quinta-feira, 17 de março de 2011

Andando ainda , qual magala, a toque de caixa, resolvi, em vez de escrever comentário de resposta ao Senhor Dom Augusto, Distinto entre Mil no post de baixo, fazer este novo.

resposta por resposta…


vai este.Tenha eu tempo de ir ao sótão buscar os quadrinhos para enfeitar as paredes.

Quanto a modificações em casa, pois cá eu, nem que já esteja no leito (que tão pouco tenho gozado) a horas tardias, lembro-me de mudar o sítio de móveis, quadros e o mais que seja.

Ilusão do novo, do diferente, do variado.

Como se a mudança implicasse um novo início, embora muitas vezes não saiba de quê nem para quê.
Porque não poderão haver actos sem filosofia de pacote que os justifiquem?

Só o despertador, mesmo mudado de sítio, teima em gargalhar à mesma indecente hora.
Ai o grandessíssimo filho dos bons costumes que anda sempre mais depressa que os meus perversos hábitos.

E agora vamos aos artistas, ou assim mais ou menos que, às vezes, é difícil discernir o que é doutamente classificado como Arte do ofício hábil de descascar batatas em fino corte.

Mas pronto, parece-me que é destino bicudo dos Artistas que têm a Arte no peito, andar à procura de obra que os satisfaça em pleno e sem paliativo mesmo quando sofrem de desmesura na grandeza do ego.
Estou-me a lembrar de dois narcisistas puros, como Durer



e o bailarino setecentista que inventou alguns dos passos daquela parte da Dança que se chama Ballet, o gracioso Gaetano Vestris (a quem já dediquei prosa de maledicência, se bem me lembro).



E talvez essa loucura compulsiva de conseguir expressão perfeita, seja o motor que os move: cada surpresa, se forem artistas que inventem a partir do coração, leva a outra. E a surpresa sucessiva de cada descoberta, é mote de grande vício sem cura.

Até Mondrian, que era geómetra na cabeça, perseguia o milímetro certo que não perturbasse o equilíbrio da conversa entre as cores .



Assim, mesmo os para nós perfeitos Mikhail Baryshinikov e


Fred Astaire,


se viam tão imperfeitos que levavam a sua ambição interior de perfeição até ao sangue, como peregrinos em chão de terra árida.

Conheceis a história do escultor que começava a obra com grande penhasco de pedra bruta e a acabava, insatisfeito, do tamanho de um caroço de azeitona?

(Esta história sempre nos serviu de refrão para a desgarrada que cantávamos, seguido do outro “diz ao roto para o nu: porque não te vestes tu?”)


E tal, chamemos-lhe necessidade, pelo menos nos que conheço, é mais virada para dentro do que para o reconhecimento exterior.


Para muitos é uma questão de honestidade na glória, mais que a visibilidade dos prémios ou distinções.

Como pessoas, são normalmente discretos. Com o corpo exposto mas a alma escondida debaixo da primeira mesa que encontrem.

Quanto à tristeza, ( nestas coisas é estado que também tem moda e aproveitamento publicitário) que tais ansiedades e ambições trazem, será coisa do temperamento ligado à história de cada um.

Seja ou não considerado oficialmente artista.

Ao longo do tempo sempre houve quem ligasse, até de forma anedótica, a tristeza e a melancolia extrema ao acto criativo e pensador.
Voltaire, consta, espremia os sacos lacrimais para mostrar a sensibilidade face aos mais idiotas poemas ou traços que socialmente lhe apresentavam.


Usava-se muito na altura o derramar águas sentimentais mesmo quando o coração era granítico.
Mais tarde criou-se o mito da infelicidade, a desgraça e a loucura, serem condição indispensável para o artista ser digno de tal estatuto.



Embora tal ideia dure e seja cultivada e regada ainda nos dias de hoje,


vasculhando nas biografias e conhecimentos presentes, chega-se à conclusão que os houve, e há, grandes, enormes mas com muito siso e responsabilidade.

