ouvir, repeat, repeat.
Conheces? Cantos do Norte perto do teu Sul. Fazem eco no deserto. Até devem chegar até ti, propagados pelo azul do teu mar.

Fica bem também.

Lizzie disse...

#
pois élis, sabe-se lá que tropelias tem um pincél desvairado... quanto tempo lhe duram as cerdas...qual a resistência da tela...ou a lembrança do artista...


É. capaz de ser assim

Emma Larbos disse...

Vejo olhos a espreitar, vejo sorrisos a nascer, pestanas a bater e cabelos a voar ao vento? Não. Vejo o caderninho da Lizzie, cheio de almas decalcadas e não sei se as vejo se as invento!
Oiço vozes a cantar,oiço as gargalhadas da noite, lua cheia ou céu estrelado? Não. Oiço os lápis da Lizzie, a gemer e a contar, de traço pronto e afoito e diz que é um retrato!

Anónimo disse...

Vejo e revejo!
Leio e releio!

É preciso ter um talento muito grande para atingir tal simplicidade!

Tão simples e tão bonito!

Já os guardei!

O último é sublime!

O primeiro quase fere!

Tanta paz!

Tanta vida!



Rui !

A. disse...

Da cor do lume...








Linda.É sim.

Efemerum disse...

Escrever assim é tocar com as pontas dos dedos que, estando em brasa, apenas aquecem sem queimar...

...ainda assim a fusão. a imensa combustão.


bravo Lizzie!

sim, belíssima és.

Anónimo disse...

____________________________

Deve estar com o Ego enorooome.

Você e a famosa Passarinho:))))

Que duas tão génios:)



Comovo-me!

nnannarella disse...

arghhh...
a inveja cheira-se a léguas!




beij'ar(te)s
e
beij'ar(te)s
deles

Lizzie disse...

Mi Emma,
Rui,
#,
Efemerum
e Meu Anjo (porque ao pirata e ao Xantinho já respondi):

vale a pena esta vossa imensa ternura que embala, sentimento maior que dá sentido a este arrepio de gratidão que me percorre o sorriso e o corpo como o aperto, de olhos fechados, de um abraço.
E é isso mesmo, fecho os olhos e sinto-vos, que já me sobra a voz.

Obrigada

Lizzie disse...

Agora nós, anónimo:
se não tivesse metido o Meu Querido Passarinho ao barulho nem sequer lhe respondia, mas assim sendo sempre lhe proponho um exercício matemático:

O meu ego é directamente proporcional à infelicidade da sua mágoa e os nossos génios directamente proporcionais à mesquinez da sua inveja.

Faça as contas!

Como (suspeito) que já lhe disse uma vez, tenho a sorte de ser visitada por pessoas grandes, aquelas que a amplitude de sentimentos vai muito, mas muito mais longe, que a distância entre entre os próprios pés e a cabeça.

Trate-se!

A. disse...

vénia...





...profundíssississississima e
enoooooooooorme vénia!

Lizzie disse...

E vamos de mãos daaaaaaadas até à boca de cennnnnna, viramo-nos uma para a outra e fazemos uma imeeeeeeensa vénia.

Porque nós os génios só nos cumprimentamos uns aos outrooooooos.

Enoooooorme abraço, Mi Cosita Passarinho