terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pequeno episódio da vasta, controversa e não autorizada autobiografia da Lua



Desta vez não me lembro onde nem em que tempo me foi contada esta história, mas muito bem em que circunstâncias a transmiti: Madrid, ontem a caminho de hoje, uma hora da manhã, meia noite em terras lusas, então subam para comer qualquer coisa, obrigada, fica muito tarde e amanhã tenho que estar em Lisboa, venham lá, a Ignacia deve ter uma nova fornada de frango assado, está bem mas não me posso demorar, não tenho a vossa vida, a lua está mesmo cheia, ai o que isto engorda, onde é que tens o saca-rolhas, é só aquecer os cogumelos, onde é que tens os pratos, olha, põe já esses…




Contaram-me mas não sei se é ou não verdade porque, já se sabe , a Lua é a embaixadora por excelência das mulheres na complexa conjuntura do firmamento e das mulheres já se sabe que são mentirosas, dadas a fantasias e a loucuras, ou seja lunáticas, fraquinhas de espírito quando não mesmo aluadas, ao contrário dos homens, mais tenazes , fortes e seguros, assim como o astro rei que é o sol e disso não há dúvida nenhuma.


Bom, não interessa.

Mas a lua, com obsessões auto biográficas, contou uma vez que, antes do principio dos tempos, andava tão cansada, tão estoirada de aparecer como protagonista todas as noites no céu, tão cheia de olheiras a que os homens quando foram criados chamaram crateras e outros nomes pouco românticos que não convêm agora à compostura da prosa, que pensou em tirar férias em no canto mais escuro do Universo ou noutro sítio qualquer.

Por uma questão de produtividade e continuidade luminosas, enquanto o sol dormia o sono dos justos, a lua que era responsável e diligente, começou a procurar quem a substituísse na função.



Dirigiu-se então, ingénua e virgem quanto aos poderes distribuídos aquando o Big bang, ao sol.

O sol riu-se, encolheu os ombros, e enquanto lhe virava as costas com rastro gingão, respondeu-lhe que nem pensar, que era demasiado brilhante para iluminar a noite e que esta requer luz pálida, fraca, submissa, pacata. Já não lhe chegava o reflexo com que ele a brindava?


Iria lá ele desperdiçar, luz, diminuí-la, para não ferir a susceptibilidade histérica das trevas.

A lua foi então ter com um soberbo falcão.


A portentosa e engalanada ave, ornamentou o céu com um voo acrobático e certeiro, pousou, franziu o sobrolho e negou qualquer disponibilidade à lua. Como calculista, racional, preciso e pragmático que é, fundamentou a decisão em itens dizendo-lhe que:

a) nunca teria paciência para andar pelo céu tão devagar como a lua. Para ele demoraria um segundo a ir de um ao ponto cardeal oposto;

b) a lua era simplesmente branca e ele, tinha aquele colorido nas penas de que não estava minimamente disposto a abdicar. Não lhe apetecia ficar grisalho quanto mais alvo, com manifesta imagem de idoso ou, pior ainda, caduco.

Voou e desapareceu para o outro lado da linha do horizonte deixando as alínea c) e d) a evaporar-se, inaudíveis, no vento .




A pensar nas cores, a lua abeirou-se da altiva gaivota.



Esta, depois de exibir os seus dotes aéreos em voltas, revoltas e planados, desculpou-se, mas que era ser diurno, além de intima do sol e de ter sono profundo durante a noite, altura em que o mar escondia todos os cardumes no fundo do seu breu e como poderia então ela alimentar-se, assim pendurada no meio do astro?



E se adormecesse, não cairia no oceano, escondendo-a ele para lá da eternidade?



A lua foi então ter com as nuvens que ao ouvirem a sua história logo se começaram a desfazer em lágrimas.

Oh quanto a lamentavam, mas bem sabia ela, que lá de mais alto as via que, embora brancas durante o dia, com o crepúsculo iam mudando de cor até se confundirem com a negrura de tudo e de todos. E que, por ordem da tempestade tão depressa nasciam como morriam. Podiam lá elas garantir a luz eterna e sem parança?

