terça-feira, 11 de novembro de 2008

Vem este a propósito do anterior e do que tanto se ouve, quer no cabeleireiro, quer onde no mais haja espera passando pelo meu chá das onze...

ah, vê lá tu, esta gente…com esta idade…
ou
a difícil arte de viver escondido



Tudo começou com um amigo de Fellini, Tazio Secchiali eminente fotógrafo de olhar indiscreto e, convenhamos matreiro, mas contido na pública divulgação,
que resolveu, aqui e ali, ir surripiando fotografias da vida privada das estrelas e realezas, até aí vistas como deuses inacessíveis numa esfera longe de qualquer humanidade em existência e normalidade.
Fez em fotografia o que já Truman Capote, Gore Vidal e Scott Fritzgerald tinham feito em palavras, mudando a identidade das vitimas. Dando-lhes outros nomes.

Pegou o vício a um outro senhor chamado Paparazzo. Este, sem qualquer ética na exposição das alheias intimidades, irritou Fellini, que lhe pluralizou o nome estendendo-o a todos os que de fugida e à má fé, roubavam recatos para alimentar e/ou destruir a reputação dos famosos. Exactamente: os paparazzi.



Até hoje muitas teses já foram defendidas sobre o sucesso do vampiresco fenómeno:

para uns a base estará no voyeurismo, por encanto ou raiva, sobre a vida inacessível dos que vivem com nome e rosto que se distingue da multidão;



para outros, uma forma de reavivar a mitologia morta dos contos de fadas, com moral actualizada aos tempos que correm;


há quem pense, ainda, tratar-se de uma forma subtil de criar e dirigir imagens de forma a condicionar gostos e opções da sociedade em geral (hei-de fazer um post sobre o kitsch, intimamente relacionado com esta tese);

e há quem veja uma forma de preencher solidões e vidas vazias, levando os leitores e espectadores das imagens, a fantasiarem uma rotina completamente oposta ao ressonar indiferente do marido, ao despertador das seis, ao trabalho mecânico sempre igual sem decisão nem pensamento, aos problemas dos filhos, ao estender da roupa, ao pensar do jantar de amanhã, que jardineira de frango já enjoa. E siga a roda.

Seja como for, é indústria sempre florescente, parecendo até imune a qualquer crise financeira. É capaz de dar um certo jeito que haja um afastamento da realidade: não virá grande mal ao mundo que a duquesa de Alba ( os meus respeitos) queira casar com um homem pouco próprio,



como Wall Street não dependerá da operação ao nariz da princesa Letízia Ortiz, Cinderela comum aterrada no colo da monarquia.

Existem dois tipos de paparazzi:

os que fotografam os famosos à má fila, sem consentimento e utilizando meios técnicos cada vez mais sofisticados,

e os que são contratados para fotografar os que querem ser fotografados a fingir que não querem dar nas vistas. Neste caso os interessados e seus agentes promocionais, também criam argumentos amorosos e outros mais ou menos excêntricos, para que o mundo fale deles. A qualquer preço. São mestres no fingimento da humildade e da ofensa.

Os furtivos são inversamente proporcionais no anonimato público e nas contas bancárias. Ganham fortunas. Movimentam milhões em cadeia e toda a gente ganha:


Os jornalistas utilizam uma linguagem tipificada, estudada e fartas vezes mentirosa para seduzir a opinião pública. A tragédia, a infidelidade (mais a feminina que a masculina) e o ridículo vendem mais que qualquer tipo de felicidade ou boa notícia.


Desde a morte da Princesa Diana de Gales que existe um amplo debate sobre os direitos e deveres mediáticos das figuras públicas, sendo este estatuto também objecto de discussão. Para a maior parte dos editores das revistas cor-de-rosa, a exposição da vida privada é o preço que se deve pagar por se ser conhecido numa sociedade onde se sofre por se ser anónimo, por não se ser estrela e em que interessa mais o protagonismo que o valor da obra feita.



Para outros, deve ser a figura a decidir e a marcar os limites entre o público e o privado das suas vidas.




