quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Soberbo exagero








Vem esta prosa a propósito da Louise Brooks, lá no sonolento Haddock e volto a dizer que não sei botar links. Vodes lá ireides, se não vos importardes.


Como alguns já sabem tempos houve, ainda as galinhas tinham forte dentição, em que uns quantos mais eu, tivemos que entrar no "exagero expressivo" do cinema mudo. Tarefa hercúlea para quem já nasceu na época da chamada representação naturalista, e mais ainda, não sendo actrizes de seu nome completo, apenas aprendizes de feiticeiras e feiticeiros com gosto nas aventuras do ofício, que é como quem diz, dançando artes não aprendidas na dance d´école.

Ajudados e muito por maquilhadoras, costureiras, cabeleireiros e fotógrafos a quem nunca me canso, cansamos, de prestar justa homenagem.









Como sabem nem sempre os espectáculos foram vistos com o público às escuras, e em silêncio antecedidos por vozes que pedem gentilmente, às vezes em vão, para desligar os telemóveis. Era comum, numa sala iluminada tanto quanto o palco, as pessoas falarem no que mais lhes apetecia, verem quem estava e quem deixava de estar, coisa que ainda hoje se usa imenso sobretudo nas estreias, e enviar mensagens de apoio ou desagrado aos palcantes. Contam-se relatos de na Russia, onde as bailarinas eram deusas, haver manifestações dos fans tão ruidosas e anárquicas, que mais pareciam damas em concerto dos Beatles. Desmaios incluídos.




Por isso só o uso da voz ou do canto não chegava. No Ballet a história era outra. Fica para outra altura. Optou-se então por ignorar o público e focalizar o olhar para a parede ao fundo das salas, isto é, a oposta ao palco. Estava criado o chamado "estigma da quarta parede" (não sei se se diz assim em português mas deve ser mais ou menos). Olhar para a massa em estendal sentada era tabú, mesmo quando, com a invenção da luz eléctrica, tal multidão não passava de uma mancha vestida com manto negro de juíz. Ainda hoje, mal ou bem, o veste. Já agora houve uma senhora que nunca foi de tabús e sempre enfrentou o público com requintes de extraórdinária improvisação: chamava-se Mae West. Claro.









Além do olhar para o longe dar uma expressão, naquelas circunstãncias, já de si estranha ao comum dos mortais, o resto dos sentimentos era ainda herdeiro de uma forma de representar sublinhada, não fossem haver equivocos. Era preciso que um achaque de desgosto ilustrasse o texto, por exemplo. Era provável que não se conseguisse ouvir desmaiar. E num ataque de riso, sobretudo se fosse de desdém, era importante que se visse o esófago.








além do em cima exposto, dizem que seriam também heranças ainda da comedia d´ll arte, a juntar ao romantismo.


Não sou especialista em cinema, mas consta que ao iniciar-se tal arte se transportaram todos os tiques do ballet, do teatro, e da ópera. Junte-se a falta de mobilidade das cãmaras, e os vários pais alemães, com Murnau à frente, com forte ligação ao expressionismo no corpo e na alma.








Junte-se ainda o preto e o branco, com a técnica de luzes a acentuar as sombras em cenários e faces e tem-se um dramatismo sem igual no todo do drama.









Aquela primeira senhora, lá em cima, Gloria Swanson, aqui já no sonoro, queixa-se, e queixava-se mesmo, que o cinema tinha perdido a magia, já não havia a gloriosa arte de representar com a força da expressão facial. Olhem se ela tivesse estudado no Actor´s Studio. Era aquela expressão que criava a ilusão, que fazia os actores. Greta Garbo achava a sua voz ridicula, com pronúncia, ainda por cima. Nunca perdeu a nostalgia de estar calada. Até ao fim.








Para nós fica-nos o prazer de ver com olhos esbugalhados , mãos postas e boca aberta.


E já é tanto!


