quarta-feira, 30 de julho de 2008

e em cumprimento de promessa segue

A conspiração do relógio teimoso



Vou tentar resumo resumido de trabalhos e análises de gente que olha para as mulheres neste nosso ocidental e primeiro mundo, desde sempre até ao tempo presente. E mais digo ser gente espanhola e americana. Existirão outras visões, mas não conheço.





Vou começar pelos anos cinquenta.

Então, dizem unânimes, que nesta época, como noutras que se seguiram a grandes guerras, as mulheres eram vistas em função da sua capacidade reprodutora. Os media publicitavam a família numerosa, harmónica e feliz: mãe fada do lar, pai trabalhador e esforçado. Honestíssimo.
Em Espanha, um Franco, síntese de ditadura e da mais conservadora Igreja, por pouco não legislava pela abolição da alma das mulheres.


Com os anos sessenta e setenta, em vários sítios, nasce o feminismo filho das incubações de Simone de Beauvoir: defende-se o poder (libertação) das mulheres através da cópia dos comportamentos masculinos.

Sectores mais fundamentalistas propõem o fim do aprisionamento das glândulas mamárias mesmo quando pujantes de volume e, em S. Francisco da Califórnia, damas exibem em orgulhosa manifestação poderosos e estalinescos bigodes, a par de densa pilosidade nas pernas. A parte positiva é que

nos anos oitenta as mulheres que já tinham frequentado escolas e universidades em massa, começam a exercer todo o tipo de profissões. Chegam aos quadros das empresas, inundam hospitais, julgam processos, projectam estradas e etc. Quer se queira quer não, o poder económico liberta. E o trabalho não é incompatível com a feminilidade.





Dá-se a liberdade de chorar e ter outros sentimentos fracos aos homens. Reconhecem-se-lhes a capacidade de ter afectos.






Na publicidade eles partilham tarefas domésticas, mudam fraldas; as mulheres conduzem carros e chegam a casa cansadas de reuniões e viagens. Giselle Halimi defende que não importa o tempo que se passa com os filhos mas sim a qualidade de afectos e formação que se transmite.

Avançando

Amos Oz, entre outros com a mesma temática, escreve um romance em que se desenrolam os conflitos, mesmo domésticos, entre a modernidade e séculos de educação patriarcal, e Lúcia Etxebarria no seu Amor, curiosidad, prozac y dudas, pega nos sentimentos e maneiras de estar no tempo de quatro irmãs. Se umas deitaram o peso história fora,






outras, por medo ou carência, preferem o comodismo da vivência com um prolongamento do pai.

A justificação das causas varia, mas nos anos noventa dá-se um golpe contra revolucionário: a ditadura de protótipos de beleza, o restauro dos viris comportamentos, a vergonha acompanhada de solidão da velhice




e o domínio das marcas.

Os media impõem um tipo de mulher ideal: a magra, andrógina, sem as marcas naturais da feminilidade. Em 1994 algumas revistas femininas, simultãneamente, declaram a vergonha da celulite, o horror das rugas. As pivots de televisão de quarenta e tal anos são substituídas por Barbies, que, mesmo lendo o teleponto, se enganam no uso das mais diversas línguas.

Nas (com excepções) revistas de moda, a imagem dos modelos é manipulada até ao impossível. Um grupo de estudiosos americanos reproduz uma dessas imagens em boneca real com estrutura e peso e …a boneca cai. É fisicamente impossível que se mantenha em pé.

Estatisticamente, por maior que seja o feito, poucas mulheres acima dos cinquenta anos aparecem nas reportagens. Mesmo a senhoras que assumem a idade e o corpo sem mágoa ou medo, como Meryl Streep, Kathy Bates ou Carmen Maura, são propostas operações plásticas e outras manipulações de imagem.

Algumas companhias de dança, rejeitam nas audições o talento em favor da beleza e tenra idade.

Reproduzem-se como fungos as clínicas de recauchutagem, e disparam os distúrbios alimentares. Publicitam-se cirurgiões plásticos como se fossem os novos santos milagreiros.
As empresas recrutam mais a imagem que a competência.

Brian d´Amato, historiador de arte, publica um romance, didáctico e denunciador, com desfecho tão aterrador, estética e clinicamente, como as metamorfoses de Mickael Jackson.




As multinacionais da cosmética, inventando máquinas do tempo, facturam milhões.

