segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Só cinco?

Ai que aflição de escolha...
mas pronto e assim de repente, começamos pela dança:





Um americano em Paris
Gene Kelly, melhor sempre a solo que em Pas-de-deux, teve a sina de ser considerado o segundo em tudo em favor de outros, dos primeiros. Foi bailarino, coreógrafo, cantor, realizador e actor e, até este filme foi considerado o segundo a seguir à Serenata à chuva. Apetece-me ser contra a corrente das classificações. Apetece-me recordar, em dança, a obra de Toulouse-Lautrec. Assim:






E, Gene descobriu esta donzela em Paris, Leslie Caron, bailarina clássica e convidou-a para contracenar com ele. Nunca foi boa acriz, dizia-se dela que parecia estar sempre em ensaio ou com estratégia de palco, tensa e demasiado concentrada. Chamaram-lhe velha aos vinte cinco anos. Os gangsters do cinema só as achavam novas até aos vinte.






Agora Royal Wedding, com o considerado primo inter pares, Fred Astaire, e também com Jane Powell, coitadinha, também merece referência.






Dele se dizia que dançava por criação espontânea, sem pensar, tal era a fluidez. Mas chegava a ensaiar as coreografias durante seis meses, perseguia a perfeição absoluta. Mau actor, com meia dúzia de expressões, é panaceia a que recorro em dias vazios ou pesados. O maior aristocrata, nem interessa se usava o impecável smoking após a grande crise económica. Quem não gosta de iluminar os olhos em repouso de realidades, ou de virar o mundo ao contrário até conseguir dançar no tecto? Quase acredito que conseguisse.






White Nights. Começo a ficar séria, a pôr os pés no chão, porque aqui se trata de drama intenso, político e pessoal. Junta dois bailarinos inclassificáveis: Mikhail Baryshnicv e Gregory Hines

.



Se do primeiro é desnecessário falar, do segundo pode dizer-se que foi o primor da tap dance, coisa que se tornou quase no ex-libris da dança "popular" americana. Misturou-o com técnica de Ballet, deu-lhe dignidade extra Broadway. E é um filme onde se pode ver, sem vendas, o trabalho das repetições sem fim, mesmo para quem aparentemente, já não precisa de dor no parto.


Saindo da dança, chega o monumento onde se celebram génios, beleza, arte,e loucura: Ludwig da Baviera, de Visconti , assim em grande e junto, que outro não vejo que conseguisse engendrar tal obra.





Ele á análise do Rei Louco, construtor de palácios e patrocinador de Wagner, são os decórs, são os interpretes essenciais na beleza, ou não se chamassem Helmut Berger, Romy Schneider e Silvana Mangano, entre outros.








Vi-o, versão longa, pela primeira vez num cinema, daqueles abertos 24 horas e em que se entra em qualquer altura da apresentação, e fiquei uma noite inteira, com a sensação de que não tinha sequer nascido.



E chega o último, Spellbound, Casa Encantada ou Encadenados (adoro assim em espanhol) do Mestre Alfred Hitchcock,







porque tem o realizador, porque tem a Ingrid Bergman e o Gregory Peck, porque tem os cenários oníricos do Dali, que quem só gosto ali





e se mais não houvesse, porque, visto com os olhos contemporãneos é duma ingenuidade comovedora, tem uma história de amor que serra as infelicidades de ambas as partes, não mete medo a ninguém e tem um final feliz. E não me esqueço da variedade e subtileza dos cinzentos.



Para que a protecção civil não declare o alerta vermelho aqui mando para:
Emma Larbos
Around These Words
Fidelíssima Musashi
Madame Maigret
Capitão Haddock
e não refilem que a culpa não foi minha...

9 comentários:

Anónimo disse...

Tão espedial e diferente como o blog de Emma Larbos onde um coração em que confiou me guiou, começo por repetir o que disse à Emma e dizer que por milagre de cinema hoje deixo pégada.É confortante ler textos e comentários que vão para além das pieguices de doçuras hipercaloricas com que embatemos quase esempre. E toma lá e dá cá.Aquilo é que são correntes! Ou de coisas de que não se percebe nada, só talvez os proprios umbigos que os escrevem.Gosto da profundidade bem hunorada do teu espaço e sei que um dia destes tb vou ter o prazer de vos conhecer pessoalmente.Dos belíssimos filmes todos eles que escolheste, elejo o Hitchcock, pois como a nossa amiga comum, sou fã dele desde que me conheço.Até breve.


lana turner (z.)

Anónimo disse...

Li...e fiquei num choro pegado.

E pouco, muito pouco, pouco durmo, mas também sei que passa.




São asas d´anjo, as tuas, miLizzie.

Grande e forte abraço.

Emma Larbos disse...