Outros, claro, encontraram na loucura ou excentricidade (por vezes estratégicas) uma forma de se exibirem na fama e serem completamente livres de todos os compromissos.


Como um certo pintor português que conheci quando era menina e moça que, por ser artista nas suas afirmativas palavras, desprezava compradores dos seus quadros a bom preço enquanto os filhos pequenos viviam da caridade alheia.



Talvez Matisse, por exemplo, lhe tivesse dado uma colorida bengalada.



Há um sentimento que talvez seja presente em todos: a solidão. A desejada ou a que lhes cabe em sorte no baralho.

Para além das fontes inspiradoras, cada um tende a recolher-se em luta consigo.
Por mais que ame ou seja amado.



Ou nem uma coisa nem outra.

E com esta me fico sem saber também se era bem isto que queria responder mas fica assim: apressado, imperfeito, incompleto e com erros. Como sempre.


Talvez amanhã, com a cabeça mais fresca e ainda mais mal dormida mude alguma coisa. Ou quase tudo.

De resto, fico-me com a felicidade de comunicar convosco.

Sem mais e respeitosamente

Vossa Lizzie

7 comentários:

augusto, um entre mil disse...

Senhora de Lizzie,

a crise bateu-me à porta. ou melhor, a crise bateu-me à cabeça. por vezes acontece-me: uma parva espécie de depressão enrola-se em mim: vai comigo para a cama, dorme comigo mas tanto se remexe no seu sono que não me deixa dormir. de manhã, acorda antes de mim e logo se enrosca. eu, cansado por mal dormido nem me apetece levantar. depois insiste o dia inteiro e não me larga...

resumindo: isto não tem andado grande coisa há três ou quatro dias.

mas hoje resolvi sair da minha pálida e letárgica depressão de trazer por casa. meti pés a caminho e vim até aqui.

e,...

o meu ego cerebral, se é que há egos não cerebrais, ficou contente. um post como resposta a um simples comentário. não o merecerei, mas, é muito agradável e veio em boa altura.


....... ....... ..... ......

e, fazendo mais uma vez aquilo pelo que já tenho sido criticado várias vezes, vou dar um salto, sair do tema:


de televisão ligada vi agora que morreu Liz Taylor.

foi, quando adolescente, a minha primeira grande paixão
cinematográfica. e existindo a palavra bigamia, e sendo o homem um animal de paixões simultâneas, vieram audrey hepburn marilyn monroe, ruth roman, etc, etc, etc.


e, perdoe-me Senhora, despeço-me respeitosamente. possivelmente voltarei a este post, como faço por vezes, umas voltando a comentar, outras, tão somente passeando-me por caminhos que me apetece voltar a percorrer.

Lizzie disse...

Senhor,

amanhã vos responderei em termos

que esta coisa hoje está parva.

Até lá, respeitosamente

Lizzie disse...

se este entrou, porque apagou a longa missiva que antes vos deixei?

augusto, um entre mil disse...

vejo, Senhora,

que continuais em arrumações à casa. é bom sinal. julgo eu. e no sótão, que é coisa que não frequento desde miúdo mas de que guardo tão boas recordações, no sótão sempre se encontram coisas que com algum carinho e nostalgia voltamos a trazer para locais mais iluminados.

dos sótãos da minha infância (eram dois) guardo a lembrança de mistérios na penumbra, mistérios muito desejados, mas nunca realizados nem encontrados.


...

e sempre vos vou dizendo, Senhora, que, se assim o quisermos (e creio adivinhar que o sabeis)actos existem sem o apêndice filosófico justificativo. para bem dos nossos pecados.

e agora vou, desejando que, à hora a que vos escrevo já tenhais gozado algumas horas de bom sono e que por mais algumas continueis ainda.

Lizzie disse...

