terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Coño, mejor así?





Pode ser-se genial nas escolhas. No saber olhar chamado descoberta.


E Pedro Almodovar é mestre em escorregar o olhar para o que merece ser visto e sentido.

Esta senhora que aqui vos trago é a Antonia San Juan de sua graça. Representou uma das personagens mais envolventes, sábias e conseguidas criadas por Almodovar, a Agrado.


Por enquanto vou dizendo que nasceu nas Canárias e aos dezanove anos foi de malas, bagagens e aventuras para Madrid. Actuou em muitos filmes e peças até aos trinta anos, idade negra essa que a fez comer o pão que vários diabos amassaram.

Fez o pino, rebolou-se, sacudiu misérias e tristezas e montou um espectáculo itenerante por discotecas, pubs, bares, teatros, enfim, onde tivesse espaço para estender o talento.






Sorte a minha de a ter visto, nos intervalos do meu namoro oftálmico com a Carmen Maura e de Grants na mão, nessa peça vadia chamada Treze Mujeres. Sózinha, de vestido preto e cadeira, desempenha treze tipos de mulheres actuais, variando entre a ternura e o sarcasmo mais acutilante. Lá estava a top model, a apresentadora de televisão, a feminista desvairada, a dona de casa atraiçoada pelo marido, a virgem, a puta. Durante uma hora e tal, secam-se os olhos de espanto, inundam-se de lágrimas, acentua-se a ruga do riso, mas sobretudo pensa-se. É o que ela quer, que se pense a rir, que se olhe em volta e se acorde.







Alma gémea nos propósitos, Almodovar descubriu-a exactamente aí. Ele que tem fervor por mulheres e desconfiança nos homens. Lá saberá...aquela alma da Mancha, tão cheia de segredos femininos calados, só mesmo o vento os leva para longe da aridez.

Convidou-a para encarnar a Agrado, no Todo Sobre Mi Madre, que, a mim, assim em espanhol soa melhor. Filme de homenagens à história do cinema, com amplas vénias a actrizes e em se retratam também tipos de mulheres, com a solidariedade que têm entre si face a problemas, ao contrário dos homens, segundo ele diz.


A Agrado, é uma personagem baseada numa pessoa real , um travesti que foi camionista vai para Paris e volta mulher e puta a exercer funções na Zona de Barcelona. Ao longo do filme vamos descobrindo o conhecimento profundo que aquela mulher sofrida tem do funcionamento da alma humana. Tudo não é mais do que as coisas que já viu. Compreende e dá conselhos, chama-se Agrado porque gosta de agradar e tornar a vida fácil a los demás. Hilariante e ternurenta. Vai procurar emprego decente vestida de Chanel falso, e vejo, vezes sem conta, a cena da espera do elevador, antecedida da conversa na sala da Manuela. Festival de actrizes, louco Almodovar em pleno.

Até a pronúncia lhe fica bem e o kitsch, tão nocturnamente espanhol, assenta-lhe que nem uma luva.






Não ficou a dormir à sombra da fama. Criou uma companhia de teatro, a sua maior paixão, escreve textos, realizou curtas metragens e continua de olhar atento virado para o mundo, de olhos em riste para os subterrâneos das aparências. Ninguém a vê com protagonismos, nem vida pessoal devassada nas páginas da Hola, nem espaventos no "Sabor a tí", programa da tv onde pavões pagam qualquer preço para que o público teça romances acerca deles. Quer ser cronista de vidas e sociedades, como os antigos, ao longo dos séculos.

Asas para voar não lhe faltam, assim não nos falte a capacidade para nos rirmos de nós.




12 comentários:

Lizzie disse...

Y qué vosotras no me molestem más con lo del cine español. Me deram ganas por lo de Antonia.
A trabajar, nenas, qué hacen de viaje por los blogues estes?
A la escena, a las classes, a las repeticiones. Vete, vete con



besos, cariños míos!

Ay lo ricas qué son...

Lizzie disse...

