segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Nuestra gordita, Lola





Quem entrar na uterina sala dela em Madrid, dará com esta fotografia em tamanho de onda gigante. Lola, nome que tanto adoptou que já fazemos esforço em nos lembrarmos do nativo, é mulher de assumidas carnes, vastas como a alma virada para as lutas com que nasceu. Nuestra Gordita, em pequena tinha o sonho de ser bailarina magra e elástica mas a natureza negou-lho







e ela transformou-o em acção e dedicou-se a promove-las, produzindo espectáculos e outras lides assaz espectaculares. Sem mágoas e de coração aberto que, diz ela, nada compensa várias refeições bem regadas com interlúdios de barras de chocolate. E riso claro auto-irónico pronto. Santa Guadalupe até lhe deu uma filha que, sem pressão alguma, se fez bailarina virada ao Ballet Clássico.
É mulher de viagens sempre com retorno a Madrid, onde o chão latino, como diz, lhe suporta o peso.
Foi figura destacada na discoteca mais in da movida, Alaska, palco dos membros impulsionadores das várias artes, Almodovar, Carmen Maura e arredores sem fim, recolhendo desabafos e distribuindo conselhos, com a sensibilidade, sensatez e espírito prático que maternalmente a caracterizam.

Acumulou a produção de moda com a da dança, defendendo em ambas a perda de exclusividade de mundos fechados.

E tornou-se actuante, panfletária e revolta , e duvido que haja quem a cale.

Farta de ver pais e mães a obrigarem os seus rebentos a tomarem hormonas, a levarem as imberbes criaturas a salas de operações plásticas, a fazê-las chegar à anorexia, estado de saúde minimalista com a morte à espreita, tudo para que os dotes femininos se mantivessem ante menstruais, organizou uma secção fotográfica com bailarinas suas conhecidas e amigas













levando-as nestes preparos a um artigo numa revista da especialidade e à televisão, acompanhadas da suas fisionomias normais, de todos os dias, sem aprumo, sem as técnicas fotográficas do preto e branco em papel duro.
Assim deu a perceber que tudo o que parece está muito longe de ser o que é.


Mais ouviu as queixas da dificuldade em comprar roupa, aquela que, sobretudo nas mulheres, tem tendência a encolher com a idade. E assim lançou desafios a estilistas espanhóis e não só, com a recomendação de não se esquecerem da dilatação abdominal dos homens,








ou seja, não são as pessoas que têm que se moldar à roupa mas a roupa que é que que tem de se adequar às pessoas. A tendência, com o sedentarismo, genéticas à parte, é o reino do XL, bota ela esta sentença enquanto lhe tentamos tirar o Cabury ou o naco de presunto das mãos, olha a diabetes. Palavras vâs.

Gosta da moda sem a ditadura da imagem imposta pelas grandes marcas. Cada um deve vestir-se consoante o que lhe cai bem na pele, deve utilizar a roupa como factor de identificação com o grupo a que pertence, o que é quase inevitável, convenhamos. Talvez o Fernando Pessoa se ainda fosse vivo, não gostásse de ser vestido pelo Jean Paul Gaultier, sei lá, se calhar...porque também o assemelhado ao kitsch tem as suas épocas consoante os valores que se querem transmitir.






Cá para nós e para ela, tanto nos fazia, desde que a isso não fosse obrigado.



Recentemente conseguiu, com o seu grupo, fazer proíbir em Espanha passagens de modelos em que estes não tenham o mínimo de peso e massa corporal exigidos pelo normal desenvolvimento do corpo. E tem organizado desfiles para pessoas de todas as idades e físicos que nem os entrevados octogenários andam nús na via pública. São até um desafio, os corpos
contemporãneamente incorrectos, para o engenho dos estilistas.

Aqui para nós, até tenho medo que Lola emagreça. Sei lá se perderá aquele colo onde gostamos de deitar a cabeça, de nos sentirmos protegidas como crianças de tantos anos, ou se perderá a ressonãncia da gargalhada aberta.
Desde que não lhe faça mal, queremos Lola como é, amputada de si é que não, que é corpo com capacidade para guardar uma infinidade de almas dentro de si.



16 comentários:

A. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A. disse...

[Assim deu a perceber que tudo o que parece está muito longe de ser o que é.]



em cheio.ponto.

...acho que gosto da Lola. e muito.



um beijo grande.minha Eli.
:)

nnann arella musashi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
nnann arella musashi disse...

Senhora de Lizzie-san,

na verdade, trata-se de um esplêndido exemplar de tsunami, esse, à entrada do quartel da Senhora de Lola-san. Cuja, ela própria, irrompe por Vossa pena, tal onda gigante onde não falta nem a impetuosidade nem a inefabilidade da Grande Onda de Kanagawa, que Mestre Hokusai eternizou na tela.
Qualidades que qualquer samurai deseja conquistar.
À Grande Guerreira e a Vós, que tão bem A retratastes, presto as minhas homenagens, com profundas léguas de reverências.

Vossa

Madame Maigret disse...