Sob a guarda das Consuelos, toda a gente, nos seus estabelecimentos, tem direito a sentimentos privados, a ter olheiras, a dizer que está com dificuldade em memorizar papéis, em escrever, em coreografar, em desenhar, em inventar... em ter desabafos idênticos ao comum dos mortais.

E na maior parte das vezes, do que conheço, o lado timido de dentro é infinitamente mais bonito que o lado espalhafatoso de fora.



Mas isto, claro, é segredo!


24 comentários:

Vanda disse...

Lizzie,


mais uma belissima edição a tua!


Sempre me fez pensar, o número de revistas "cor de rosa" que se vende por esse mundo fora!

A Hola é um exemplo e até eu, quando de férias por terras de nuestros hermanos, tive entre as mãos alguns exemplares...

Acredito que seja mais fácil entreter o espirito, com os dramas coloridos de uma classe social a tender para a fartura, do que com os pequenos dramas domésticos, das vidas vazias e sem horizonte...outras haverá que, gostando de estar na moda, buscam nas fotos maneiras de estar, de vestir, de calçar, de fumar, de namorar :))ou até de jantar, que sem a indiscrição dos fotografos estaria muito fora de mão possuir :)

Nunca percebi como é possivel alimentar tal interesse na "sociedade"; será que com o passar do tempo, as vitimas dos paparazi (quase sempre as mesmas) perdem o estatuto de "estranhas" e são consideradas assim, tipo as primas afastadas de quem vamos tendo noticias e recebendo fotos por mail? :)


Não faz efectivamente o meu genero, mas que é um negócio de se tirar o chapéu, é...

Gosto muito mais dos teus posts :)


E já agora :) tiro o chapéu :))

Alien8 disse...

Lizzie,

Para mim, todas as teorias que apresentaste são válidas. Um bocado daqui, outro dali, razões várias e, muito seguramente, os mesmos interesses financeiros constantes do teu esquema.

Pelo lado de quem compra e lê, será principalmente a evasão da realidade o estímulo e a causa, já que as "notícias", "artigos" e demais conteúdo das revistas cor-de-rosa são maioritariamente, como dizes, artifícios, pré-fabricados ou não. E, mesmo quando são verdade, são a verdade de outros...

Sonhos cor-de-rosa, enfim...

Já a acção dos paparazzi (não conhecia a origem do termo) e a questão da reserva da intimidade da vida privada das figuras públicas são questões complexas, muito dependendo de quem "fotografa" e de quem "é fotografado".

Apetece-me dizer que as figuras públicas não podem evitar a visibilidade do seu lado público, mas têm o direito à reserva da sua vida privada. O problema é que muitas delas utilizam precisamente esse aspecto privado para se tornarem... mais públicas. E depois, queixam-se de quê? Quanto às que não exploram a própria intimidade por razões de fama e proveito, acabam por pagar pelas outras, como o justo, diz-se, pelo pecador...

Lizzie, se continuas a fazer posts destes, é bem possível que rapidamente te tornes (ainda mais:) vítima dos paparazzi!

Pois... também eu tiro o chapéu :)

Beijos.

Lizzie disse...

Vanda:

olha para mim a fazer uma vénia:)
Obrigada!

A Hola é das mais decentes. Em Espanha há umas horríveis, especializadas em lavar roupa suja, ou melhor, em sujá-la. Tipo Sunday Times (mais conhecido por Sunday Crimes)mas ainda para pior.

Tenho mesmo que botar faladura sobre o kitsch:) fica a resposta ao teu comentário mais completa.

Há,de facto, muita gente a criar uma relação ilusória com as personagens. Sublinho personagens. À falta de uma vida cheia, à falta de emoções, de histórias para contar, vão-se alimentando dos dramas alheios.Acompanham-lhes o desenvolvimento das novelas e aproveitam para fazer os seus julgamentos morais, definindo-se perante os outros: "Deus me livre se eu faria uma coisa assim...". " A minha filha apareceu grávida, mas olha que a Stephanie do Mónaco...":)

e lá vão milhões. Quando resolveram dizer que a filha do principe Felipe era cega, Vanda, esgotaram-se e esgotaram-se edições. E a popularidade da Letízia subiu em flecha.

