quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008




The British






Segue o presente por inspiração da Excelentíssima Senhora Emma Larbos, após ter mencionado o facto de serem os ingleses deslavados, pondo a minha parte espanhola rebolada de riso e satisfação, a minha parte inglesa de olhar altivo e pescoço esticado, oh these natives, e a minha parte portuguesa a cantar: ó malhão, malhão, que vida é a tua? comer e beber, ó trilintintin, passear na rua.

Os conhecimentos do que vou expor, partiram de convívio com um senhor, e respectiva família, que antanho chegou a Portugal e se comoveu com a oferta espontânea, por parte de um nativo que não o conhecia de lado nenhum, de um cesto de maças.

E que, mais tarde se tomou de encantos por senhora, também nativa, morena de olhos negros e pestanudos, amazona dotada de voz de rouxinol da qual foi tomando nativos hábitos quase se esquecendo dos seus incubados na insularidade.


Oh dear, can you imagine such a thing?


Com ela teve casamento e descendência de cuja prole desembocou criatura de sangue assaz confuso chamada Senhora Doña Lady Lizzie, neste nosso mundo teclado assim baptizada por Signora Nnanna.

Serve também o presente para indicar alguns modos de ser de tais gentes referindo-se, principalmente aos formatos da classe média, semi-média, alta e semi-alta, aristocrática com séculos de história , cinquenta anos ou apenas alguns dias. As diferenças são para se respeitarem e cada um deve ter orgulho na sua, não se tolerando presunções nem água benta, exigindo-se que todas se portem com dignidade nas cordiais relações umas com as outras. É imperdoável que a "superior" não cumprimente a "inferior" ou não agradeça um serviço prestado.






Primeiro, e antes que me esqueça, nunca devem os portugueses leitores elogiar seja o que fôr das terras de Espanha, das de so rude Spain. Nem de França. Nem de Itália ou Vaticano. Nem dos nórdicos. Nem Ásia nem África. Terão como presente o apoio incondicional nos jogos de futebol. Não manchem, portanto, a portuguesa fama de serem very kind indeed, the one´s best. Os únicos que se aproveitam na Terra e arredores.

Assim deve-se cumprimentar um inglês sempre com aperto de mão, de preferência frouxo. Aquele enérgico aperto latino, pode-lhes partir os frágeis ossos, tão carentes de cálcio por falta de sol. Beijos, ficarão para o quinquagésimo encontro, quando souberem a vossa idade, ou com algum deles terem casado ou tido juntamento.

Não se espantem se receberem um cartão a convidar para um chá na morada com a menção de horário:


I´m glad to have You at home at 4.27.34 pm till 6.14.54 pm. Your gratefull X.


Não se deve chegar antes da hora, nem atrasado, nem sair depois. Dão como justificação evitar conversas de chacha e embaraços do género "que grande seca mas parece mal ir-me embora". Calha sempre bem uma garrafa de vinho do Porto, mesmo que estagiado em carvalho de Sacavém.

Deve-se também, ao aceitar o convite, referir os pratos de que não se gosta, bem como eventual dieta a que se esteja sujeito.

Os portugueses serão dispensados, mas quem tenha alguma coisa a ver com tais criaturas, deve, must, saber todas as etiquetas à mesa. Há formas de comer diferentes consoante se come no apartamento, jardim, ou mansão. Por ser paradigmático, destaco o frango assado. Dentro de quatro paredes come-se com faca e garfo, no jardim é aceitável que se coma à mão. If you don´t mind, of course. Not at all. Thank you. You´re wellcome. It´s my pleasure. You´re so kind.

E deve-se falar na voz mais baixa possível. Falar alto, nem para os surdos. Se alguém não ouve bem, aconselha-se a ficar calado. Para barulho e berros já basta a falta de educação espanhola.


Se no convite fôr exigido traje semi formal ou formal, aconselha-se, em damas e cavalheiros, uso de chapéu. São um verdadeiro fétiche inglês, sendo todos os designs permitidos, sem nota nem reparo.