As revistas masculinas , e a publicidade em geral, reavivam o homem caçador e será de bom mérito apresentar presa nova, bonita, e já agora, com um nível de inteligência e cultura geral que não o envergonhe. É o retorno ao macho dominante e agressivo, bem treinado e estimulado através do conteúdo dos jogos de vídeo e séries como as Tartarugas Ninja. Também a eles lhes é proíbido deixar correr naturalmente o tempo. O Viagra assegura o esplendor dos vinte anos.





Algumas revistas ensinam às adolescentes eternas comportamentos e truques de sedução. Nada como cair nas graças do dominador e ir Nova Iorque, Paris, Roma ou Madrid fora, fazer compras sem qualquer tipo de preocupação ou responsabilidade.
Uma prostituição recíproca dos afectos, como costuma dizer uma amiga minha, directora de uma companhia de dança.

Em algumas séries de televisão e telenovelas, as mulheres autónomas são as más da fita, e as submissas, embora sofram no decorrer do enredo, no fim, são recompensadas com felicidade eterna.





As escritoras light Candace Bushnell, inspiradora do Sex and the City, e Lauren Weisberger descrevem um mundo de avaliações, cálculos e marcas ou não vestisse o diabo Prada.

E, embora isto já sejam nomes a mais para o meu gosto, Elizabeth Wurtzel, cruíssima de texto e linguagem, narra o dia a dia de uma adolescente, mestre em culpar a mãe de quarenta e poucos anos, de se ter divorciado e não saber seduzir homem que as sustente e lhe compre as roupas e acessórios que o subir na vida impõe e obriga. O trabalho e a dignidade não compram Chanel.




Nos EUA e em Espanha, confundindo o trigo com o joio, movimentos ultra conservadores responsabilizam o lado demoníaco e tentador das Evas e a libertinagem gay pela quebra dos valores ancestrais mandados seguir por Deus. E ,como profetas, ouvem a ameaça do Pai castigar com crises económicas, guerras e doenças.

Segue-se a propaganda utilizando o seu maior trunfo: a culpa.




Já desde a Movida em Madrid, que os padres em homilias avisam os rebanhos que o mundo está à beira do Apocalipse. Cabe às mulheres regá-lo com as santas lágrimas da resignação e aos homens liderar as hostes no bom caminho. Aznar chega mesmo a incitar à cruzada, com o grito de crescei e multiplicai-vos no sentido de manter a raça espanhola. Tony Blair exibe em retrato de família o seu filho tardio.

Afinal desde quando é que uma mera costela, tirada de um Adão em repouso, tem mando na vida?


28 comentários:

Vanda disse...

Lizzie,



Crónica fabulosamente descrita.


Nem mesmo da Lucia Etxebarria te esqueceste!

Às vezes, olhando através do caminho da minha mãe, pergunto-me quantas noites de insónia teve ela perante os novos cruzamentos da estrada que se avizinhava longa, quantas vezes pôs em causa os seus ensinamentos, quantas vezes olhou mais longe? O meu olhar envolve-a com amor, o perdão é umbilical, o sorriso é de silêncio quente e cheio: não faz mal, mãe.

(sei que a miuda que amiude parecia partir a louça a assustou)


A década das marcas há-de parir outra, a História diz-nos que nada é imutável e essa é a esperança, o tubo de escape, para quem não confunde etiquetas com bom gosto, charme ou classe, para quem dá o seu melhor a uma costela, que dizem foi de Adão.

É desta sociedade de consumo e de sucesso, que muitas como eu, se sentem eremitas e cada vez mais distantes de um social, que nao passa, muitas vezes de verniz plastificado.

Vestem Prada, mas...


Obrigada, Lizzie, em Portugal também se escreveu igual.


Beijos

Vanda disse...

...e, já agora :)

algo que me estava a esquecer de referir: é sem duvida de levar em conta o que é que a vida, as circunstancias, a educação, os precalços fizeram de nós, mas mais importante ainda: o que conseguimos nós fazer desse "produto" :)

É a parte mais importante.

Alien8 disse...

Lizie,

Factos puros e duros, com a sombra da manipulação ao sabor das conveniências dos manipuladores sempre adequadamente presente.

Curvas e contracurvas, avanços e recuos históricos, não fruto do acaso, mas de interesses bem definidos e aqui explicitados.