Será uma forma de manipulação das mentes desprevenidas?

Tiro-te o gorro:)

Lizzie disse...

Alien:
também acho que as teorias não se excluem, complementam-se.

E sei de casos em que tudo foi pré-fabricado em estudada encenação. "Quem não aparece esquece". Contrata-se um jovem actor desconhecido e passa a ser a nova e desvairada paixão de uma dama. E lá volta ela, por engenho do agente, às luzes da ribalta e...ao seu apartamento onde lava os olhos com água de solidão.

E claro que há muito jogo perverso. Há quem se exponha porque não suporta não ter visibilidade.Tem o vício irritante de estar sempre em bicos de pés.E fingir-se ofendido é mais uma artimanha para "aparecer". Curiosamente, a maioria delas, embora haja excepções, não faz nada digno de louvor. De trabalho.

As que fazem escondem-se e só aparecem para a promoção dos espectáculos ou publicidade a productos. Disso,Alien,ninguém que esteja no meio pode fugir. É uma forma de trabalho, mesmo quando não se gosta. E, se a pessoa muito conhecida, sair a correr depois de uma estreia, passagem de modelos, etc, pode pôr os paparazzi a correr atrás dela. É uma técnica também, perversamente, utilizada.

O caso mais grave dos paparazzi foi terem deitado fogo a um prédio para fotografarem quem estava com quem. Outro foi uma ameaça de bomba.
O que ganharam com a brincadeira cobriu perfeitamente a indeminização que pagaram aos fotografados.

Qualquer dia conto-te uma história...já com muitos anos.

Tiro-te também o gorro e ponho a franja à mostra.:)

Beijinhos

Haddock disse...

nós também somos muito recatados...
daí quase nunca aparecermos nessas revistas de cabeleireiro e/ou consultório. gás pimenta também ajuda imenso...
mas com os tempos difíceis que se "adivinham", quem sabe não tereis, vódes e outréns, notícias (pagas!!!!) de nossa pessoa, com enredos fantásticos de ir à lua e voltar...

mas agora a sério, lizzie: vódes que frequentais paragens vizinhas, dizeide-nos: o que é que deu à multi-titular nobiliárquica doida senhora d'alba para se meter com o zézé camarinha??
(o que lhe vale é que é ela que manda calar o rey...)
e a leticia fez mesmo plástica??

e por acaso confirmais se o papa compra na "la perla"??

curiosidades rosáceas...

vénia...

Lizzie disse...

Capitão:~
antes de mais respondemos aqui ao vosso anterior porque estamos hoje muito cansadas e não nos apetece andar abaixo e acima.

Portantos, ao virar da esquina porque a portentosa Consuelo tem o seu estabelecimento ao virar da esquina na nossa morada lá. Podemos até ir de pantufas. Ou de pijama com grande casaco por cima por via das rosquilhas de abóbora a desoras.
No mais que lá botaiteis estamos de acordo.

Quanto ao presente: gargalhamos!

Somos de vos propor um negócio, nós que também somos recatadas.

Fingide-vos de três dimensões, vós que só vos conhecemos no papel, e vinde mais nós a uma recepção no Teatro Real de Madrid. Deixai-nos dar-vos uma bofetada (seremos suaves). Há um paparazzi baratinho que nos fotografará.
Dirá a parangona da Hola:

Capitan Haddock en crisis de matrimónio. La duqueza Lizzie de las Rebajas (saldos) se vuelve loca con celos (ciúmes) de Olivia, la Palitera.

Dirá a revista Siete Dias:

El machote Haddock se rompió los cuernos (estamos em Espanha) con uno puñetazo de portugueza chiflada (maluca dos chifres).

Cobraremos direitos de imagem mais justicial indeminização.

