quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Don Argimiro

Aviso
Este post pode conter palavras ou expressões susceptíveis de ferir a sensibilidade dos leitores.








Don Argimiro , dono de café e eloquente ópinion-meikére foi marcado por por dois acontecimentos na vida. Se do segundo não é correcto que fale, posso dizer do primeiro que nasceu em Albacete, terra considerada, antes de Badajoz, a mais feia de Espanha e sempre seguida do refrão en Albacete caga y vete (vete quer dizer vai-te embora).

É homem, tendo em conta os padrões espanhóis, bem educado e afável, cultivando a poética e antiga arte espanhola do piropo. Assim, esta dama





é uma catedral
uma águia sobrevoando um deserto
uma imperatriz que pisa qualquer raínha





enquanto eu substituo o mais amplo mar quando entro
sou um prado verde com o orvalho da madrugada
tenho esmeraldas e safiras no olhar


e então esta, a preferida, com dotes de fazer cair chávenas das mãos , pôr tremores nas rugosas cordas vocais de Argimiro, além de o fazer confundir queijo com fiambre








é botão de flor eterna
fonte da água mais pura
pena de cisne voando pelo céu
voz nascida do canto do coração
milagre da vida
prova do bom gosto de Deus
e etc...


Argimiro gosta de coleccionar, fotografias de famosos ,ou assim-assim, frequentadores rápidos do seu estabelecimento. Esta última senhora negou-lhe a exposição, mas já farta de tanta devoção, vociferou um coño, que sí desde que não se visse a cara:










E, lá está. Dissemos-lhes que a culpa foi dela...


Don Argimiro sempre diz que faria boa figura a botar opinião en la tele. Vai ensaiando comentários à vida pública , discursando, às vezes, com o seu Figo mais ou menos debaixo do braço. Como se pode ver, foi o nome muito bem escolhido. Tal e qual, o mesmo olhar, o tal que fez ao passar de Barcelona para Madrid:









Anda don Argimiro, furioso com a invasão chinesa, lojas apinhadas com mulheres a atender que são quase tão feias como as galegas, só que sem bigode. Ele aposta los huevos ( parte genital masculina aqui com o sentido português de tomates) que mesmo a dormir continuam com aquele sorriso idiota e vénia pescoçal constante.

A Galicia, por su parte transformou-se num putíclub, uma espécie de supermercado internacional de putonas, onde se ouvem todas as línguas em versão de alterne e se experimentam todas as idades. É como Ibiza para los marícones y Barcelona para los mamarrachos de los travestis. Don Argimiro é expoente máximo do ódio Madrid-Barcelona e vice-versa. Lisboa-Porto é brincadeira de crianças, posso garantir.

Vocifera, com coro, contra as novas escravaturas praticadas em Espanha. Contra a importação legal de mão de obra árabe, suponho que por delicadeza não refere a portuguesa, a trabalhar em condições infra-humanas com salários baixissímos. Puñetera democrácia!

E contra los cabrones de los curas e los obispos que andam pelos cantos, pelos jornais, pela televisão, a meter-se na vida de cada um. O tempo do Franco já passou.

E não lhe falem na União Europeia, daqueles hijosputas de los alemanes que no se quítan el culo de las sillas e querem transformar Espanha latina num país que não tem vocação para ser igual aos outros. Frio. Rigido. Querem até proíbir o porrón de barro, aquele objecto comunitário que mantém vinho e água fresca mesmo a 45 graus exteriores.








(Confesso que nunca consegui beber assim).

E la sangre se sube hasta los cuernos quando se fala, em forma de boato, que vão proíbir la siesta.
Tem ele fé na revolta espanhola. Um país que teve a guerra mais sangrenta da Europa. Lá irá para a rua don Argimiro, como foi à manisfestação contra a proibição do tabaco. Que deu uns certos frutos. Lá escreverá para os jornais. Lá telefonará para a televisão, até a practicar um dos desportos preferidos dos espanhóis: criticar a família real, mesmo quando, como é o caso dele, se é ferverosamente monárquico, a bem de um país com tantos lá dentro.

Da última vez disse-me que Doña Letízia ficaria melhor como apresentadora de televisão que era. Deveria o herdeiro ter casado com uma filha do português Balsemau, ao menos talvez pusesse um bocado de boa educação portuguesa, como a minha, na casa real. Que anda a imitar os gilipollas (parvos) ingleses. Ainda há-de chegar ao descalabro do Mónaco. A um chefe de família e país pede-se mais que dizer porqué no te callas, lá longe, aos indigenas. Lo feos qué son. La nariz de patata, ni tal ni cual Almodóvar, perdóneme usted, doña Antonia, se hablo de el, qué es usted de raríssima belleza, como ninguna otra mujer en la tierra esta.



