sexta-feira, 16 de novembro de 2007

soberba moral





E para fechar tais silenciosos desvarios mais digo que no cinema mudo, chamado de mundano, isto é sem grandes afoitices no estético filosófico, (isso reservava-se mais para os expressionistas alemães e para os ultra dramáticos russos), e como diz Mi Emma lá para as sonolentas capitanias, as protagonistas eram sempre de má índole, de vasta perversão com um poder sedutor capaz até de subverter Deus, como dizia um crítico da altura, isto tudo se bem me lembro.

Também se bem tenho alembradura fresca, a fartura da falsa moral vitoriana, acrescentada aos desaires da guerra levavam o público à sede de desordem nos amores e afins. La Belle Époque dos abastados, o viver o dia a dia em tempos incertos.

Na tradição da dança, até aí, todas as maldades se reservavam para o campo da fantasia ou da mitologia, fábulas moralistas com personagens irreais. Tanto quanto julgo saber, foi em Boston- chamadas as amizades bostonianas-, que se começaram a criar tertúlias de mulheres muito citadinas, intelectuais, revolucionárias para a época e que, pelo menos nos Estados Unidos, influenciaram a coisa no sentido de se representarem figuras reais. Com exaltação da vontade e desejo femininos. Fartas do puritanismo de salamaleques e valsas praticados nos salões.







Foram muitos os artigos que li, de furibundas e desmesuradas críticas ao cinema, quer enquanto arte quer enquanto desvirtuador dos bons costumes familiares. Muito se aconselhavam os imprevidentes a não levarem mulheres e filhos ao cinema. lembro-me de um que, em letras gordas, advertia do alto do púlpito que era meio caminho andado para a indigência e abandono do lar. Elas iam querer jóias como as actrizes, os vestidos e até cortar o cabelo à Louise Brooks. Mulher honesta tinha que ter melena vasta,devidamente presa após o casamento.

As jóias, já agora, eram uma obcessão nos guiões. Sobretudo as pérolas. Há um filme, que tive que ver várias vezes, em que a gananciosa mata quatro cavalheiros só para ter um colar das ditas. Leva meia-hora a olhá-las antes de ser humilhantemente presa.

Uma cronista social da época, que em Portugal bem poderia ter escrito para as Modas e Bordados ou para o Clube das Donas de Casa, referia o insólito hábito de as damas andarem na via pública com olhos de "carneiro mal morto", pose da mais alta sedução, como toda a gente sabe, até a Betty Boop.





Aos homens, que desde o Adão não resistem às tentações, cabia-lhes andar de cabeça perdida, entalados entre a inocência e o pecado. Geralmente eram mais velhos, já com idade para ter juízo mas de vida muito parada de experiência.


Em dança, coitadinhos, tinham que ser mais novos e atléticos a expressar o angustiado dilema.


Mas tenham tranquilidade as almas. Que todas as malévolas tinham um mau fim. A Brooks, a certa altura, não sabia se ia morrer às mãos do Jack, como foi sugerido em Inglaterra, ou no altruísmo do Exército de Salvação , como convinha aos americanos.
E por aqui me fico, a pensar na gargantilha que vi ontem. Sem falar nos brincos. Ai e o anel, o anel, Capitão, estai aí, Capitão?
Olá meu General...
Volto já, vou tomar chá com o sultão...

11 comentários:

Emma Larbos disse...

Que sintonia tão coincidente, Lizzie! Antes de vir para aqui estive lá no Viário dizendo coisas sobre as mulheres destruidoras de lares e os falsos pudores que parecem ser resultado de combinação nossa. Por isso mais não digo, a não ser como me irrita a própria expressão "destruição de lares".
Quanto às imagens femininas de destruidoras também pouco há a acrescentar. São fantasmas, cara amiga, fantasmas...

Ah, e os olhos?! Como é que sairam tão bem na foto se as minhas costumam ficar estragadas sempre que eles me fixam a objectiva? Não pode ser! Sinto-me desprezada e maltratada! Exijo reparação!

nnannarella disse...

I
Por Deus! – brado eu, irrompendo de olhos em alvoroço pelo farol adentro –, não feches tais desvarios, ou seja, os soberbos, afoita-te mais e mais, que Arcanjo que se preze, por muito negro que (a)pareça, é sempre luciferino e só expande luz. Vê bem a desordem barroca que esse teu rosto angelical produz em minha mente vitoriana!

