


Para ver a constelação de dentro podemos subir ao terraço deste arranha céus e tomar qualquer coisa quente, que o frio ri-se do que faz por estas lisboetas bandas. Atenção aos hollywoodescos helicópetros que nos roçarão a cabeça como aves de rapina.

E não faltarão bibliotecas. Até poderá aparecer um bibliotecário velho e simpático que nos mostre os manuscritos do Damião de Góis, conservados em vácuo como tantos outros. E ficaremos espantados com o que de português existe ali, com todo o respeito e carinho pela história e cultura. Ah, os eternal dreamers, aqueles que chegam à beira do precipicio e empurrados descobrem a maneira de voar. Com a calma da poesia. Veja esta colectanea de poesia popular alentejana

Se quiser, pode requisitar uma cópia e ir para uma das enormes salas. As bibliotecas são formas de dar viagem ao mundo.
Podemos passar depois por esta igreja, onde ensaia uma orquestra. Toca música sacra em sítio apropriado e espantemo-nos...é o Te Deum de Sousa Carvalho. Cá onde ele anda
Se quisermos comprar uma revista ou um livro, podemos ir a esta livraria, muito espaço de saber e podemos até encontrar, já que estou entre portugueses, vários deles. Tantos cientistas, professores das humanidades, das artes, tantos quantos Portugal ignora. Ao menos os espanhóis divulgam em Espanha os que lá, ou noutros sítios, estão. A meu bocado de sangue português sente-se triste. Tanto valor, tanto desprezo. E, diga-se em abono da verdade, que ninguém tem grande vontade de regressar. Nem a ciência nem a arte têm pátria. E o Eça de Queiroz, sempre contemporâneo, ainda vai piscando o olho, ali, na estante, a ouvir a conversa.

Mas como a fome é global, podemos ir lagostar e frangar à beira rio, ou mar, até pode ser aqui

não se lambuza os dedos que é feio, então?
Depois podemos ir ver anoitecer em um dos parques cheios de laguinhos, ali vamos nós,

ladies and gentlemen. os esquilos.
Podemos depois ir a um clube de jazz livre, nunca se sabe quem se propôe actuar

ou a algum sítio mais de vanguarda, com teatro, dança ou performance.

E vamos dormir, porque talvez amanhâ as cores se esqueçam de existir para entrarmos no reino de uma só

a que , polvilhando, diz chamar-se Dezembro.