A continuação da promessa tem, além disso, um belo título.

Como sempre, a escolha de imagens é impecável.

Como vem sendo hábito, foi um prazer ler este texto, ver estas fotos, pensar um pouco sobre tudo isto...

Eu é que te dou os parabéns.

E um abraço.

nnannarella disse...

Eu diria mesmo que nem a Lucia Etxbarria faria melhor, meu Arcanjo!
Bendita promessa para tão implacável e lúcido "resumido resumo".
Como se vê há aqui matéria sem fim para thrillers medonhos (e não estou a falar apenas do Michael Jackson eh eh).

Kathy Bates e Sontags e Christas Woolfs entre outras & Kathy Bates e Sontags e Christas Woolfs entre outras!!!

Lizzie disse...

Vanda

não me podia esquecer da Lucia Etxebbaria tanto mais que temos a mesma mania dos decotes:) só não posso é usar saltos altos, que além da vesícula também os tornozelos têm mau feitio.

E, mais coisa menos coisa, penso que todas as gerações, pelo menos no séc. XX, provocaram insónias e pesadelos nas mães.

A nossa talvez tenha tenha provocado até pesadelos, porque à medida que o tempo avança, as alterações são mais bruscas e rápidas.
Fartei-me de pregar sustos e ainda hoje os vou pregando. As mães e os pais ficam sempre com a "dor" fantasma do corte do cordão umbilical. O problema é que os pais vão perdendo a vista e não percebem que os filhos, que vão à frente, veêm melhor o caminho, um caminho que eles nunca chegarão a conhecer.

Acho graça ao aspecto criativo da moda. O que não suporto é a alienação manipulada. A ditadura estandartizada. A valiação das pessoas pelo aspecto exterior.

O futuro está na nossa resistência.Os fenómenos são ciclícos, mas acredito que, apesar da teimosia do relógio, o tempo nunca volta para trás.


Beijinhos e obrigada

Lizzie disse...

Alien,

de manipulações está este mundo cheio.
Ainda ontem liguei o rádio do carro para ouvir o trãnsito e sai-me uma brasileira ( sem ofensa para a nacionalidade)com teorias sobre de como as mulheres gostam de ser maltratadas e de como está na natureza dos homens maltratar.
Que felizes que ficamos, homens e mulheres...
Pelos vistos, além de prostituta de luxo assumida, também era íntima das mensagens dos astros e vai ter honras de publicação de livro.
Fiquei a saber que para o meu signo, nada como levar uma sova todos os dias:))

Ao fim de cinco minutos desliguei. Coloriu-se-me o semáforo de vermelho nos neurónios.

Como, e porquê, uma estação pública permite estas coisas?

Pelo menos em Espanha, tem saído legislação a favor das mulheres, não as previligiando, mas punindo práticas antigas de maus tratos e discriminação. Pelo menos têm feito um esforço, efectivo, no sentido da formação profissional, mesmo para quem nunca teve nenhuma.

Obrigada, Alien, e um abraço.

Lizzie disse...

Credo, Meu Anjo!

Quem há-de passar a Lucia Etxbarria és tu quando escreveres andança policial sobre o caso das bochechas postiças, ou então, sobre o extraordinário caso da ruga raptada.

E factos são factos. Basta olhar a publicidade e algumas séries.
Uma das coisas que me faz mais impressão é a fobia da velhice, leia-se até, meia-idade, como se uma pessoa pudesse ao toque de um cosmético apagar a sua história, como se o tempo fosse coisa vergonhosa e não atingisse tudo e todos, ou os corpos não tivessem prazos de validade.

Quantas mulheres, e homens, não têm depressões por causa da imagem e das consequências dessa imposição social de bem parecer como o sistema quer? Quantos não acham que os desaires e abandonos amorosos se devem à imagem?
Quantas auto-estimas não andarão pelas ruas da amargura?

Olha, sei lá, fica-te com Jessicas Tandys mais Jessicas Tandys mais Judys Denchs

Haddock disse...

já agora, lizzie, mais um elemento bibliográfico de peso: o código da vinci, verdadeiro manifesto feminino (que não feminista). o que se teria passado se tudo se tivesse passado de modo diferente?? qual a relevância da causa virtual??

a propósito, temos de ler "a papisa joana"...

vénia...