Haddock disse...

lizzie,
soberba ironia sobre a hipocrisia!
magnificat!!!
(temos de saber, junto de nnannarela, como se conseguem itálicos... e dizei-nos, por obséquio, e aproveitando (a nossa aflição), que sua senhoria não sabe sueco, ou cortamos os pulsos e jorramos encarnado do mais napolitano que há por esta cidade!!!).

... e, lizzie, o moulinsart está hipotecado até às orelhas!!!!

nnann arella musashi disse...

Senhor de Haddock-san,

minha ama já não diz tecla com tecla, pois já escorropichou sete cálices de saké. Mandou-me atendê-lo, pensando que o que ficar dito, possa também ser do interese das Senhoras.

Os itálicos conseguem-se da seguinte forma:

1º deveis colocar um i (um i) entre <> (sinais de menor e maior);

2º imediatamente a seguir o que quereis italiquizar;

3º imediatamente a seguir, colocar
i/ (um i e uma barra)entre os mesmos <> .

Para negritizar, o processo é exactamente o mesmo, sendo que, em vez do i, deveis colocar um b. Tudo sempre sem espaços.

Experimentai e alcançarais.

Vossa.




Senhora de Lizzie-san,


confirma-se que o vosso olhar pode ter o mesmo efeito que uma arte marcial.

Sois ikebanas, Senhora-san, onde os olhos tomam a parte das flores.

Rendida e
Vossa.

nnann arella musashi disse...

errata:

Senhor de Haddock-san,

ali no ponto 3º, não é i/, mas o contrário: /i
ou
/b.

Haddock disse...

...
distinta samusarai,

nós bem tentámos, mas o fiscal ali do lado diz-nos que o nosso html não pode ser aceite, pois o tag não está fechado, quando nós fizemos tudinho o que vosteis haveis mandado...

agradecidos, não obstante...

(lizzie, perdoai este à parte)

nnann arella musashi disse...

Capitão-san,

quando isso do html acontecer, deveis fazer um copy/past de segurança do que escrevestes, ver se barras, maiores e menores estão correctos e colados aos inícios e fins das palavras ou expressões que quereis fazer sobressair e insistir na "publicação".

Experimentai de novo.
Vossa.

nnannarella disse...

II

Hás-de dizer, se tiveres alembradura, qual é o filme da gananciosa que mata quatro pelo colar de preciosas pérolas. Gostava de saber se ela era de imaginação caprichosa na matança.:)


No seu famoso primeiro filme,Riso Amaro (Arroz Amargo), a nossa Mangano fazia de malévola e roubava também um valioso colar a alguém (que já o tinha roubado), o que vai desencadear as terríveis peripécias. Eram os tempos das misérias do pós-guerra. Era o salve-se quem puder.
Claro que a tendência moralista prevalece em todos os tempos e ela acaba morta no final, com todos os estigmas de danada.

Ladrões simpáticos, só podiam ser homens, tipo Robin Hood, mas sobretudo, já na época moderna, o Arséne Lupin.

Enfim... um bom tema a saborear, com umas sedosas generosidades de um belo polvo à lagareiro...:)

colares roubados e colares roubados!

Lizzie disse...

Oh Mi tan grande Emma, falas-me em destruição de lares e logo me lembro das mães de Bragança.Que sempre as houve, a cuidar da acefalia masculina.De espada em riste, que este mundo são só serpentes em cada esquina...

Já és tão grande no teu ofício, olha eu a babar-me, e queres-te comparar com quem não faz outra coisa senão dar voltas fotográficas a caras normais? Ainda por cima a preto e branco?
Sabias que para arredondar as feições se pintam os queixos de vermelho? E que se acentuam as covas no queixo com azul? Imagina as figuras...lindas de riso.

Lizzie disse...

Pois meu Anjo, fala o capitão na Garbo e fico tentada a ainda não fechar o desvario. Vou ver o que tenho, para nos rirmos mais um bocadinho que não há polvo que nos cale.

Já não tenho a certeza se o filme de base assassina era um tal de a full there was, vampire, de onde nasceu o termo vamp para as fatais e vaidosas senhoras, ou the lure of ambition.Vi-os todos várias vezes e ,perdoa-me, hoje é segunda-feira. Sei que tanto maquilhadora como fotográfo também se inspiraram neles para me dar aleivosia. De qualquer modo


vamps e vamps, roubados e roubados deles



E Capitão não tenho que perdoar a vózes, que fosse eu já mais instruída nestas lides e também aprenderia, mas como sabeis nem links me são claros. Bem que poderiéis dar ensinança, mas sabei desde já que tendes de ser de vasta paciência.
Oh este rodar veloz dos tempos...

A. disse...
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