A sustentável leveza de Gene Kelly e de Fred Astaire fizeram-me sorrir. Só tu, Lizzie, e outras almas bailarinas, para te lembrares de filmes que nos encantavam a nós, que nada sabemos de dança, mas que deixávamos os olhos bailar agarrados às pernas e aos pés a preto e branco enquanto lá fora, na matinée de domingo, chovia sobre o mundo real...
Todos os outros são grandes filmes (não conheço o 3º) e por isso merecem de pleno direito figurar num topo dos cinco. Mas estes dois merecem lugar de honra. Então e os prometidos Almodovares?

nnannarella disse...

Pois foi, Lizzie; deste lugar aos anciãos, em tão apertado número de escolhas. E lá se ficou o belo Almodóvar para outras "d(e)iscorrências".Eu bem percebo. (A Musashi também acabou por preterir O Império dos Sentidos, em vista de tamanhas outras fitas singulares.) No sábado, com Tanta Coisa, esqueci-me de vos falar na Lana. Tempo há e ela não levará a mal, sabendo do que a casa gasta.

Das tuas escolhas, Hitchcock e Visconti são os meus prediletíssimos, como "sabedes". Os outros não conheço, mas sim, a Leslie Caron, que, esquecida num fundo de garrafa indústrica hollywodesca, bem merece a tua homenagem, que até me aperta aqui, o core, por nunca mais me ter lembrado dela.

O Fred Astaire fez delícias da minha infância e ceda adolescência. Além disso, foram os filmes dele que evitaram o suicídio de Amália. Por isso, é ele que ponho no Ouro Sobre Azul dos teus dilectos, ainda que estranhe um pouco não teres falado n' Os Sapatinhos Vermelhos, incontornável das minhas histórias, pese embora o detestado unhappy end. Obrigada por não me teres deixado à má-sorte, quebrando a correnteza do divertissement ... e olha... polvos e polvos deles, à lagareiro e assim e assado e etc...:)

Lizzie disse...

Muito obrigada misteriosa Lana e sê bem vinda a esta casa. Fico à espera que Meu Anjo levante o pano.

Lizzie disse...

Anónimo:
Se algumas asas tenho, foram-me crescendo com o passar dos anos, às vezes de erro em erro.Cai-levanta,cai-levanta, tentando não ficar com os joelhos no chão. Como a Leslie Caron não ficou, mesmo quando Hollywood disse que o prazo de validade de uma bailarina vai dos 20 aos 24.Nem sei de que signo era a criatura.
E tudo passa, "qué será, será..." como cantava a Doris Day.
Por muitas dores crónicas que se tenham , o futuro também precisa de saber que nele temos opinião. A bem dos analgésicos.

Grande abraço, com lágrimas doces.

Lizzie disse...

Mi Emma, quão satisfeita fiquei de saber que também és de encantos pelos "alienantes". A riqueza deles está mesmo aí, em não ser preciso perceber de dança, o que significa que a dança é magia que chega a todos. Tenho a alma a sorrir.




Meu Anjo, lá levei responso por não ter posto o Almodovar ou outro espanhol mas lá expliquei que não sou adida cultural de Castela. Vou pagar a dívida.

Sabia que a Amália tinha uma autêntica devoção pelo Fred às Tiras, mas não o sabia com tal poder anti-depressivo. tenho a alma a sorrir outra vez.
Poderia ter escolhido qualquer um dele, mas este, por causa da dança com o candeeiro, tem significado especial na minha memória.
Não botei o Red Shoes por ser demasiado paradigmático de uma série de questões ligadas à escola russa de dança que, como pessoa, me são antipáticas. Qualquer dia falo nisso. Não é por acaso que tem o final infeliz. de qualquer forma, o Gene Kelly "obrigou" os produtores do Americano em Paris a ver o Red Shoes e foi assim que autorizaram a introdução do Ballet e da Leslie Caron no filme. Vê lá, Meu Anjo, as voltas que a vida dá.


E pronto, Freds e Freds deles, lá em cima, no tecto.

Haddock disse...

"não refilem"...
mas desde quando nos tomais por prisioneiros mansinhos, lizzie??
haveremos de nos vingar, qual conde!!!
há quanto tempo não viamos estes dançarinos!!! que elegância... entristecemos sempre que olhamos para o nosso pé de chumbo, acreditais?
do fred guardamos a mesma opinião: fraquito como actor. fizeste-nos recordar o "ginger and fred", do fellini...
o white nights também vimos, tristes, a olhar para o nosso pezinho...
e a romy shneider... estivemos para pendurar "a piscina" para ver se lavávamos o estigma da sissi.
finalmente, excelente escolha, a do hitchcock, (não) abstraindo da nórdica presença...

vénia...

Lizzie disse...

Capitão, podeis ser de pés arrastados, mas não fiqueis triste que na tecla sois bem leve e prazenteiro que muito gosto nos dá ver vossa dança.
E mais vos digo que somos de acordo contra o estigma Sissi, mas nem piscina a salvará de tal sorte.

Ainda bem que parentesiaste tal não relativo à nórdica, pois em minha presença é uso que honra lhe seja prestada.

E daqui vos faço elegante e sapateada continência.