Emma Larbos disse...

A coisa mais irritante das marcas nem é serem um sinal distintivo de diferença e de status (sempre houve esse tipo de sinais exteriores), é que normalmente são umas pocariazinhas sem qualidade que justifique o preço. Ainda hoje parei a fumar um cigarro em frente à montra da Lacoste e dei comigo a pensar nos tansos que dão 70 euros por uma malinha em plástico azul-escuro, toda desengraçada, e 56 euros (verdade!) por um boné igual aos que se compram por 1 euro nos chineses, só por causa de um piroso crocodilo verde que tem o rabo virado para não sei onde senão já não é Lacoste.
Quanto à ditadura da juventude e da beleza, acho que não se aplica só às mulheres. Os homens que depilam o peito para serem metrossexuais que o digam. Em tudo isso a culpa é do sexo. Ou melhor, da liberalização do sexo. Ou melhor ainda, esse é o efeito perverso de uma nova ideia, que é a de que se pode ter sexo (bom, de preferência) até morrer. O problema é que o sexo sempre esteve (e estará) associado à juventude e à fertilidade. E a beleza é instrumento de sedução. Por isso temos ser jovens e belos até morrer ou não teremos direito a sexo como toda a gente. No tempo da minha mãe, depois de casarem, as mulheres passavam à categoria de arrumadas. Já não tinham que atrair parceiros, já não precisavam de ser sedutoras. Podiam envelhecer em paz. Agora, se elas se deixam entrar na categoria de arrumadas perdem o marido e as que o não têm precisam de ser escolhidas em qualquer idade. Se fosse noutros tempos, não haveria grande remédio para elas mas hoje a tecnologia médico-plástico-cosmética põe-lhes a solução à mão de semear. É muito difícil resistir. É muito difícil desistir. É muito difícil ser preterida. Ficar sozinha.
Podemos dizer que deviam contar outras coisas. Pois deviam, as qualidades do espírito, a inteligência, tudo isso. Infelizmente - sobretudo para os homens - nada disso tem a ver com sexo. A dupla que sempre governou o mundo, dinheiro e sexo (ou seja, poder!) encontrou novas armas. E usa-as.

Alien8 disse...

Lizzie,

Mas de onde raio saíu essa teórica-astróloga, e quem a terá posto a falar na rádio???

Então, uma sova diária?

Por essas e por outras é que não leio os horóscopos. Bem... só às vezes :)))

Um abraço.

Vanda disse...

Lizzie,

Eu tambem não sou indiferente à moda. Gosto de apreciar as tendencias e de seguir algumas. De linhas e traços. Mas observar que meio mundo julga o outro meio pelo seu aspecto exterior é algo que me confunde, na minha escala de valores e principios. às vezes penso que as/os verdadeiramente barbies são as/os que julgam os outros pela forma de vestir e não as que, fruto de algum poder de compra e alguma imaginação, se vestem em dias de estado de graça, como uma Barbie :)

Percebes onde quero chegar?

Eu prezo muito a liberdade no seu conceito mais profundo, vestir como gosto, calçar o que me faz andar bem, ter liberdade para ter as minhas rugas e ter liberdade para me hidratar :) ter liberdade para acordar amarrotada :) e não fazer disso um drama :) que afinal :) só iria aumentar os pés de galinha :)

Mas nestes tempos de sucesso, a aparencia não se fica pelo Prada :) diz-me que carro tens e dir-te-ei quem és :) mostra-me o teu "farol" e ainda te apreciarei mais :) e depois é uma treta, falam todos dos mesmos assuntos, teem todos a mesma entoação, os mesmos problemas, por vezes tão mesquinhos, como um ponto negro num dia de gala ;)

e já volto, que me chamam para o café )

Lizzie disse...

Capitão,
estais com as melhoras da morte?:)

Pois que não lemos o tal de Código. Embirrámos por ser quase obrigatório ler. Como andam lá em casa em duas versões, espanhola e inglesa, um dia destes metemo-nos à tarefa.
Gostamos de ler sobre causas femininas, mas leituras feministas puras, duras e fundamentalistas, irritam-nos um bocado.
Só toleramos análises bem fundamentadas.
Achamos que somos diferentes de vós homens mas não nos sentimos inferiores nem inferiorizadas.
Fazemos por seguir o nosso percurso dentro do género humano.
E muita coisa poderia mudar por vontade política aqui, como já está a mudar em Espanha.
Gostámos dessa vossa distinção feminino/feminista.