Cada país tem o Camarinha que merece. Este é especializado em geriatria.
E se a antiga foi amante do feio Goya, porque não poderá esta apaixonar-se por um com cara de estiva?
Sabei que sempre simpatizámos com a duquesa pela simpatia assim como achamos que mesmo que Letízia use o nariz na nuca terá sempre ar de antipática.

Os nossos informadores no Vaticano tornaram-se muito filosófico-teológicos-teóricos e citando Stº Agostinho só nos disseram, altivos e de vista cansada, que Sua Santidade traja Armani e Cucci. Nunca mais se viram catálogos da La Redoute naquelas paragens.

La Perla comercializa boxers, Capitão? Pensávamos que só...

Vamos vender este vosso comentário a quem mais pagar!

Continência.

A. disse...

...e até já, minha íssima, Eli.


*

Lizzie disse...

... e chego da viagem, Passarinho.

Da viagem ao mundo de dentro.Do mundo abraçado.

Até já...obriga...íssima!:)


Montes de sorrisos, em cima da árvore:)

Haddock disse...

...

del mejor!!

ahh... e calça prada, dizem...

Vanda disse...

Ai Santissima :) que o Capitão ainda passa à reserva :))


(impossível não seguir os capitulos seguintes, rssss )


Sobre as "primas e primos" afastados, conheci uma senhora, que por ler todas as diversas edições cor-de-rosa e cor-de- salmão, conversava imenso sobre todos os dramas e alegrias de que ia tomando conhecimento. Eu era a eterna tótó que não percebia nada:))os nomes não me diziam nada, quem? e logo me arrependo da pergunta :)foi um desfiar de descrições, de parentescos :) de situações :))...conhecer não conhecia, mas as situações afinal são identicas a todas as outras que não passam do anonimato, nas paixões, nas perdas, nas noites perdidas, nos sustos e nas solidões de quem se atreve a viver por conta própria...

Lembro-me de há uns anos, ser muito comentado um tal de marido da Carolina que mandava as camaras ao chão e afastava os fotografos com modos nada principescos, mas assim a lembrar, os dos homens das cavernas :)...lá teria as suas razões...cavernosas ou não :)


Sim, concordo com o Alien :) um destes dias, com esta qualidade de posts :) estão aqui todos a fotografar-te :) e a reinventar uma qualquer lenda :)

(não vá o diabo tecê-las e eu tb ser apanhada aqui a comentar-te inocentemente, vou já passar um baton suave nos labios :-D )


Já sem chapéu, fica o beijo...

Lizzie disse...

Capitão:

Fomos de ouvir dizer que só "O diabo veste Prada" e... desconfiamos que Meryl Streep nunca chegará a papisa. Se Sua Santidade tem dotes de actor com direito a hollywoodesco óscar, isso já não sabemos...

Se Gucci e Armani são vestidos no purgatório ou no céu...

continência

( os sapatos são Manolo Blahnik, shiuuuuu!)

Lizzie disse...

Vanda:
acontece-me, mais ou menos uma vez por mês, ouvir discutir as mediáticas vidas.

Às vezes sai-me um "ai que mentira" e logo sou mandada calar, por voz ou pontapé debaixo da mesa,com a advertência que não tenho nada que estar para ali a desmanchar romances que alimentam as horas vazias das pessoas, nem interferir nas cores dos amores alheios.

Coitada da Carolina que, pelos vistos, o único marido de jeito que teve, morreu num desastre.

Consta que apesar de ser uma das principais acionistas da Hola, é senhora de grande recato e sensatez sendo a mais tolerada pelas monarquias espanhola e inglesa e sueca.
Também ouvi falar nas tais atitudes de violência. Não sei se seriam casados em comunhão de bens...

E Vanda, se quiseres ser fotografada ao meu lado, mostra-te o mais natural possível: maquilhagem discreta e cabelo penteado como se acabado de sair da ventania mais uns gestos naturais de quem anda na rua sem dar por eles. Não queremos poses como se veêm nas revistas portuguesas. E passas-te a chamar Vanda von Blogstein.

