
própria para andar a cirandar entre casa e jardim, e pelo que mais há-de vir, aqui segue
Histórias à volta da cor sempre grávida
Histórias à volta da cor sempre grávida

Diz-se que o branco, não sendo cor alguma, está grávido de todas elas.
Espantaram-se pintores antigos, intrigaram-se sábios e alquimistas, como um raio de luz branca, casando e perfurando cristais ou nuvens, paria as sete cores do arco-íris.
Também é cor de personalidade influenciável: é a que mais reflecte as que lhe estão ao pé e a circundam. Consta, por isso que é impossível vê-la absolutamente nua.

e da higiene bactericida, ao contrário do mal amado amarelo,( máquinas de lavar, roupa interior vulgar e sem segundas intenções, pastas de dentes, banheiras,

comprimidos, batas e hospitais sem dedo de arquitecto pós moderno),
da pureza, da castidade ( eclesiásticos, noivas e crianças baptizandas só com o pecado original), já toda a gente está farta de saber.
da pureza, da castidade ( eclesiásticos, noivas e crianças baptizandas só com o pecado original), já toda a gente está farta de saber.

E, já agora, é dado estatístico, que os carros brancos sofrem e são sofridos de menos acidentes, embora não esteja provada a imunidade a multas, sobretudo em tempos de crise financeira dos países.

E é também a cor da aristocracia, pelo menos até ao séc. XIX. Aqui e a partir daqui, o colarinho branco, por exemplo, ficou mais ligado, nos países industrializados, à burguesia. Em Inglaterra e derivados, teve até nomenclatura para crime, opondo-se à delinquência azul, própria das gangas obreiras.


Deverá ela acompanhar quem se der ao trabalho de ir sempre vivendo e aproveitando o melhor que a vida dá.
É, tal talismã, símbolo da simplicidade, da contínua aprendizagem com humildade, da sabedoria, como o são os cabelos brancos dos velhos, ou …dos precoces.
Se em Portugal alguém bem sucedido, nasceu com o rabinho voltado para a Lua, nas terras Elizabethinianas sugere-se que a sorte ou o mérito, se deram a se ter nascido já com uma pedra branca na mão.
Se em Portugal alguém bem sucedido, nasceu com o rabinho voltado para a Lua, nas terras Elizabethinianas sugere-se que a sorte ou o mérito, se deram a se ter nascido já com uma pedra branca na mão.
Diz a lenda que Elizabeth I se vestiu de branco quando tomou as rédeas do reino, inaugurando uma tradição em actos solenes,

e que, em manifestação de amor escondido, ofereceu a John Drake a pedra branca que o pirata sempre guardou junto ao coração.
Consta que a Rainha Victoria guardava junto à sua, a do seu muito amado Albert.
Saltando para o séc. XX, Coco Chanel sempre ligou simplicidade, no trajar, à mais requintada elegância e ainda hoje com um vestido preto e um colar de pérolas, qualquer dama não se sentirá deslocada no mais selecto evento.
Consta que a Rainha Victoria guardava junto à sua, a do seu muito amado Albert.
Saltando para o séc. XX, Coco Chanel sempre ligou simplicidade, no trajar, à mais requintada elegância e ainda hoje com um vestido preto e um colar de pérolas, qualquer dama não se sentirá deslocada no mais selecto evento.

E será abençoada a paixão de corpo e alma, quando diante dos amantes, passar uma borboleta em tons de branco.


Por outro lado, também é cor da loucura mas… sábia.
É frequente verem-se errando pelos bosques, ou mesmo nas vielas britânicas e com longas vestes brancas, os loucos que, falando metáforas hiperbólicas sem fim, desvendam os segredos do outro lado, irracional, mas certo, do mundo.
É a cor da inquietação lúcida, seja ela ou não de filosofia credenciada.
Às vezes, estes seres transformam-se em gatos brancos. Gatos que riem com os seus olhos de desvendar a escuridão.
São eles a voz do que não se quer ouvir, os olhos do que se quer esconder.
É a cor da inquietação lúcida, seja ela ou não de filosofia credenciada.
Às vezes, estes seres transformam-se em gatos brancos. Gatos que riem com os seus olhos de desvendar a escuridão.
São eles a voz do que não se quer ouvir, os olhos do que se quer esconder.

(Quem andar por terras britãnicas, pode encontrar imagens destas à porta das casas mais antigas. Ou nos cemitérios. Ou nos muros. Ou junto aos rios. Também as acharão em alguns lugares dos EUA., em forma imitada)
Podem fazer-se acompanhar de fantasmas e donzelas todos trajados em imaculada brancura. Porque tanto uns como outros têm a leveza da irrealidade. Não estão sujeitos à força da gravidade das outras cores do Mundo.
Podem fazer-se acompanhar de fantasmas e donzelas todos trajados em imaculada brancura. Porque tanto uns como outros têm a leveza da irrealidade. Não estão sujeitos à força da gravidade das outras cores do Mundo.