No dia a seguir deve-se mandar cartão, ou mail a agradecer e elogiar o interesse da conversa e a excelência do petisco. Devo lembrar que a gastronomia inglesa é parca de tempero e gosto, mas não será proper levar sal ou piri-piri no bolso.

Nunca se deve perguntar se alguém está bem de saúde . As maleitas de cada um são assunto privado . Odeiam conversa de Centro de Saúde. É de bom tom estar a morrer e continuar a falar do tempo, ou da beleza das rosas do jardim, mesmo que não passem de miragens sem esquecer o corte rectilíneo dos arbustos. Eventualmente, pode o quase defunto referir-se ao extraordinário trabalho de carpintaria do caixão bem como ao estado da relva no cemitério.

Nunca se deve falar das origens de família ou vencimentos auferidos e de propriedades, só se fôr encontro de negócios, lá para as bandas do All-Garve. Também nunca dizer ou perguntar acerca do estado civil. Com quem se compartilha o leito, é também assunto dos interessados. E ninguém tem nada a ver com isso.

Todo este tipo de conversas é típico das classes inferiores, sem regra nem dignidade, ou de povos abelhudos como o espanhol. Um verdadeiro inglês vive intra casa, intra clube, intra crãneo.




Ninguém tem desculpa para se portar de forma menos própria, tendo como filosofia , quase sempre, não pisar o território alheio nem tornar as coisas desagradáveis, porque existem no mercado, desde tempos imemoriais inúmeras edições de livros de modos e etiquetas, alguns escritos com senso de humor. Com o britãnico senso de humor: leia hoje, ria amanhã. Ou melhor sorria. Melhor ainda: não ache piada nenhuma.




Pessoa que não leia o jornal todos os dias, não é gente. São uma verdadeira instituiçaõ quer os mornings quer os evenings. Convém estar actualizado para opinar sobre os mais diversos assuntos. Pode-se criticar a Família Real, mas com respeito e tento, não da forma alarve, pouco digna e insultuosa de mães como o fazem os espanhóis. Começar sempre por lauda à falecida Raínha Mãe, Elizabeth, sem nunca mencionar, o seu velho hábito de beber, mantendo-se sóbria e activa, uma garrafa de gin por dia. Afinal de contas a Senhora nunca abandonou o seu povo, nem por alturas dos bombardeamentos de Londres, pelos brutamontes dos alemães.




Também é absolutamente obrigatório respeitar as filas, indianas, desenhadas a régua e esquadro. A desordem e a falta de respeito pelos respectivos lugares de espera são típicos de povos incivilizados como o espanhol.

Regra de ouro é aprender a espirrar para dentro. Qualquer pessoa educada, vira o espirro ao contrário.

O mesmo se aplica ao choro. Um verdadeiro inglês é ensinado desde pequeno a não mostrar emoções, não permitindo a abertura de comportas de barragens na via pública. Não se estranhe por isso, que os príncipes não tenham chorado no funeral da mãe, e que uma outra mãe de filha desaparecida, mantenha cara de pedra.

Como são gente, quer se queira quer não, de vez em quando têm explosões de afecto colectivo, veja-se a reacção ao falecimento da dita princesa, ou a histeria face aos gadelhudos conhecidos com Beatles.


É em Inglaterra que se cometem os crimes mais horrendos, practicados por aparentes pacatas criaturas. Seria falta de imaginação matar com um só golpe de faca como os espanhóis. Dá-se uma, vai-se tomar o chá que já são horas, outra, interrompe-se para jantar e no dia seguinte acaba-se o trabalho depois de comer uma maça: an aple a day keeps the doctor away. Eventualmente, por delicadeza, pode também oferecer-se uma maça ao esfaqueado.Já existe intimidade que o justifique.




E é melhor que o pré-assassinado não grite : não é correcto incomodar a vizinhança.