Da Papisa Joana, já fomos de leitura. Tão depressa não vaticinamos outra...a menos que se chegue à conclusão que S. Pedro era mulher de confiança.

E se quereis mais referência bibliográfica em relação ao assunto postal, tentes o Glamourama do Bret Easton Elis.
Se tiverdes paciência. Nós lemos em prestações. Fosteis de ler?
Interessante ver como as barbies são famosas por fora e vazias por dentro. E dos Kens nem se fala. Têm a espada oca.

continência com desejos de melhoras e/ou ressuscitações que da vossa vida ou morte sabeis vós. (Não somos abelhudas)

Lizzie disse...

e Capitão, imperdoável esquecermo-nos de Inglaterra, que numa onda proporcional à de Henry the VIII, já reconhece que afinal as mulheres também estão no concelho de administração de Deus.

Continência

Vanda disse...

...Também entendo a guerra contra as rugas que muitas pessoas travam depois de ultrapassado um certo limite. Entendo, se isso for de encontro a uma necessidade própria delas...já não acho tanta graça, se essas operações de estética forem tipo " fiz obras à casa porque a quero "vender" -vender uma imagem- e assim tem um valor acrescido no mercado" :)


Mas tudo bem, continuemos com os decotes e as "botas" :) anti tornozelo dorido, porque a meu ver, mais vale um par de botas confortavel que um par de pernas em desiquilibrio mortal :)

Quem disse que a elegancia teria que ser equivalente a agulha do salto? :)


Bom fim de semana, muito mar e contemplações várias :)

Lizzie disse...

Emma,
depilar o peito? Antes de ter saído legislação sensata sobre os modelos em Espanha, leia-se Madrid, fui aos bastidores de um desfile de moda. Tudo nu com tudo,à excepção da cabeça, depilado. Homens incluídos. Considerando que havia modelos com 1,75 e 50 kg de peso, imagina o espectáculo. Entre um campo de concentração e uma enfermaria de doentes de quimioterapia, vennha o diabo e escolha.

Quanto a marcas, já não sei se é por estatuto, se é por fétiche. Mi C. e Mi Mar apanharam agora damas em Nova Iorque, que de forma natural, diziam que não conseguiam ter relações com homens que vestissem esta ou aquela marca. E só em lençóis de 2000 dólares. Impossível doutro modo.

Há uma, ( não me lembro o nome) , entre outras, estudiosas que se debruça exactamente sobre a criação de fétiches em relação com o poder ligado ao sexo. E ao sexo ligado ao poder.

As mulheres ficavam arrumadas porque já tinham cumprido o seu destino: casar para ter filhos.
E os pais do marido aliviados porque a criatura já tinha arranjado mulher que tratasse dele.
E olha que não é preciso recuarmos ao tempo das nossas mães.
Ainda hoje se uma mulher não casa, ou não tem pretendentes, é porque ninguém a quer. Tem defeito de fabrico.
Se um homem é solteirão, é porque tem espírito livre e não se quer prender. E se não andar por aí em exuberãncia de potência sexual, é maricas.
(O conceito de homem sensível,mais ou menos introspectivo e não dependente do sexo, é coisa rara de encontrar.)

Lá se vai a auto-estima encharcada de solidão, agravada pelo mito que o macho é que escolhe a fêmea. Nos dois sentidos. Aqui não tanto,mas em Espanha e nos EUA, nas classes altas ou mediaticas, é cogumelo verem-se homens de setenta, oitenta e tal anos agarrados a raparigas de vinte.
As mulheres já vão comprando o seu encanto e a sua beleza aos rapazes com idade de serem netos.

Cá vem o poder, o elixir e o espelho da juventude.

Se calhar no teu maço de cigarros está lá que "fumar envelhece a pele" ou que reduz a impotência masculina.

São armas, senhora, são armas

Lizzie disse...

e Emma, tenho livros sobre os trajes ao longo da história que acho deliciosos.
Desde o uso estatutário das cores e as cinturas subidas da Idade Média, até à invenção dos chumaços (ou enchumaços?) nos ombros para disfarçar o raquitismo de presidentes, é só astúcia,manipulação,capacidade económica e poder.

Lizzie disse...