Beijos

Haddock disse...

...

manolos?? com 15 cm de salto?? ainda cai da varanda...
estais mesmo certa, lizzie??

sabeis que ele recebeu uma menção honrosa na "esquire" pelo sapatinho brumêlho (da prada)??
(a miu miu deve estar aos pulos!!)

e vanda, nós somos da marinha mercante!! não há cá reservas...

vénias...

Haddock disse...

...

manolos?? com 15 cm de salto?? ainda cai da varanda...
estais mesmo certa, lizzie??

sabeis que ele recebeu uma menção honrosa na "esquire" pelo sapatinho brumêlho (da prada)??
(a miu miu deve estar aos pulos!!)

e vanda, nós somos da marinha mercante!! não há cá reservas...

vénias...

the joker disse...

lizzie, apesar do cansaço, li com agrado e de fio a pavio este seu post - esta é uma perífrase para «adorei».
Gostei também dos comentários. Recentemente foram l~evadas a cabo várias investigações sobre as revistas cor de rosa - e sobre os seus efeitos benéficos, positivos em quem as lê... Claro que depende do conceito de «positivo» e de «benéfico». De facto, o povo fica mais manso. Vai sonhando que tem aquela vida ~de festas e mordomias, vai chorando as princesas e esquecendo os patrões exploradores, os maridos alcoólicos, as mulheres inertes...
Dantes, tínhamos os contos à lareira e os romances de cordel, apregoados e cantados nas feiras e mercados. Hoje temos as revistas, as novelas e o futebol. Para descanso de Sócrates, de Maria de Lurdes, de Manuela Ferreira Leite e delírio de P.P. (esta do P.P. foi boca de cabeleireiro, para terminar no tem do tema. :-)
Só uso chapéu quando está sol ou chuva. Como não é o caso, presentemente, não lho posso tirar.
Cortaria uma rosa do jardim para lhe oferecer, não fora o receio de que a sua sensibilidade se ressentisse com a violência praticada sobre a flor,
Assim, socorro-me de um verbo usado no Brasil e... parabenizo-a

the joker disse...

onde se lê «para terminar no tem do tema» deve ler-se «para terminar no tom do tema»... eu não disse que estava cansada?
As outras gralhas não corrijo pois não impedem a leitura. As minhas desculpas.

Vanda disse...

Lizzie,

...mau grado da minha mãe, penteada foi caracteristica a que nunca me vi associada :)

Mesmo com esta idade :))


Baton também não uso.

Nos dias mais "negros" uso um "finge que não tem olheiras" :))

Estava mesmo a brincar, aquando do baton :))


Lembro-me perfeitamente do acidente que o vitimou. Nunca mais peguei no meu barco (nessa altura não falhava um fds sem marear) com a mesma desenvoltura...



E Lizzie, se me permites...



Capitão,

...com as minhas respeitosas continências de marinheira de 3ª, aqui deixo ficar registado o meu alívio :)



Beijinhos

Lizzie disse...

Capitão:

foi o que nos disseram, no meio do estudo de S. Tomás de Aquino. Quando foi confirmado a New Yorker noticionou desmaio invejoso mas da Sarah Jessica Parker tendo acordado quando soube que os saltos só têm 5 centrimetros.

Da Miu Miu usa S.S. pochette, em espanhol chamada de mariconera, onde guarda os lenços finamente bordados ao estilo da melhor Baviera, desaguando neles a sinusite diabólica que lhe entope o fluir do pensamento,o Centrum, ampolas de Sargenor 5, as pastinhas Rennie e um ou outro anti-histaminico.

Quando formos à tal recepção no Teatro Real de Madrid, levai aquele fato marinheiro que inspirou Chanel para o seu famoso tailleur.
Livrai-vos de levar essa camisola de lã cheia de borbotos.
Ficareis a condizer com o nosso traje, um exclusivo Lagerfeld.

Continência com rolos no cabelo.

Lizzie disse...