Senhor:

Vamos lá ver se hoje não fico com a palavra censurada!

Vou dividir este para ver se entra…

…dizia eu ontem e reafirmo, que é sempre um prazer receber-vos nesta casa mesmo que nos encontreis de pano na mão a limpar as coisas que trago do sótão.
Como não faço cerimónia, é natural que limpe, em vossa companhia, uma outra lagriminha ao avental ou desate a rir e a dizer disparates…

…e as minhas visitas podem mudar de assunto sempre que lhes der na gana…
…nesta casa a lareira não tem agenda temática e sou conhecida, Senhor, por dizer o que me vem à cabeça e sem propósito…

…talvez fosse por isso que o Churchill fumava charuto…sei lá…

…espero que vos divorcieis rapidamente dessa dama de apelido Depressão. Vem de família esclavagista, claustrofóbica, ciumenta e de mau carácter.
Quando se junta à família Crise, ai Senhor, mais vale holocausto…e reproduzem-se que nem coelhos em sobrecarga hormonal…

…hoje apeteceu-me vestir calças cigarro e casaquinho inglês, tudo muito anos cinquenta, só me falta pousar de perninha cruzada, corpo em S, ao pé da Vespa…esqueci-me do lenço…

Lizzie disse...

…desde cedo que me habituei, Senhor, à Elizabeth Taylor.
…quando era menina, imagine, as pessoas olhavam para mim e diziam que tinha os olhos iguais o que era uma grande mentira porque nunca se me ocorreu ter os olhos violeta…nem a ela os ter verdes…

…aquilo era tudo muito cinematográfico porque diziam que a minha mãe tinha o corpo da Sofia Loren (verdade) e o meu pai era parecido com o Tony Curtis (meia verdade porque acho que era mais um cruzamento entre James Dean e o dito…)

…e , cá para mim, Deus um dia espreguiçou-se, sacudiu a letargia, tomou-se de artista e desenhou a Taylor para grande danação de todos os Vitrúvios, aqueles que foram fazendo contas para conseguir a perfeita harmonia melódica chamada Beleza, mas não daquela enjoativa e sem fogo como as Barbies deste mundo…

….e eu sou muito polígama porque gosto ao mesmo tempo da Taylor, namoro há anos com a Carmen Maura, com o Gregory Peck, com o Paul Newman, dormi com a Greta Garbo numa cama e com o John Gilbert na outra, encosto-me ao Nureyev enquanto deito a cabeça no colo da Ingrid Bergman sem deixar de seduzir o Jude Law e o Montgomery Clift ,até chegar……………. ao Paulo Bento, aquele que era do Sporting…já nem me lembro os amantes que tive que ele há figuras que são água que refresca e repousa alma…

Lizzie disse...

…por acaso, agora ando-me a divertir até às tantas com a música do barroco Hasse…sei lá…a sinfonia faz-me lembrar uma cascata irrequieta que tenta voltar à nascente para depois voltar a descer como se fosse brincadeira de escorrega…depois para me levantar é o cabo dos trabalhos e estou sempre a dizer que é Sábado, Domingo ou Feriado…
…ora veja lá onde a andorinha foi fazer o ninho…

…bem diz o senhor do Corte Inglês que se me brilharam os olhos assim que comecei a ouvir…vou largar por uns tempos o Widor

…vou buscar ali mais uma fotografia da Taylor para vos mostrar, Senhor, mas tendes que fugir do Richard Burton que mesmo enterrado no País de Gales chega cá num instante, sabeis como os fantasmas ingleses têm mau feitio sobretudo quando vivem o drama do “nem contigo nem sem ti”

…e por aqui me fico que hoje é Sexta-feira logo amanhã é Sábado e depois é Domingo e depois ou vós me bateis à porta ou eu bato à vossa …

…vou outra vez ao Corte Inglês , como qualquer coisa e aquela interpretação…

…sempre, perante vós, com o maior dos respeitos…