Alien,
não faço ideia de quem botou semelhante sábia com pretenções a cientista, numa estação de rádio, que em princípio, é paga pelos nossos impostos.

Quanto à sova diária, já hoje apanhei: estava a regar o jardim e levei uma vergatasda de um ramo da macieira. Como é que ela sabe que contribui para a minha felicidade?
Vou ver se mudo a data de nascimento.

E esta coisa da "ciência" empirica do sexo e dos comportamentos "naturais" e "certos", ou seja, prostitutas a escrivinharem verdades místicas e intemporais, é moda( começou em França).

Em Espanha saíram montes de livros de tal teor que resultaram num fiasco de vendas imenso.

Os editores não consultaram as estatisticas: os espanhóis, vê lá tu como os mitos se enganam, são o povo europeu que menos importância dá ao sexo, posto nestes termos...mundanos.

Deixa-me lá ser empírica também: uma vez estava no bodegon onde costumo ir de tapas, cañas y viños, cómo no?, e por acidente a televisão zapou-se para um canal pornográfico. As pessoas olharam e continuaram a conversar como se estivesse em intervalo para publicidade. O mesmo se aplicou às crianças e adolescentes.

Abraço

Lizzie disse...

Pois, Vanda,o gostar de moda não tem nada a ver com ditaduras de gosto. Lá para trás já fiz um post sobre isso. Aliás tenho uma grande amiga que é produtora de moda e dança ( as duas coisas andam muitas vezes ligadas) e é orgulhosamente obesa e veste o que lhe dá na realíssima gana. Sente-se bem como é. E adoro-a como é.

Não perde oportunidade de denunciar virtualidades. Mesmo dentro do sistema.
Eu própriamente dita, com mais, já fui fotografada produzida e ao natural. Os fotografos de moda são uns ilusionistas maiores que o Houdini. É uma arte mágica.

Já agora se não quizeres ter rugas nas fotografias, põe uma luz obliqua por cima, a incidir acima da testa. Desaparecem quase todas:) A Marlene Dietrich só se deixava fotografar assim. E com a luz desaparecia a celulite da Marilyn Monroe.


Creme hidratante? Tenho a pele seca!
E os carros são uma extenção sexual e de poder para os homens. De comando da vida. Olha lá para os anúncios dos topo de gama:ar seguro e confiante. O que não me impede de gostar de BMW. Mas por acaso o meu parece, como me disse uma amiga com graça, saído do Lisboa Dakar. E é doutra marca.

E, para festas sociais não tenho paciência. É raríssimo encontrar-se alguém interessante. Todos os actores interpretam o mesmo papel da mesma maneira.

Tu não me fales em saltos agulha que me lembro logo do bloco operatório.:)

Com mar, ou sem

beijinhos e bom fim de semana

Vanda disse...

Estamos na mesma linha :)

E eu nem carro tenho :)

Considero-me livre usando transportes, mas sentir-me-ia
privada da minha liberdade se não pudesse fazer uma viagem anual, mais uns dias de mar, mais umas fugas da cidade em busca de um qualquer lugar esquecido :)

Não tenho qualquer duvida que sou uma perdedora :) aos olhos de qualquer pessoa ambiciosa ou com sede de poder.

O meu poder é ser simplesmente livre :)

E estou a gostar :)

Alien8 disse...

Lizzie,

Vergastada de ramo de macieira? Vinga-te e come uma maçã, que ainda por cima tem estatuto de fruto proibido!

Quanto ao comportamento dos espanhóis perante o zapping, estou mais em crer que as "tapas, cañas e viños, cómo no?" estavam a preceito, e concentravam a atenção geral :)

Que muitos e muitos fiascos de vendas e outros atinjam essas "ciências" empíricas que estão na moda: O aproveitamento até ao infinito da indústria do sexo, complementares e afins, convenientemente disfarçado de "saber de experiência feito"...

E viva o empirismo do teu "bodegon"! Cómo no?

Bom fim de semana.

Um abraço.

Emma Larbos disse...