Joker:
antes de mais muito obrigada pelo elogio.

Toca o tema da ALIENAÇÃO, suponho.
Ora desse ponto de vista,aqui, refiro-me sobretudo às revistas espanholas. Nas portuguesas nunca ponho os olhos. Não lhes acho graça.

E,como sabe e em anteriores posts já falei, o povo espanhol é políticamente mais maduro.
Não foi pelo todo poderoso Gil y Gil aparecer todos os dias como figura do jet set que deixou de ser condenado, nem que Aznar perdeu as eleições em 3 ou 4 dias nem que a sua mulher, la Botella, foi acusada de abuso de posição na Moncloa.

Por outro lado, embora critique, não deixo de reconhecer a capacidade para distrair que têm os programas televisivos da Ana Rosa Quintana, direccionados para um público que fica em casa enquanto a população activa trabalha. A propósito das vidas das estrelas, lá se vai falando da violência doméstica e demais crueldades, homossexualidade e de uma forma ligeira sem presunção intelectual, de livros e espectáculos chamados de eruditos.

Não sou contra a que as pessoas se distraiam ou saiam da realidade, que tenham a sua dose de descompressão através da frivolidade:

estou é contra os métodos e estratagemas ABUSIVOS e pouco ÉTICOS empregues.

São coisas completamente diferentes.

Se a princesa Diana foi desmesuradamente mediatizada, também foi graças a essa mediatização que as pessoas acordaram para os campos de minas e para a SIDA.

Enfim, acho que se deve tentar ver sempre os vários lados das questôes.
E que a vida deve ser uma refeição completa: ter um pouco de tudo para a boa nutrição da alma.

Lizzie disse...

Vanda:

Também nunca fui muito penteadinha a não ser quando as circunstâncias impunham. Sabes lá tu que penteados usei...

quanto a baton não dispenso o do cieiro (escreve-se assim?)incolor. O sensualissimo vermelhão não liga com o meu tom azeitonado. Ficaria parecida com um cartaz espanhol dos anos trinta, tipo gitana anémica.

Olheiras? Neste momento talvez um camião tir de maquilhagem chegasse...

Quando do acidente, muita gente teve essa sensação.
Não em barcos mas em aviões, lembro-me sempre das bombas, depois esqueço-me. Se acabar aspergida na atmosfera, olha, paciência.

Mortinha por ver o capitão mercante de azul escuro, branco e dourado. Mortinha.

Beijos

the joker disse...

Cara lizzie, grata pela sua resposta.
Estamos de acordo relativamente aos abusos e a falta de ética (tanto de quem fotografa como de quem se coloca em bicos de pés para ser fotografado e telefona a dizer «estou aqui com x» e depois «ai credo, que horror, que não se pode ter privacidade».
O meu problema coloca-se, sinceramente, em relação à alienação. Já fui totalmente contra, já fui placidamente a favor e hoje não sei para que lado me vire. Creio que voltei a ser contra... mas não tenho a certeza.
Quanto à alegada maior maturidade política do «povo espanhol», não sei o que lhe diga... por um lado, a palavra «povo» é um «polvo» com muitos tentáculos e várias cores;se lhe acrescentarmos o «espanhol», a coisa piora. É que eu distingo os espanhóis dos catalães, por exemplo. Acho que não é impunemente que dominam duas línguas, sendo o catalão próximo também do francês. Receio não ter conhecimentos para poder generalizar mas posso dizer-lhe que as pessoas que eu conheço que falam catalão são mentalmente mais ricas do que as que apenas falam castelhano (espanhol, como voltou a ser moda). Quanto aos andaluzes, não lhes consigo ver muito mais maturidade política ou... do que entre nós.
Por outro lado... O Aznar começou por ser eleito! Essa é que é essa! E, não fora a história da bomba e a sua inabilidade ao tentar tirar proveito político do horror, não sei, não sei... Parece que ele estava à beira de ser reeleito. Poderemos, então, falar em maturidade política?!
Beijinhos

Lizzie disse...