Chére madame Lizzí, tant de merci pela sua atenção em responder-me em francês tão pitoresque, na magnifique promenade de Boston.Infelizmente não foi na Alsace que estive, foi em S.pedro do Sul.Muitas camionetes de reformadose muito alarido.Não teve muito encanto.Il n'y a pas de belle sans senon...Quant à Madame Lolá, que Dieu a guarde por cá por muitas décadas ainda, parce que pelo caminer da carruage ainda hà longo caminho a percorrer jusqu'à que les personnes deixem de dar tanto credite aos abominaveis reclames das ilusões!Bonne journée,madame, e mes amis saluts.

Lizzie disse...

#:
E ela gosta muito de ti. Como não é capaz de dizer o teu apelido, ficaste a ser para ela "la Muerta". Não foi preciso dizermos-lhe que não é papel fácil. E sem "abrir los ojos, estaba el água caliente?"
E,às vezes,brigamos para deitar a cabeça, porque uma já lá esteve, agora sou eu.
É bom. Ampara.

Um grande beijo também para ti, la muerta, eh, eh, eh.

Lizzie disse...

Nipónica Senhora:
Pois que me parece que ela gostaria de juntar as suas armas às vossas.
Se gostais de um pacote de 250gr de manteiga a forrar um pedacinho de pão, tereis nela companhia.
E grossas fatias de queijo manchego, daquele picante. Como podemos nós achar graça ao light sem sabor nenhum.
Vêde a coincidência que já a temos chamado de tsunami, tal é a força com que irrompe pelas paisagens privadas e públicas.

Perante vós me reverencio.

Lizzie disse...

Madame, tanta joie por estar aqui, mes saluts aussi pour vous.

Lamento que a viagem não tenha sido do seu inteiro agrado.
Já falta pouco tempo para também eu ir de viagem, que tenho les vaccacions à espreita.
Também peço a todos os santinhos que Lola por cá fique muitos anos, apesar de já passar dos cinquenta, mas de espírito jovem para desfazer ilusões. Felizmente até agora é pessoa com saúde de ferro.
Mas cuidado com o vosso Jules que os homens muito por ela se apaixonam. Então quando lhe dá para a extravagância e o salero flamencos...não há tablao que resista. Só vendo, é o que lhe digo.

Anónimo disse...

Posso guardar a primeira e a terceira?

Na terceira há pouca ilusão!

:)Tirando o cabelo!

Sempre fui obrigada a fazer dietas!

Adoro comer!

Que inveja!

Grande Lola!




Beijos


P.

Anónimo disse...

_________________________________
_________________________________



_________________________________


que barbaridade !!!!


nem PESSOA respeita !!!!!!!!!

vazia.como sempre :(((((((

Lizzie disse...

P.:
Faz a fineza de guardar, pois claro.
Há ilusão há, ai não que não há...
A propósito, estão-me a apetecer umas castanhas assadas ou cozidas à beira da lareira, assim a modos que acompanhadas dumas fatias do queijo da Lola que é ligeiramente parecido com o da ilha, picante, picante, mais uns cogumelos salteados a molhar o pãozinho no molho...
Liga tudo com o nevoeiro.
Ai que fome! Ainda ela nos chama enjoadas.
E vocês podem comer que gastam tudo,ou não? Mais que eu agora.


Beijinhos.

Emma Larbos disse...

Lizzie, felizmente que já superei a fase do sofrimento dietético! Senão estava agora a maldizer a tua crueldade. Com que então pãozinho com manteiga, e queijinho e mais não sei quê? Ai, que me voltam as nostalgias!
É preciso coragem para gostar mais da tablete de Cadbury do que das outras coisas de que todas as mulheres gostam. Por isso, a corajosa Lola merece laudas. Não é fácil não querer ser magra.

Lizzie disse...

Mi Emma, a crueldade, que foi brincadeira para a P., também se aplica a mim que já não tenho idade nem exercício para comer sempre aquilo que me apetece e, sobretudo porque, de facto não tenho a coragem da Lola, que estando num mundo magro, gosta de si como a natureza a fez.Sente-se bem assim.
A grande virtude dela é perceber que cada um deve ser e vestir como se sente bem. O que não tolera,nem nós, é a ditadura da andrógenia que leva tanta gente à morte e à loucura, patrocinada pelos próprios pais.Sonham com a celebridade das top-models. Coisas de pôr os cabelos em pé.

São quase horas de almoço...

Madame Maigret disse...

Ma chére Lizzí, o comissário efectivement não está acima de toda a suspeita no que concerne a apreciar os bustos e os negligés que o Criador lhe põe à frente lá naqueles casos dele. Et pourtant, je pense que ele não sabe rien de rien do que é apaixonar-se.
Quant au reste... ma petite, sou óptima cozinheira, j'aime bien manger e o Jules só me fica à frente no que concerne a alcóois.Un bijou , ma petite.Bonnes vacances!

Lizzie disse...

Cher Madame:
Adoraria estar à mesa consigo em amena conversa apreciando-lhe os dotes culinários. Imagino-a cozinheira com o requinte que tem toda a simplicidade. Seria um prazer.
Espero ainda lê-la na próxima semana, pois que as vacances só começarão depois dela.
Durante dois ou três dias vou a um país onde se fala a sua língua. Espero não fazer má figura, pois que parece que, apesar das deficiências, a falo melhor do que escrevo, o que, tratando-se de mim como já concerteza reparou, não é de todo difícil.

Com toda a amitiê

A. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.