Às vezes não sei qual é a ditadura pior: se a do "faz tudo para mudares aquilo que és", se a do "aceita-te como és mesmo que não consigas olhar-te no espelho". Concordo ali com a Vanda que o impulso para maquilhar e recauchutar tem de vir de dentro e não das imposições exteriores.
Simpatizo com quem faz operações plásticas porque Deus lhe deu um maxilar ou um nariz ou umas orelhas ou outro bocado qualquer absolutamente ridículos. Às vezes vejo o "Extreme makeover" que dá no People and Arts e fico muito feliz quando aqueles pobres traídos por Deus aparecem no final reconciliados consigo mesmos e com uma cara mais humana.
Já a história de deixar retalhar a cara para puxar uns fiozinhos que fazem levantar os músculos que nós sabemos que dali a uns anos voltam cair... é tão dolorosamente triste que não chega a irritar-me.

pentelho real disse...

lizzie,

fiquei sem respiração. li. reli. vou voltar a ler. respirar fundo.

e amanhã volto cá. para já, parece--me não ter visto nunca algo tão bom.

quando aqui venho, isto é verdade, sinto quase vergonha das minhas "brincadeiras".

obrigada

Lizzie disse...

Vanda,
um dos aspectos que mais respeito é o ser-se fiel à liberdade individual. O ser-se capaz de fazer escolhas, dentro das possibilidades de cada um.

Talvez por isso tenha tanto respeito por aqueles outsiders que vivem nas cabanas das florestas, nos EUA, alguns por livre escolha sem prejudicarem ninguém.

Isso do ser perdedor é um conceito social que não sei o que é. Preocupam-me mais os que se perdem, ou são levados a perderem-se, para si próprios. Os que abandonados se abandonam. E tenho orgulho nas pessoas, que apasar de terem as circunstâncias a desfavor conseguem vencer mesmo que não entrem no circo mediático da celebridade.

Boas viagens e mares:) e beijinhos

Lizzie disse...

Alien,
não como as maças porque em boa verdade são horríveis. Coitadinhas, pequenas e enxertadas de mel. deixo-as para os pardais.

E quanto a zappings e tapas, enganas-te: bota tu um jogo de futebol e ninguem larga os olhos da televisão. Saem cañas de entusiasmo ou desgosto, que não há palavrão que varra os erros dos jogadores.

Abraço e boa semana.

Lizzie disse...

Emma,
absolutamente de acordo contigo. Tudo depende das circunstãncias.

Segundo me disseram, não só em relação às faces como em relação à parte mamária, por exemplo, há casos em que a cirurgia estética se justifica. É uma questão clínica, para além da auto-estima.
Por outro lado, têm-se escondido as estatísticas de morte ou perda de qualidade de vida por causa das operações: para além das sépsis, às vezes o silicone é tanto que esconde tumores mamários muito invasivos.

Quanto a rugas, até podem sair todas, mas a idade fica nos olhos e em certas zonas do pescoço, da nuca e no desenho das mãos. Por isso notamos logo, mesmo muito operadas, que as pessoas já têm idade.

Bons banhos ( que inveja)

Lizzie disse...

Alteza:

o luto pelo V. Pai, deu-vos exagero que tanto vos agradeço.

E, mais uma vez vos digo, que não tendes de ter vergonha das V. brincadeiras por vezes tão dramáticas e subtilmente metafóricas.
Também aprecio as ilustrações do V. reino.

Portanto, e em síntese, que não vos passe pela cabeça, recorrer ao bísturi plástico. Estais bem com o que a natureza vos legou.
Se os ministros disserem outra coisa, é a sede de poder e ganhos que falam. E a Magestade de V. reino sois vós.


Vossa

pentelho real disse...

senhora,
dia quinze aproxima-se (é no dia quinze não è?). apesar de todos os problemas cá no reino, quero ver se falo com a Leocádia para ir à livraria. mas, preciso de saber o título e a editora.
obrigada

Lizzie disse...

Alteza,
vejo no caderno dos dias ser 15votado à santidade.

E eu, irme-ei santificar à ancestral Toledo, pois que entrando de descanso neste reino, ainda me restará uma noite de aflição em tais paragens, já que irão vassalos e donzelas que muito estimo, bater-se de corpo e alma, pelo que em trabalho defendem.

Em livraria não será, que requer a batalha muito espaço.

Folgo que vos fazeis acompanhar de mulher de uma só cabeça, a V. leal Leocádia, a quem mando reverências e estimações.

E vós? Dia nove? Soltem-se os sinos que também em meu reino mandarei que repiquem por vós:))) e bem alto para que os céus ouçam.

Vossa