segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Madrinhas:




Não sei se se lembram de nós!

Somos aquelas que não conseguíamos sair da nossa mãe e a Lizzie tirou, assim a puxar, a puxar e depois bateu-nos para abrirmos a boca e até foi bom porque já estávamos com falta de ar. A nossa mãe tem epilepsia e quando lhe dão os ataques parece a mãe Lizzie e a tia C. numa fotografia que ela tem lá, deitadas no chão com as patas para o ar. Não sabemos se nas pessoas se chamam patas porque nos parece que os humanos são muito esquisitos com o que dizem, não são como nós que ladramos e pronto. Também não sabemos se elas tomam o comprimido todos os dias que a Lizzie dá à nossa mãe. Parece-nos que não.

A Lizzie disse à tia C. que não sabia como tínhamos sido feitas e a tia C. disse à Lizzie que já tinha idade para saber. Mas nós ficámos na mesma porque ainda somos pequeninas e se calhar essa sabedoria é coisa de gente velha.

A Lizzie fez uma mistura de leite gordo, gema de ovo e Nestum de arroz para nós mamarmos no biberão porque a nossa mãe não sabia. E leváva-nos para todo o lado numa caixinha ou num saco, porque cabíamos uma em cada mão e ainda sobrava . Andámos por viagens e restaurantes e ninguém deu por nada e ainda bem porque há pessoas que não tomam banho mas acham que nós é que somos porcas, mas nunca fomos porque a Lizzie nos limpava e limpa com toalhetes, nos pôe remédio assassino para as pugas e demais bichos que ainda cheiram pior que os perfumes dela, da tia C., da tia Mar, da tia L. e do tio J.

E um dia a Lizzie levou-nos para Espanha e enquanto foi comprar tabaco os tios deram-nos banho, o que foi horrível e mais pior foi aquela máquina de vento quente mais o pente com que a tia Mar nos penteou, porque pensa que toda a gente é modelo de vez enquando como ela. Mas depois ficámos a dormir enroladinhas em cima do peito deles e descobrimos que os humanos são esquisitos porque o tio J. tem quase tanto pelo no peito como nós e se não tosquiasse a cara também tinha assim umas barbas, e a Lizzie e as minhas tias não têm pelos no peito mas têm almofadas para a gente encostar a cabeça.
E também cada um pensa a sua coisa porque a Lizzie disse que só podíamos comer a nossa comida mas, às escondidas a tia C. dava-nos pollo como ela diz, porque a Lizzie cá diz frango, a tia Mar pão com manteiga, o tio J. peixe . A tia L. foi má porque não nos deu um dos seus 300 chocolates. A gente não percebe porque é que têm tantos nomes para a mesma coisa. É uma grande confusão.

Também têm conversas esquisitas e não gostam que a gente lhes coma os papéis brancos com umas coisas pretas que parecem as nossas esvinhas moídas. Que parvos. A Lizzie também não nos deixa roer os pincéis nem os lápis nem os sapatos que são coisas tão saborosas ao dente.

Mas no outro dia pegámos na carteira dela e numa saia e fomos enterrar nuns vasos que ela tem no jardim. Ela disse que o dinheiro não cresce das àrvores e a gente quis ver se era verdade e como a saia não tinha flores a gente quis ver se nasciam lá. Ficava mais bonita. Ela ficou muito zangada mas nós virámo-nos de barriga para o ar e abanámos o rabo e passou-lhe logo. Este nosso truque resulta sempre, eh, eh,eh. E depois à noite a Lizzie contou isto ao telefone à tia C. e a tia C. disse que nós somos tão espertas que devíamos ver a rua Sésamo.

Agora, madrinhas, brincamos muito no jardim só não podemos brincar com este

que se chama Rámon e é muito muito velho e por ser espanhol apanhado na rua nos dá bofetadas porque tem mau feitio e só gosta de estar no colo da Lizzie a falar para dentro e a fazer um barulho esquisito. Parece um motor avariado.

Se as madrinhas não se importarem peçam à Lizzie para não nos cortar os nossos pelos muito brancos e muito pretos, porque ela anda mortinha à espera que a gente faça 6 meses, e a gente não quer andar nua como a cara do tio J. parvo e se calhar ainda nos pôe espuma e aquela coisa chamada after-shave. A gente tem medo das maluquices dos humanos, porque nunca se sabe o que lhes passa pela cabeça, não são assim sempre meigos e dedicados como nós, que a gente lá vai ouvindo umas histórias, até na televisão.

Muitas lambidelas e abanos nossos.

(Não sobrou nada do almoço? Ela não vê...)

2 comentários:

nnannarella disse...

Por Deus! Soydes aquelas mesmas frágeis diminutas sobreviventes-resistentes, que um dia heis ido a um lugar oriental de comer, com Vossa Madrinha-Mor, Lizzie, também conhecida por Madonna del Parto, já noutras vidas pintada pelo mago Piero della Francesca ?!



Se soydes e mesmo se não o soydes, deixo-vos duas pernas de peru, desossadas e assadas no forno, uma para cada qual. E bifes de borrego, com pouco sal. E um grande alguidar d'água brotada directamente das nascentes do Gerês.

Os meus beijos nessas vossas carinhas larocas, mil festarolas nesses dorsos meigos.

Lizzie disse...

Pois madrinha Nnanna aqui nos tendes veras e agora se assim prosamos foi por investidura que em manuscrito da madona-mor-del-parto-Lizzie fizemos e assim nos entraram letras estranhas pelo estomago. Aqui nos tendes pois em branco e preto que diferença não faz porque é nossa essa cor.
Quando em local oriental nos haveis visto, não tinhamos nós esta beleza, que diz a madona que "a quem muito ama bonito lhe parece". E somos de mil atrevimentos acometidas, haverieis de ouvir estrondosos gritos que etroam da madona face a nossos desaires. Ainda hoje pelas matinas lhe demos furto a um chinelo.

Muito vos agradecemos, Senhora Madrinha, pelo repasto que assim já não nos dá apetite da oriental bonsai que antes tinha 1,10m e já vai em 1,40, tenra, a pedir dente afiado, se os tivéssemos, que por ora estamos desdentadas na muda.

Depois poderemos em paz repousar nossas brancas barbas nos pés da madona, como é nosso uso, enquanto ela risca cadernos ou folheia livros cheirosos.
Talvez até sonhemos com correrias nas terras de que falais.



E em nosso ladrar vos mandamos pulinhos e pulinhos deles.


p.s. a primeira de nós, que lá em cima aparece, é aquela que a madona pensava perene na vontade de existir e que bem vitaminada tomou folego que baste para o desvario.