Mais tentativas vestidas de contactos esperançados fez, mas que agora não me ocorrem mas sei terem sido do mesmo e trágico teor.

A lua foi então sentar-se em pranto. Durante todo o dia chorou com tal desgosto e desespero que quando entrou em cena na noite estava inchada e tão vermelha que as estrelas se juntaram como num cabeleireiro ou afim e sensíveis impressionadas e curiosas como mulheres que também são, foram ter, devagarinho com ela.

Ouviram-lhe os queixumes, pensaram e tomaram-se então de manhas.


Aconselharam então a lua a fazer desaparecer todos os dias um bocadinho do seu corpo e, em consequência da sua luz.

Hoje uma pequena fatia de si, amanhã mais um pedaço de forma a que a Terra, como distraída que é aos pormenores e subtilezas, não notasse.



Deste modo e durante aquele tempo, que mais tarde os matemáticos inventariam como sendo uma semana, poderia descansar, ou ir para diversão lá onde nada é dos terrestres conhecido ou imaginado.


Além disso, desaparecida assim a lua, mais brilhariam as estrelas no seu fulgor levando a Terra a perdoar a ausência lunar, compreendendo que melhor é viver com duas belezas que apenas com uma só e que quantas mais forem mais se alimentam os sonhos e os engenhos da Terra que não dorme e cujos pensamentos são mais livres e soltos tanto no escuro como no extraordinário  vagar do silêncio.





25 comentários:

augusto, um entre mil disse...

mais falada e admirada que as estrelas e, afinal foram elas que encontraram a solução de tão angustiante situação. bem inteligentes e engenhosas, sem dúvida, as mulheres estrelas.

por vezes gostaria também de uma semanita (várias por ano) para me evaporar, não sei bem para onde nem para descansar de quê, de que cuidados.

mas, porque ultimamente me vai sendo mais difícil estar só, não iria certamente para alguma ilha deserta. não me apetecendo também grandes convívios, teria de pedir às estrelas uma sugestão para uma solução satisfatória. se é que a há...

fortes, seguros, não me parece serem tais atributos apanágio exclusivo dos homens. mulheres conheço que os têm em quantidade. assim como tenacidade.

parece-me, Senhora, serdes vós também possuidora de tais qualidades.

e aqui, sem mais nem menos e, possivelmente pouco a propósito, lembrei-me de um filme que vi, teria eu os meus 15 ou 16 anos: The Blue Veil, com Jane Wyman. filme que já tentei que a fnac me arranjasse mas sem êxito.

entretanto, tendo perdido o fio à meada, apresento, Senhora, as minhas despedidas.

voltarei

Lizzie disse...

Senhor:

pois eu gostaria de me evaporar todas as semanas num ano sobretudo depois de ter estado, como nas últimas duas horas, a aturar uma mulher que nem é estrela nem lua e mais parece uma pista de aterragem para mata-moscas, apetrecho que muito utilizei em pensamento, tanto que até o gastei em forma de "tenha calma".

Também não iria para uma ilha deserta porque duvido que Doña Ignacia, que tão bem vive rodeada da sua fiel e variada clientela entre gritos flamencos e outras exterioridades como Julio Iglesias, fosse atrás de mim para me fornecer frango assado no carvão
(qualquer dia os ditos saltam da grelha e mesmo sem cabeça cantam e dançam Madrid fora)

à uma da manhã ou pela noite fora como é uso fazer na sua loja.

Como toda a gente, gostaria de ter tempo para viver sem interrupções aquilo que verdadeiramente me está na natureza.


Infelizmente, Senhor, ainda muito há quem pense (e sinta) em todos os homens como fortes, seguros, vocacionados para o comando e em todas as mulheres como fracas, indecisas, dependentes e perversamente ardilosas.

Isto mesmo quando o politicamente correcto lhes manda que lhes saia pela boca fora a ideia oposta,leiam como matriz Simone Beauvoir (que detesto tanto como as quotas esmolares no parlamento porque para uma mulher ser, digamos, dona do seu destino no que isso é possível, não precisa ponta de corno de imitar os comportamentos masculinos institucionalizados e que, aliás, às vezes também não lhes devem ser confortáveis).