( Não é por acaso que os Pré Rafaelitas, tão ingleses de medula e revoltados com as modernices racionais da Revolução Industrial, vestiam, com frequência, os seus lânguidos, angustiados e melancólicos modelos, de branco).

Surgem-nos estas brancas criaturas para nos levar para o seu reino, para nos segredar cuidados que não temos, fortunas que precisamos. Como os brancos anjos mono ou politeístas, sagrados ou profanos.

Dormirá com paz e em paz, morrerá sem culpas que atormentem, quem viver em Inglaterra e, ao por do sol, vir voar no céu um pássaro branco.
Tem a pessoa a alma liberta, sem lama no coração.
Como irei, brevemente, ao Massachussetts, trago os pensamentos já em viagem como as gaivotas, e comecei a ler este fantástico livro em versão fac-simile (que aliás, convenhamos, combina com o cenário e com a tal veste que ontem me cobria),
Como irei, brevemente, ao Massachussetts, trago os pensamentos já em viagem como as gaivotas, e comecei a ler este fantástico livro em versão fac-simile (que aliás, convenhamos, combina com o cenário e com a tal veste que ontem me cobria),


embora mais velho e de geometria ainda mais quadrilátera no contorno da face e olhos tão mais pequenos que pareciam emprestados de um qualquer animal subterrâneo que deles não precisasse.
Embora fizesse parte de comitiva, recusava-se a dormir dentro de abrigos chamados casas ou hotéis. Soltava o cabelo, enrolava-se numa manta e deitava-se em alpendres ou de outra qualquer cobertura. Como qualquer escocês em mito selvagem.
E dormia com um pano branco, que tratava com mãos grandes transformadas em delicado apetrecho de seda, sob a cabeça.
Usava-o, como todos os da sua tribo do Norte, para recolher os sonhos. E caçar os segredos que as portas fechadas da vigília não revelam. Todos os sonhos. Todos os segredos.
Ainda o dia mal tinha nascido, levantava-se, dobrava o pano num ritual de calma beleza e guardava-o numa bolsa pendurada num fio, ao pescoço.
Embora fizesse parte de comitiva, recusava-se a dormir dentro de abrigos chamados casas ou hotéis. Soltava o cabelo, enrolava-se numa manta e deitava-se em alpendres ou de outra qualquer cobertura. Como qualquer escocês em mito selvagem.
E dormia com um pano branco, que tratava com mãos grandes transformadas em delicado apetrecho de seda, sob a cabeça.
Usava-o, como todos os da sua tribo do Norte, para recolher os sonhos. E caçar os segredos que as portas fechadas da vigília não revelam. Todos os sonhos. Todos os segredos.
Ainda o dia mal tinha nascido, levantava-se, dobrava o pano num ritual de calma beleza e guardava-o numa bolsa pendurada num fio, ao pescoço.
Disse um dia, que os sonhos são demasiados preciosos para serem deitados fora, desperdiçados.
Soubemos que seria enterrado, como os seus, debaixo de uma árvore, numa floresta, com o pano sobre o rosto. Assim viveria, então, todos os sonhos bons que não teria vivido e viajaria por todos os segredos revelados. Naquele branco, estaria o tesouro da sua mais completa liberdade.
Soubemos que seria enterrado, como os seus, debaixo de uma árvore, numa floresta, com o pano sobre o rosto. Assim viveria, então, todos os sonhos bons que não teria vivido e viajaria por todos os segredos revelados. Naquele branco, estaria o tesouro da sua mais completa liberdade.

Talvez não seja só aqui, no Ocidente, que o branco, em rivalidade com o azul, seja a cor onde se depositam quase todas as ideias e criações.
Talvez, em todo o lado, seja a cor de todos os inícios.

Adenda :
espantam-se-me sempre os olhos com o poder que o branco tem nas mãos dos pintores.Apenas três exemplos soltos, que estas visões pela História não são de ter fim:
com umas sábias pinceladas de branco
se cria a água silenciosa e dorida nos olhos;
se sugerem transparências, texturas, movimentos apesar de o vento estar em sossego...
ou se pulveriza na tela (com pó branco de Tempo em cima do vermelho, com o motor que se supôe ter tido um brilho encadeante, com giz numa ardósia, com um papel abandonado) um suspiro de nostalgia.