Joker:
por enquanto, para mim, espanhóis são todos. Estou a falar de um país com várias regiões autonomas, mas uno, como se vê cada vez que é necessária unidade.
Por essa ordem de ideias também não devíamos dizer "os americanos", "os alemães", os "canadianos", "os suiços"...
na minha opinião, Madrid e Barcelona complementam-se. E espero que esta deixe de expulsar e ser hostil para quem não fale catalão. Está a perder muita gente "útil" por causa disso.

E, vendo bem, olhe que não sei se a cultura catalã é superior à castelhana. Talvez seja mais histriónica sobretudo agora que se quer afirmar, mas nestas coisas, como noutras, não gosto de falar em superioridades.

E também não acho que a língua ou a cultura francesas, sejam superiores à castelhana, à portuguesa, à inglesa( onde o conceito de prática democratica primeiro se instalou) ou americana.

A França teve o seu tempo de proa, como o teve Portugal. Mas já passou.

Quanto à Andaluzia, como todas as geografias de predominãncia agricola, é mais dada a visões retrógadas. É assim em todos os países. E existem muitos estudos sobre isso.

O Aznar foi eleito porque, se bem se lembra, o governo de Gonzaléz, estava podre de corrupção e mentiras. Permitiu que os clubes de futebol, as empresas de construção governassem o país. "Tachos" partidários e sindicais distribuídos a rodos. Polícia secreta a vasculhar e a matar inocentes.Demagogia e anarquia. Foi fácil dar a vitória à oposição. E, pondo ideologias de parte, que são coisa de opção pessoal, veja o desenvolvimento económico e social que a Espanha teve.

Maturidade política? Como é que se explica que os votos tenham, em duas ocasiões, passado por cima de toda a máquina montada de propaganda?

the joker disse...

cara lizzie, vai desculpar-me mas eu sei que tenho dificuldade de comunicar por este meio. Nesse particular estou atrasada (mas sou, sempre fui, contra as touradas). Eu não falei em supeioridade de línguas. E sim, encurtei e baralhei. Eu escrevi «as pessoas que eu conheço que falam catalão são mentalmente mais ricas do que as que apenas falam castelhano [...]Acho que não é impunemente que dominam duas línguas, sendo o catalão próximo também do francês» Eu acreditoi que não se pode sensinar língua sem ensinar cultura; logo, não se pode aprender língua sem aprender cultura (falo de cultura enquanto oposição a natura e não enquanto erudição que nesse caso chamo-lhe isso mesmo, erudição). Dei, em tempos, aulas de português a estrangeiros. Tive alunos vindos de Espanha, (incluindo canárias), de França, Holanda, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Austria, Reino unido e Japão. Os alunos que apresentavam maior dificuldade eram os ingleses (mais que os escoceses e que os irlandeses) e os espanhóis; os que me chegavam da Catalunha eram dos melhores. Eram também esses os que se apresentavam mais disponíveis para tentar perceber as diferenças linguísticas com vista a separarem o que PARECIA português do que ERA português. E também os mais abertos a «inovações» didáctico-pedagógicas.
Quanto a Aznar, não tenho saber (de experiência feiro) suficiente para continuar o diálogo. Por cá o que se disse foi que as sondagens apontavam para uma vitória até ao momento em que ele resolveu acusar a ETA pelo atentado.
bjs

the joker disse...

desculpe-me as gralhas; estou a usar um teclado muito perro... além disso, quando reli o comentário já publicado, verifiquei que voltei a deixar a ideia incompleta. Queria eu dizer que estou convencida de que os catalães, por terem contacto com duas línguas/culturas diferentes, acabam por ter um pouco mais de elasticidade mental - ainda que compreendo que a possa incomodar a arrogância com que tratam quem se recusa a falar catalão. Mas olhe que eu acho que nós deveríamos ter a mesma atitude com os estrangeiros que nos visitam e nos obrigam a falar em inglês. Já nem nos perguntam se podem falar em inglês; dirigem-se a nós de imediato nessa língua da preguiça.