Conheço muitos que ficariam mais felizes em ter uma "companheira e amiga" ao lado que "uma criada de servir".

Fico irritada quando ouço raparigas novas e com formação, como licenciaturas, comentarem em tom de crítica que "quem usa as calças é ela" e "ele é corno" com risinhos à mistura".

Acho tal conversa um insulto a todas as mulheres e filhas que foram maltratadas, amassadas e que carregam com as cicatrizes (quando não as feridas abertas) da brutalidade durante toda a vida.

Também não acho graça às revistas femininas de má qualidade que ensinam técnicas para "caçar homens".

Credo, Senhor, as pessoas encontram-se, não se caçam.

Não sei se terei as qualidades que tão simpaticamente me atribui e que agradeço mas ser mulher (coisa que gosto de ser) nunca me impediu de ser o mais autêntica possível. Com fraquezas e fortalezas que acho independentes de género. Muitas mulheres as terão e também muitos homens.

Também gostei de tal filme que, aliás, em castelhano tem o titulo de No Estoy Sola.

Alguma estrela deve ter recomendado aquela interpretação a Jane Wyman. Uma das actrizes, não de plástico, que utiliza os movimentos do corpo, para dar expressão às personagens.

Se as estrelas me levarem até ele em Madrid, disso vos darei notícia para que chegue até vós. Seja qual fôr a fase da lua.

E com a beleza da noite que acaba de se sentar, vos envio os meus respeitos.

Lizzie disse...

...e, já agora, amanhã botarei aqui um quadro de Miró, por quem tenho especial ternura, inversamente proporcional à que tenho por Picasso e que nunca teve a mania que era sol a bater de chapa nos galinheiros.

Lizzie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
augusto, um entre mil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
augusto, um entre mil disse...

...vi também mudanças de luz e sombra na vossa casa pequena.

Senhora,
não conheço as (auto)biografias, autorizadas ou não, de qualquer dos artistas, mas, como artistas, gosto de ambos.

aguardo Miró, deixando os meus respeitos.

augusto, um entre mil disse...

Senhora,
li primeiro a vossa escrita mais pequena; deixei a primeira, por ser a maior, para ler com vagar.

................................

apesar da minha idade não sofro ainda (ou disso não me apercebo) de desinibição frontal, sendo, portanto com alguma vergonha que vos confesso não saber muito sobre beauvoir. conheço vagamente as suas ideias, do que escreveu nada li.

dela recordo uma entrevista em que se queixava de que sartre, já avançado na idade, não queria tratar da sua higiene, chegando mesmo a cheirar mal, o que, como até é compreensível, muito a incomodava.

dele, aos anos que o li, quase na totalidade.

por agora despeço-me, Senhora, pois, para mal dos meus pecados tenho que alterar a minha rotina e levantar-me com as galinhas.

desejo-vos um sono muito reparador.

Lizzie disse...

Senhor:

andamos coincidentes pois hoje, que ainda me parece ontem, tive que começar a trabalhar às 5.45 da manhã. Se há coisa que me perturba é servir de despertador às galinhas.

Li Beauvoir e arredores há muitos anos e, devo dizer, um pouco contrariada, porque, que quereis?, a minha mente é muito anglosaxónica e os embrulhos franceses, às vezes, fazem-me sentir como se não tivesse dormido.
Defeito meu, por certo.

O que acho é que tudo tem a sua justificação consoante o contexto histórico.

Talvez a Beauvoir tivesse sido a lua mas e muito antes, outras noutras terras (já botei post sobre as "amizades bostonianas", p.ex.)foram as estrelas: em termos práticos e mantendo a feminilidade,lutaram pela educação e, sobretudo, pelo acesso ao trabalho.

Ía-vos contar a história de Rose Kennedy, contemporãnea das lutadoras mas firme convicta da insuperável superioridade cerebral masculina e da consequente e natural dependência femminina mas após este intervalo tenho que voltar ao trabalho.