Errata Agustin Almodovar:
onde, os verbos acabam em M devem acabar em N.

Ai meu Deus que estou cada vez pior, isto deve ser falta de sono!

Emma Larbos disse...

Ah, então cá está o Almodóvar. É incrível como a enorme galeria de travestis almodovarianos ainda não esgotou a personagem. Como o Pedro continua a conseguir recriá-la...

Haddock disse...

lizzie, a vossa ascendência olé hablou más fuerte, oja-se!!
como o nosso espanhol é fraquito, ao ponto de já termos perguntado onde fica a secção de criâncias e se podíamos experimentar o companheirio do sapato, é melhor expressarmo-nos na língua mátria, qual natália. (temos de perder esta possidónia mania do "qual"...)

esta mulher é um portento!!! chegámos mesmo a duvidá-la homem, tal a impressão que nos causou como "agrado", pois que a víamos pela primeira vez.
ainda lhe ouvimos a voz...
e que bela aqui aparece!

conclusão: mesmo sob coacção, conseguides excelentes motivos postais, lizzie.

vénia...

Lizzie disse...

Mi Emma, se há virtude que o Almodovar tem é trazer tantas personagens para os filmes quantas pessoas reais existem. E, em Madrid é muito fácil encontrá-las ao contrário de Barcelona, onde tudo é mais macambúzio e dado ao sério.
Foi através da Antonia que tomei conhecimento de uma escritora chilena que estou a adorar, Marcela Serrano. Não sei se está traduzida em português.
Tenho a impressão que ainda não acabei o ciclo Almodovar. Tem membros na equipa fascinantes.Sábios e simples.




Antes de mais uma correcção: o espectáculo de que falo chama-se Otras Mujeres e não Treze Mujeres.



Capitão, muito folgo que gosteis da Agrado. E talvez tenhais oportunidade de a ver ao vivo e a cores em Lisboa. Neste momento quem faz a tal peça é um homem mas ela garantiu-me que, se vier cá, será ela em pessoa.
E quanto a beleza, voltamos aos poderes da maquilhagem. É mais autêntica na última fotografia do postal. Toda a gente a acha feia, eu acho que é conversa relativa.O que acho espantoso é sentar-se num cafézinho pequeno a tomar a sua "americana", a ler, sem os delírios de estrela hipermaquilhada, como é tão típico de algumas divas de rés-do-chão espanholas. Há coisas que são universais.
E sabei que não foi bem coacção, foi más bien brincadeira.Apesar de sermos grandes gostamos de nos portar como NIÑAS (criãncias).

Continência

Anónimo disse...

sem ser puta nem travesti

conheço uma AGRADO assim!

com asas!

de pés no chão!



beijos



P.

Anónimo disse...

________________________________
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________________________________




espaço para


as.









ordinárias.



que barbaridade !:((((((((

Lizzie disse...

P:
Também, lá e cá, conheço algumas Agrados. Com cor e sabedoria.
Felizmente.
Outra personagem almodovariana que me faz lembrar a Agrado, e vice-versa, é a Pepa (Carmen Maura) nas "Mulheres á beira de um ataque de nervos": uma certa sensatez no meio do caos. Só pela parte em que ela faz o anúncio do detergente Ecce Omo vale a pena, além de todas as outras, claro.

Beijinhos

A. disse...

Eli.,

...e se fosses perder muito tempo com quem não sabes, o que é que ias dizer a quem Tu sabes?

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...haja paciência e muito
pouco tempo a perder.




tantos beijos mi Eli.

_____________________________.

A. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Emma Larbos disse...

Marcela Serrano, Lizzie?? É claro que está traduzida. Gosto muito dela: O Refúgio da Solidão e Tão Amigas que nós Somos. Grandes romances. Com o seu quê de Isabel Allende, sobretudo o segundo, deve ser dos ares chilenos.

Emma Larbos disse...

Acabo de ver que me enganei num dos títulos da Marcela. É Refúgio das Mulheres Tristes. Fundi-o com um outro dela que se chama Nossa Senhora da Solidão.