E que não se estranhem os Harrys Potteres ou os carinhos por Paulas Regos. Os ingleses têm verdadeira devoção por um imaginário construído por bruxas, duendes e outros seres estranhos a este mundo. Muitas histórias tradicionais para crianças, são de fazer arrepiar os cabelos a qualquer toureiro adulto espanhol que se preze. Dão imensas ideias para os posteriores crimes.





Criaram uma forma de arte, irónica e sarcástica, em que toda a liberdade de opinião é possível. Já o era, em germe do que é hoje e em termos populares, no reinado de Her Magesty Queen Elizabeth the First: a pantomima. Tudo se critica, sobretudo os próprios ingleses, que diga-se em abono da verdade, têm um talento especial para rir deles próprios. Sempre com liberdade sagrada






ou não estivesse este senhor a comparar outros tempos com o paternalismo do Estado que hoje em dia está tão na moda em relação à vida privada dos súbditos. Coisa tão inconcebível que pede palhaçada: my house is my castle.

Mas enfim lá continuam como são. Conservadores e audases, pragmáticos e tolerantes entre o respeito pela história e a abertura aos novos ventos, tendo como capital uma das cidades mais cosmopolitas do mundo.





Pela minha parte, if you don´t mind, i wish you from the deep of my heart, a wonderfull weekend, as fine as posible, and thank you for your precious time.


Do you think it will be raining tomorow?

Oh, Good Lord, i hope not!

It´s really very unpleasant, don´t you think, my dear friend?

Oh yes, indeed?

What do tou think of................





Oh, my dear Margareth, dont´t you speak in such a loudly voice, please!?

You´re so right, Elizabeth, that portughese people aren´t they looking at us?

Oh those latins....

By the way, where´s Lizzie?

Late....as always!

Hopeless!

Disgusting!

10 comentários:

Madame Maigret disse...

Ma chère Madame Lady Lizzie, je suis esmaguée par votre insurpassable description des anglais. Mon mari parle souvent de l’inspecteur Pike, de Scotland Yard, que voulait connaitre ses méthodes et que l’accompagna a Porquerolles où un ancient souteneur, Marcellin, est abattu! Il se souvient aussi du vin blanc de Porquerolles! Il disait que Pike etait três elegant et serieux, mais que s’a profité du “voiage en travail” pour faire la belle vie au soleil de Porquerolles et dans ses eaux chaudes. Pfff... Que de dissimulés....

Haddock disse...

"mind the gap"!!
definitivamente somos muito mais giros, ainda que com queda "faduncha" para a melancolia.
deve ser do sol, que convida à informal espontaneidade de comer coxinhas de frango com a mão, de chorar baba e ranho desgostos amorosos e outros em plena via pública e de espirrarmos para fora sempre à espera do "santinho"...
e nós também não gostamos do exagero da beijoquice, mas antes isso do que aquele "passou-bem" mole e enjoado.

vale-lhes a pontualidade, que isso apreciamos.
hummm, que mais??
íamos elogiar a gap, mas é dos outros. é que a burberry já chateia!!

pronto, fica o elogio aos chapéus que se passeiam pelas corridas de ascot. ao menos são divertidos.
e outro para os monty phyton...

vénia...

nnannarella disse...

Revendo-me, assim, tua madrinha de baptismo, até é com prazer redobrado que vou repassando pelas hilariantes idiossincrasias duma das tuas costelas.
O pc melhorou, mas apaga-se amiúde. Tenho de chamar por todas as minhas reservas zen.
Se na outra noite tivesses acompanhado o bailado com o malhão malhão, acho que aquele andorinha das pipocas entornadas se teria rendido aos teus braços... ih ih!
Cocktails e cocktails!

Lizzie disse...