Ay, Doña Élís, qué malo andamos nosotros y ustedes.
Me cago en la hostía, coño.




Pero mírando a sus ojos, vaya, mi corazón...


Gracías, Argimiro, no hay en Madrid, chocolate caliente sín graza ni azucar como lo suyo...

Suerte la mía de tener al redor tantas mujeres tan guapas



Vále

7 comentários:

Haddock disse...

Lizzie, o argimiro deve estar encantado com esta dedicácia postal!! e desta vez nem se pode queixar da densa sombra da doña pilar, por supuesto!!
o seu porte aristocrático, que não desmente as origens albacetais, e que é reforçado pelo figo debaixo do sovaco, faz adivinhar o sua elegância poética no piropo. selectivo, pois está claro!!
a mão cheia de preconceitos assumidos revela-nos, para além de tudo o mais, uma personalidade forte e cativante, que o tornaria num excepcional presidente da junta de freguesia local.
houvesse autarcas como o argimiro merceeiro e sairíamos do atoleiro!

bravos!!

e vénia...

nnannarella disse...

Buenos dias, Corazón. Não vou demorar muito, porque acabei de entornar a minha taça de café ao dar de caras com a preferida do Argimiro. E ao levantar-me, tentando escapar ao visco negro das borras, pisei o rabo da Gaia e tropecei na larga superfície da Camila, o que fez com que batesse com a cabeça na camilha e agora esteja de galo, além de que já estraguei dois cigarros, acendendo-os pelo filtro. Posto isto, é melhor ir apanhar ar e voltar.Colecções e colecções deles! Até logo.

Anónimo disse...

não falta ali a fotografia da segunda?





mesmo de costas?

Emma Larbos disse...

Que guapo, Don Argimiro! E que bem que fica no chão ladrilhado de preto e branco, qual xadrez antigo! Merece uma vénia sobretudo pela qualidade poética dos piropos! Que diferença dos que ouvimos por cá, grosseirões e quase sempre à tangente de um estaleiro! Piropos assim mereciam antologia publicada!
Mas do que mais gosto mesmo é do Figo!

Lizzie disse...

Capitão:
pois que também nos faz lembrar um presidente da junta de lá, porque cá não estamos a ver nenhum que andasse assim, carinhosamente de figo na axila, nem dissesse aos clientes que o bolo não está estragado mas é de ontem e defendesse "un tío" que podia andar em Barcelona mas anda ali em Madrid. É atacado pelas boas morais vaticanas, mas Argimiro de vozeirão em riste, diz que não admite faltas de respeito aos seus clientes sejam eles homens, mulheres, marícons, lesbianas ou travestis. Don Argimiro separa as categorias.É um ser classificador.
Mas não permitiu na vitrine propaganda apoiada pelo Vaticano e em vez da Maddie lá botou fotografia de 3 criãncias espanholas desaparecidas na mesma altura mas sem tamanha cobertura mediática. Ninguém fala delas.
Até a "Catedral" o mandar calar mostrava a toda a gente a fotografia no jornal com direito a entrevista. Todas as mulheres que frequentam o estabelecimento transbordam beleza e inteligência.
Tendes vós razão, é personalidade cativante, coño.

Continência

Lizzie disse...

Meu Anjo desastrado, se não fosse temer pela tua integridade física, além da da Camila e da Gaia, pedia-lhe fotografia autografada.
Vou-lhe traduzir os teus desastres e daí talvez não, não fique ela com complexos de provocar mais Maremotos ainda.
Quando fores a conduzir, olha sempre em frente, não vás dar com ela em outdoors. Nas farmácias é mal menor, sempre te podem dar a cheirar uns sais para o desmaio.




Mi Emma, é de facto elegante a arte do piropo. Penso que já houve quem a estudasse em livro. Se bem me lembro teve origem e culto lá para as bandas de Sevilha. Não é invulgar andar por Madrid e ouvi-los, seja qual fôr a idade e beleza clássica, ou não, da destinatária.
Uma vez ia eu pela rua e um homem das obras disse que me embalaria como se eu fosse uma menina até ao fim dos seus dias. Que diferença em Portugal...
Também gosto do Figo. Não tem as pernas tão fortes mas sai do cestinho para cumprimentar quem lhe faz festas. Só não suporta brasileiros. Não sei se será da influência futebolistica. Como se portará com madeirenses?

Lizzie disse...

Meu Anjo, já traduzi e fui ouvindo calorosas gargalhadas. Até perguntou se queres a face ou a coroa, com assinatura talvez lá para o fim de Janeiro.

Risos e risos