Também gosto do Picasso como artista. Agora como pessoa (para homens e mulheres)...

E Senhor, as biografias são interessantes para se compreender a obra. Leio sempre uma a favor e outra contra porque acredito que não as existem totalmente absolutamente verdadeiras.

Mais logo vos visitarei. Entretanto vos envio os mais sinceros respeitos.

augusto, um entre mil disse...

por vezes fico indeciso. terão sido feitas arrumações nesta casa? mas desta vez não tive duvidas, a lua seguiu o conselho das estrelas e vai mudando.



e, Senhora, tendes razão, convém ler, sempre que possível, a favor e contra e tento fazê-lo. não só nas biografias que, confesso poucas li, mas também noutros campos. biografias li na minha juventude, mas depois poucas.




vim propositadamente ver miró. eu diria que, em baixo à esquerda, vai uma cegonha transportando no bico uma criança.

deixo-vos, Senhora, os meus ensonados respeitos.

Lizzie disse...

Senhor,

pois a lua que aqui vedes foi justamente apanhada da vista da cabeceira do meu leito. Com que saudades ando dele porque tão poucas horas nele tenho tido poiso.

E este é um dos meus preferidos do Miró.

É possível que seja uma cegonha e uma criança.
Por andar a fugir de guerras políticas e pessoais
(ai o que Picasso e outros o massacraram e com que partidas de mau gosto),

nesta série, dedicou-se a pintar a noite com toda a sua mitologia. Lua, pássaros, estrelas...tudo inspirado na música de Bach e Mozart.

Como ele era considerado como feminino(Lua) em oposição, já agora,ao masculino Picasso (Sol), muito mais tarde para além deste quadro, um grupo de bailarinas meio malucas tomaram inspiração nas suas Constelações.

Como tinha um grande fascínio pela dança, não se pode dizer que não tivesse ficado tudo em família.

Também na Moda, andaram as Constelações. Se me lembrar onde tenho, também vos mostrarei.

E sim, Senhor, em tudo gosto de saber várias opiniões sobre o mesmo assunto.

Desejando-vos um bom sono e fim de semana daqui vos envio os meus respeitos.

Arábica disse...

Muito satisfeita fico pelo ajuizado relatório que ambos tricotaram acerca das estrelas.
Continuo a mãos com uma, um exemplar pequeno e de certa forma, já distante do brilho iniciatico da sua vida de estrela.
Meia farruscada pelos carvões terrestres, pelas mãos abelhudas que a tentaram conter ao longo dos séculos, continua meia descuidada e muito sonhadora a cruzar os céus para pousar em qq aparador de lareira que lhe pareça carente de infinito.
Acredita na metafisica como as mulheres licenciadas de hoje parecem ainda prontas para ler corin tellado em formato de novela diária televisiva. São apenas as várias fases da lua, afinal...

Votos de bom ano querida Lizzie.
E que as semanas de viagem sejam anos na sua intensa e metaforica existencia. Beijos para ambos.

Lizzie disse...

Vanda,

oh pobre de mim, que as minhas estrelas parecem ter fugido todas para além do infinito, lá para tão longe que uma pessoa nem em sonhos imagina onde será.

Eu cá acho que foi vingança por eu não acreditar nos signos. Acho até que a constelação de Virgem foi a primeira a fugir:))

Também não lhes custava nada...

Mas enfim, por acaso, daqui a um bocado vou levantar voo com asas emprestadas e, lá em cima,talvez meta a mão fora do peito do pássaro e rapte uma para me iluminar de manha.

Ora as telenovelas são uma forma muito simples de transferir a vida que não têm, de pedir sonhos emprestados em enredos cheios de curvas, como o futebol (enquanto "doença",claro) serve para marcar os golos dos outros, num campo de batalha imaginado.
Acho eu.
E estas coisas estão a modos que muito infiltradas e não se sacodem facilmente.
Se calhar a maneira como se vivem, para o interior e para o exterior, os afectos também é civilizacional. E cultural.

Ainda não me esqueci que te cravei um jantar. Estou em dívida.
Apesar das aventuras até chegar a um caminho conhecido para casa. Que raio de bairro:))

Tem um bom ano.Se não fôr com estrelas novas, ao menos que sejam recauchutadas.

