segunda-feira, 6 de agosto de 2007

valsa dos tristes amantes



Andámos à deriva por ruas,esplanadas,cafés de horas tardias à procura deles,a imaginá-los.Eles, que nos iriam sustentar os gestos,que nos iriam forrar a alma de um qualquer e indefinido abandono,que nos enchiam de palavras e especulações inúteis.

Acabámos por encontrá-los.

Estão em todos os tempos e lugares,em todas as esquinas onde o amor se vê contrariado na sua expanção eufórica de partilha.

Andam de olhos sempre baixos.Pisam o chão como se fosse alcatifado de vidro traiçoeiro.Sussurram as esperanças em bocas censuradas.Desconfiam da pretensa harmonia ancestral e melódica do mundo.Fazem parte de uma orquestra para os outros desafinada:sons que se ouvem sempre fora do tempo.Assustadores.

Mas são felizes na sua solidão enclausurada.Sabem o que os outros já esqueceram ou nunca chegaram a conhecer.Sabem que no calor de uma dança escondida pode estar toda a filosofia do mundo,a ternura de um segredo.E nasce a força nem que seja durante o tempo de uma ilusão.

Vi-os hoje,Chiado fora.Sei lá se tinham raça ou género.Ganhei o hábito,desde esses tenros anos, de só lhes olhar os passos fugidios no meio da muldidão entorpecida.

Só por isso,valeu a pena.Só por isso nos valeu a pena.



2 comentários:

St. J. disse...

Até dançam ao vento. Que oiço agora, a soprar entre as frestas das janelas. Sei que estão lá fora. Nem são invisíveis, porque, quando passam pelas árvores, as folhas dão por eles.

Boa Noite

Lizzie disse...

Dançam em todo o lado,Xantinho.
São daquelas coisas que procuramos nos livros,em teorias muito pensadas,em sociologias,em psicologias,e afinal estão à nossa frente de uma forma simples.Basta olhar,basta sentir.
Por acaso lembram-me sempre o vento nas janelas,ou então gotas de chuva miúda nos beirais,vistas através de uma janela.Talvez por terem qualquer coisa de clandestino,de não recolhido no conforto de um abrigo.
Sei lá,tenho ternura por eles.E pronto.

Abraço