5 comentários:

Haddock disse...

vindes, vindes!!! clicai aqui no azulinho de cima que é num vê se vos aviais que lá parais!!!
imensamente agradecidos, lizzie...

vemo-nos, então, na estranha condição de sermos lidos por expressionistas críticos??
ohhhhh (costas da mão na testa, cabeça inclinada para trás, estilo teatro d. maria)hhhhhhh!!
ridícula figura havemos feito, então.. (simulacro de desmaio)....
não estivesse longe a quarta parede e martelaríamos nela nossa tola, com o vigor ditado pelo arrependimento de termos sido presunçosos...

(... mas ao menos sabemos botar links!!)

mas permitide-nos, lizzie, que exibamos mais uma vez o nosso saber wikipédico, homenageando, a seguir a murnau, o saudoso fritz, que também fez umas coisinhas engraçadas.

e despedimo-nos com mae west: quando somos bons, somos bons, quando somos maus, somos ainda melhores!! (ou coisa parecida...)

Emma Larbos disse...

Lizzie, estou a imaginar-te de olhar fixo na parede do fundo, com os olhos que costumam estragar as fotografias a conduzir o público ao pânico. E estou a rir-me sozinha...

nnannarella disse...

Mi svengo, mi svengo, eh sì, mi svengo! (vou desmaiar, vou desmaiar, e pronto, vou desmaiar!), diz a certa altura, num dos meus momentos mais gargalhados, sentando-se na cadeira, e no mais absoluto inexpressionismo, a Flora-Magnani, no primeiro diva capricciosa, fartinha da diligência onde tinha ido parar... - Vem a querida reminiscência a propósito das várias alusões aos desmaios, primadona dos cumes dramáticos em cena dos mudos e não só.

Pois, meu Arcanjo, não sei se foi boicote da sueca, se esconjuro da romana, se feitiço da americana, a verdade é que se criou aqui, em deliciosa quadrilha, mui nnaddochemmalizzística, uma bela corrente de divas, pois que tu, excessiva passional, mencionas d'uma vez logo outras três supremas, até na antítese que foram umas das outras: Gloria, Garbo e Mae.

E pegando nas palavras da Emma, rio-me com ela, impressionada com o teu magnífico retrato (segunda imagem), de olhar colado na quarta parede. E logo estendo solícita e dengosa uma cadeira ao Capitão em vias de desmaiar e encolho os ombros, nasalando com a mae West: bem sei que perdi a minha reputação, mas também ainda não dei pela falta dela...


Ora, meu Arcanjo, desmaios e desmaios deles e canapés e canapés!

Lizzie disse...

Presunçosos Vós Capitão?
Sois delicioso, é isso que vos digo de pescoço esticado enquanto ponho os braços para trás. Deixai-me descair ligeiramente o ombro direito e levantar o esquerdo.
Temos coincidência de espiritos no que ao D.Maria concerne, mas muito afoita não posso ser que cá vem senhora que gosta tanto de mim como gosto eu dela.Oh infortunios dos desaires.
Fico ansiosa, Capitão, por vossas próximas Wikipédias.
Olhai-me a cair exausta da ansiedade da espera.
Vede como sois cavalheiro de exército, que vos haveis antecipado a colocar tapete no chão.

Catrapum!

Lizzie disse...

Mi Emma, se te riste sózinha e à vontade, tiveste mais sorte que eu e os outros, que aquilo foi um súplicio para a sessão fotográfica. Ataques de riso uns a seguir aos outros. Se esta fotografia ficou assim, vou-vos mandar outras, ainda hoje se tiver tempo.

Para me rir também contigo, Meu Anjo, olha perdida por uma perdida por mil e lá se vai também a minha reputação. Acho que ficavas como peixe em água livre se estivesses estado lá e olha que depois de te ter visto aquele movimento de cabeça, lá no pecado, olha que não sei se não serias convidada...
que bem ficarias tu arrastando-te pelo palco..."foi por vontade de Deus", escrito em letras brancas a fundo preto, é claro.
E Mi Emma, sentada a três quartos numa poltrona de cigarro em boquilha de olhos semi-cerrados.
Capitão, ponha-se em pé atrás de Mi Emma e cruze a perna, se faz favor.



Maes e Wests deles