Beijinhos

Lizzie disse...

Senhor,

aqui vos mostro como as estrelas de Miró foram despenhar-se, mas com vontade de fuga, na cabeça de Rossy de Palma, almodovariana sempre "à beira de um ataque de nervos" e que em sonhos, depois de ter ingerido comprimidos no gazpacho servido por Carmen Mmaura, perdeu a virgindade e que é considerada uma das mulheres mais feias de toda la España mas que faz as delícias de qualquer fotografo, tal é a versalidade da criatura.

Os meus calmos respeitos.

(Não fosse a pressa com que estou e ainda iria botar tapete palavroso na vossa casa, mas o tempo, senhor, o tempo...)

Arábica disse...

Cono! Esquece o jantar! Que não foi cravado, foi oferecido, há quantos anos não nos víamos!
A não ser que seja para repetirmos. Mas com pratos partidos desta vez, sff, que isto anda tudo muito dentro da linha, muito certinho, muito louça de sacavém, num tempo em que todos os dias me ocorre a louça das caldas, bordalo pinheiro.
:) Voa bem...! Beijos

augusto, um entre mil disse...

Senhora,

já vi que me deixasteis uma missiva que ainda não li. vi também que houve novas arrumações que não estavam ontem.

neste momento estou a ver no foxmovies pela quarta, quinta, sexta ? vez o filme pretty woman. não sei que estranho fascínio ele exerce em mim...

quando a sessão acabar volto cá...

augusto, um entre mil disse...

ontem voltei ainda, como dissera. mas nada consegui escrever. e hoje, Senhora, o mesmo acontece.

talvez, sem jeito porque vos falo de pretty woman e vós, em outras casas, falais de Visconti.

com admiração, humildemente, vos deixo os meus preitos.

Lizzie disse...

Vanda,
já fui e já voltei. Mais uma viagem embrulhada em papel de fibra apressada.
O pior é mesmo voltar porque à medida que o pássaro vai indo, o mundo parece maior e mais aberto.

À medida que volta, o mundo começa a encolher porque o problema está no subsolo que fornece a matéria prima para os pratos.

Já se experimentaram vários designs para a louça, várias temperaturas para os fornos mas toda se partiu e vai continuar a partir.

Depois há sempre alguém que acredita cegamente nos vários fabricantes e se convence e tenta convencer os demais que Sacavém é igualzinho a Limoges. O problema é que alguns dos tais fabricantes já estão mortos.
Mas enfim, cada vez que aterro percebo que nunca mais voltei:)

Qualquer dia ofereço-te um jantar.
E quero lá saber da loiça...desde que se coma.

Bjs

Lizzie disse...

Senhor,

credo!

Lá por andar em casas alheias a falar de Visconti pensais que sou mulher para desprezar o Pretty Woman?

Por acaso pensais-me como uma daquelas intelectuais sisudas e compenetradas com pensamentos obrigatoriamente estratosféricos que não botam o pé na terra para que não se suje com a lama do que realmente tem correnteza?


Pois que, imaginai a coincidência, que ainda anteontem, muito falámos do Pretty Woman, que, Senhor, tem situações em redor da história, que são um retrato fiel do que se passa em muitos meios.

Sabei que uma das mulheres que estava comigo e agora é uma pessoa com sucesso porque sempre lutou por ele contra ventos e marés e passou muito mal em nova,em guerras e assim, apesar de nunca ter sido prostituta, passou por humilhações tal e qual a Julia Roberts mas sem um Richard Gere com mão protectora.

Se fôr o Pygmalion do Bernard Shaw, porque é do Bernard Shaw já é, por isso, respeitável?

Não será a mesma estrutura?

Senhor, o que me comove no Pretty Woman é a simplicidade que leva à ternura pelos personagens.
Além de outras coisas.

Se gostais, vêde e revêde e voltai a rever.

Tenho alguns que revejo, nem que seja para pular por algumas cenas, que também me fascinam.
Não me preocupo porquê. Fico-me pelo prazer de as rever. E chega e já é muito.