Cher Madame
quel plaisir de vous avez ici.
Bem sei que a opinião francesa não é muito abonatória em relação a estas criaturas
Não é preciso tomar o exemplo do elegante Pike, Madame, para ver do que são capazes esses caracóis nublados quando chegam ao sol e, ainda mais, ao mar. Parecem-me até,com a sua alvura, lulas em rápida metamoforse para lagostas. Encarnados e aos pulinhos como tontos.
Mas devo-lhe confessar Madame que , quanto a dissimulações, com quem eu não posso mesmo é com aqueles que os imitam. Ai Madame quel caricature...assim conheço uma família e quelle irritacion que sobe por mim acima com tal snobeira.Logo fica a minha costela espanhola, como diria Madame Nnánná,a latejar.
Também há aussi quem tenha a mania que é français,non Madame?

Enfin...

Lizzie disse...

Capitão:
pois sabei que também somos alérgicas a apertos de mão de gelatina. Ficamos até com vontade de olhar para a nossa para confirmar que não nos ficou um bocado da outra a escorrer palma fora.
Quanto a coxinhas de frango aí, Capitão, somos pela faca e garfo, mesmo quando abocanhado no jardim. Mas é mania nossa e não nos escandaliza quem pegue até na ave inteira, desde que mastigue com a boca fechada. Betoneiras é que nos mexem com o sistema nervoso.
E se fôr preciso berramos décibeis acima e partimos loiça embora não tenhamos costela grega.
Mas como sabeis, embora mais estridentes do que eles, para os espanhóis somos deles uma espécie de ensaio, assim tristinhos e de fado sereno cantado em silêncio.
Desde "piquena" que olhando para um lado e para o outro, me senti a meio caminho.
Destinos, Capitão, destinos.

Forte e resoluta continência.

Lizzie disse...

Meu Anjo madrinho
suspeito que o andorinha das pipocas nem com malhão nem com flamenco me caíria nos braços. Não sei porquê,tenho essa ideia. Diria "eu sou muito brincalhão, não levem a mal" e lá fugiria ele, qual pipoca a saltar na pipoqueira.
A mim parece-me que o ritmo me faz esquecer esta britãnica costela e acordar uma das outras.
As melhoras do teu agonizante pc

"i´ll survive" e "i´ll survive" deles.

Emma Larbos disse...

A andorinha da pipoca ficou magnífica no retrato, só igualada pelos olhos demoníacos daquele Cerebero negro.

Quanto aos ingleses, até lhes acho graça. E não é só à pontualidade, que muito aprecio. Todas as criaturas contraditórias, oxímoras têm a sua graça. Para atravessar, por exemplo, a selva africana em meados do séc.XX vestido de fato de linho e parando para mandar fazer o chá é preciso um tão arreigado sentido de civilização que temos de nos render.
É coisa que vem de longe, embrulhada em respeitável e prolongada experiência cultural

nnannarella disse...

Pois é. Como miss Marple, "grande conhecedora da natureza humana" e - que madame Maigret me perdoe -, com muito mais piada do que son mari.
Os teus diálogos finais lembram-na em conversica de chá, enquanto pensava no cadáver de língua roxa por causa do veneno ou no ensanguentado da loira sobre a carpete da biblioteca.
Bons dias e bons dias deles!:)

Lizzie disse...

Pois Mi Emma, o sentido da história é uma das coisas que gosto mais neles. O respeito sem aqueles ataques de novo riquismo comprado na Altamira.
Adoro as casas de campo, sem os tecidos às florinhas da Laura Ashley. Tão acolhedoras.

E muito gostava de ver o retrato do pipoqueiro. Tem certos tiques caricaturais britãnicos. Ora imagina-o lá de chapéu de coco e sobrecasaca. Uma delícia.

A pontualidade é que não herdei. Fico-me, entre outras coisas, pelo vício do ritual do chá.

Lizzie disse...

Sempre adorei a Miss Marple, tão inglesa patusca.
As conversas de chá sempre me pareceram livros de subentendidos: fascinante a elegãncia de tanto dizer sem quase nada falar.

Conversas e conversas.