Como sempre e sobretudo,os meus respeitos.

augusto, um entre mil disse...

Senhora,

por vos ler, com gosto,atentamente, há já algum tempo, penso-vos uma intelectual, sisuda quando assim o achares e, capaz de saltar na lama, inesperadamente, salpicando tudo à volta.

se assim não for, esteja eu muito ou pouco errado, não deveis preocupar-vos. a mim basta-me ler-vos com prazer quando vos visito ou me visitais.

é, também sem me analisar, ou raramente, que oiço a música, os filmes e os espectáculo que me agradam. sem intelectualidade, que não tenho, embora por vezes haja quem o julgue.

.................................

vejo que, apesar das vossas "andanças", arranjais tempo para, esmeradamente, tratar da vossa casa.

despeço-me, com o prazer de sempre nestas minhas visitas à vossa casa.

augusto, um entre mil disse...

Senhora,

não conhecia este Miró.


andeia a "coscuvilhar" e encontrei: hans thoma, moon. a imagem aparece pequena, mas clicando aumenta.

possívelmente já por lá passateis.

bom fim de semana, com repouso ou agradáveis ocupações.

augusto, um entre mil disse...

hans thoma, moon

bettips disse...

Dos ciclos e da lua sabem as mulheres. Se pudessem, por vezes desapareceriam, diminuindo ou aumentando a necessidade delas...
(mais)Uma história de encantar, com as tuas imagens de provocação e descobrimento.
Bjs

Lizzie disse...

Senhor,

este Miró chama-se a "Bailarina" e é um dos muitos quadros e desenhos inspirados na dança que por sua vez inspiraram movimentos a quem pinta com o corpo.

A criação é, assim, a modos que espiralada.

É curioso que em alguns destes, as linhas sugerem notações coreográficas, ou seja, se não estais dentro da coisa, aqueles riscos que são para a dança o que as pautas são para a música.

Miró, como Klee, parece dar instruções.

Quanto a Hans Thomas, tem coisas que gosto e outras que não (sabeis que tenho alergia aos pré-rafaelitas e de vez enquando anda lá perto).

Acho graça à espécie de ilustrações que faz da mitologia germãnica.

Um dia, descobri por mero acaso que, clicando, as imagens crescem. Vêde como sou entendida na computação.

Senhor, também vos desejo uns dias que vos respeitem, sendo ou não fim de semana.

(fui a Vossa Casa mas vi que estais de repouso)

Lizzie disse...

Bettips,

tanto quanto sei, e das que sei, para todas as culturas a Lua (para o bem e para o mal) é um simbolo feminino, do silêncio, do mistério e ás vezes de uma sabedoria discreta e pouco exuberante.

E de facto há muitas mulheres que, por necessidade ou condicionadas pela educação, são meros reflexos de um brilho maior e outras, ou as mesmas, amassam um silêncio dorido que é sinfonia ou desacerto que só se vê no olhar inquieto, ansioso e por vezes duro.

Lembrei-me agora de uma lenda em que a Lua é um pedaço de Terra que se escondeu no céu para chorar. E é por isso, que as pessoas tristes perdem o sono e ficam a contemplá-la, à laia de Grande Mãe compreensiva que não se ri nem do patético alheio.

Engraçado que não me lembro da cara de quem me contou esta mas estou a "ver" perfeitamente as mãos e o contorno num fundo de céu duro, gelado mas cristalino.

A memória lá sabe o que escolhe:)

Bjs

bettips disse...

1817? Tão belo o trabalho no ferro, a solidez (a solidão) das portas.
É de facto uma pungência, uma urgência que a memória possa ser restaurada. Mesmo que seja (ainda e só)dentro de nós.

Das mulheres o que sobrou na Lua foram as olheiras das noites a pensar. Somos bichos de mistério.
Bem o sabem os artistas.
Almodóvar, si, que planeia e mostra a maestria dos sentimentos tão controversos delas. Só um homem como ele poderia abranger a dualidade dos sexos, com aquela ternura tão sua.
Bjinho