quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Este, vai mais como fuga ao que devo fazer do que pela vontade de fazê-lo. Que me perdoem porque neste caso “quem fala verdade não merece castigo"

Cinquenta cêntimos pelos arredores do destino


Hoje estou interrompida! É um direito que toda a gente deveria ter: interromper-se!
E talvez um pouco rabugenta com as palavras.
A bem dizer, com tudo o que implique a mais leve obrigação.
Estou mais virada para a telepatia.
Se acreditasse nela.
Sou feita de material de poucas crenças.

Nem acreditei na cigana que, na segunda feira, entre churros, me leu a sina e disse que, livrasse-me eu das invejas, hija mia, e ainda ia casar, depois de muito lutar bravamente por mim,

com um homem muito rico, cariño, alto e bonito com barba de rei, corazón, ia ser muito feliz e viver até, exactamente, aos cem anos, guapa.
Tal originalidade na profecia custou-me apenas cinquenta cêntimos e poupou-me o trabalho minimal repetitivo da recusa.

Pela minha simpatia ainda tive direito a um bónus de futuro já sem linhas da mão à vista : hei-de morrer com pele como veludo e olhos tão limpos como água da fonte.

Não há nada como ter um destino abastado, virado para a cosmética e para a oftalmologia.


Hoje apetecia-me, bulimicamente falando, estar em casa.
Queria, em dia útil, com vagar e sem pressas, acender a lareira como se praticasse um ritual antigo.

Como se fosse da idade de todas as mulheres.

Infelizmente, não tenho outro remédio senão resumir-me à minha.
Ficam-me as artes para que elas me contem os seus segredos.

Porque depois de acesso o lume, me podia recostar, a ler um dos livros que trouxe.
Literatura feminina agora publicada.

(Como terá visto a freira, viajante com vocação hospitalar, os desconchavos da Espanha de Fernando VII?
E qual será a história da pianista inglesa que conversava com Bach, para o reinventar, fora dos etiquetados salões vitorianos?)

Não me pode faltar um bule de chá english breakfast, umas torradas de pão autentico, bem doseado de crateras no seu interior. Um maço de tabaco encorpado. E um xaile ou casaco inglês para o cenário ficar coerente e completo.

Ou então, podia ir para o jardim. Tenho a sorte rara de ter um jardim.

Campo aberto mas protegido entre muralhas. Como as solenes Virgens medievas mas com o meu gorro preto de deliquente ou terrorista.

Podia-me deitar na cama de rede, em intervalo de árvores nuas, e ficar à espera que as nuvens abandonem o céu e o deixem sózinho. Só com o sol preparatório para o inverno.
Suave como um amor meigo.

E, virada para o infinito, podia imaginar um canto solista para os pés faladores do N.

A visão é um dom aleatório e caprichoso e na segunda feira os olhos fugiram-me mais para os pés ensaiantes que para a exuberância atlética do corpo.

Há bailarinas e bailarinos com pés que pingam uma linguagem autónoma que foge à quase obrigatória disciplina do corpo.

Como as mãos. Quantas vezes não se lavam elas das exigências das personagens? São resquícios voluntariosos do que não abdica de si.

Elas lá saberão e não sou pessoa, como não são outras que conheço, para ter a pretensão de mandar nas emoções das minhas.


Claro que o mais natural é que adormeça. Com embalo. Naturalmente e sem programação.

E passe a hora correcta para o almoço e para as notícias.
Não me apetecem nem as portuguesas nem as espanholas nem as outras.

Não me apetecem espécies de discos de vinil riscados e ronfenhos de incompetência e trafulhice. Vendas da alma a baixo custo.

Não me apetecem olhares resignados ou aflitos, desamparados ou à espera.


Não me apetece uma juventude submersa, sem a altivez e a pujança que lhe são próprias. Não me apetecem vontades quebradas e gastas antes do tempo.

Não me apetecem vidas inertes cheias de astenia.


Também não me apetece ver Camões, Eça, Cervantes ou Calderón de la Barca mandados para o caixote de um tempo demasiado antigo para ser considerado politicamente moderno. Não me apetece desprezo histérico pela História.


Depois hei-de acordar, bocejar e espreguiçar, actos corporais de que muito gosto e de que tiro prazer concentrado.

Adoro a má educação da preguiça e despertares lentos, livres de “objectivos”, palavra tão obsessivamente contemporânea, contagiosa até para as formigas que se instalaram no canteiro da buganvília, sobretudo para as que transportam em curva e contra curva de equilíbrio, carga que as excede em tamanho.

Enfim, depois sou capaz de me desinterromper. Ou manter ainda a folga.

Não sei. Logo vejo.

Até aos cem anos, livrando-me da inveja, amor mio, aplicando creme hidratante, joya, fazendo uns ovos com espargos com um cheirinho de rum ou conhaque, bonita, ainda tenho muito tempo para viver, coño.


E, assim sendo, que nunca nos faltem cinquenta cêntimos para guardar no mealheiro da contínua descoberta.

23 comentários:

Emma Larbos disse...

Faltou a viagem muito grande para o outro lado do mundo. Na profecia da cigana. Mas isso só prova a sabedoria dela, porque a dita viagem, que nunca falta em nenhuma profecia de nenhuma cigana, já foi feita e se ela a predissesse agora, era caso para se descredibilizar um bocado.
O tópico da inveja também é sinal de sabedoria. O risco de que não se cumpra é muito pequeno.
Quanto ao noivo, me parece muy bien. Se eu soubesse que me davas 50 cêntimos também já te tinha feito essa profecia. Vai mentalizando o Paco.

Os pés de N., ai Lizzie, que me pareceram muito feios!! Aquilo são calcanhares calosos? E aqueles dedos, é impressão minha ou são encavalitados?!

Lizzie disse...

Emma:

para já, estou com um ataque de riso, coño!

Começando pelos pés, aquilo não são dedos! São próteses deles feitas de amendoins com casca.

E aquele encavalitamento foi de propósito para a fotografia: uma forma de expressão dramático-trágica pedestre. Uma pose expressionista complementada pela exuberãncia dos vasos sanguíneos.

O mocinho já é rapaz para quarenta e tal anos, ay la hóstia tía!

Qualquer dia levo-te a uma exposição viva de pés pré vintage e vintage propriamente dito, vistos do ãngulo em que a fotografia foi tirada, e cais para o lado com tal manifestação de beleza.

(Por acaso só gosto de ver pés naquele e noutros contextos artisticos. Normalmente não é parte anatómica que me seduza: batatas esculpidas com feijões encastrados)

Por acaso estou a pensar ter uma conversa séria com o Paco. Sei que vai, enfim, grunhir, mas vou-lhe dizer que ando de olho no Juan Carlos porque a Sofia anda interessada no William da dinastia Windsor.

Assim se quebrará a velha professia (e ditado)espanhola:

"Ni castillos en Francia ni piés en Inglaterra".

Ouço tal coisa muitas vezes como simbolizando o impossível desesperado, após o que me interrompo.

Suponho que a cigana se referia a ele, Juan Carlos, porque andou com uma barba branca que,por acaso, lhe ficava bem. Um look mais Real.
E não sei porquê, tenho um fraco por las narices de Bourbon.

Se me arranjares outro, dou-te já amanhã cinquenta cêntimos. Hoje não posso porque não tenho trocado a menos que leves um euro como a inflaccionista da outra cigana que está na "cafetería" mais à frente.

Com essa talvez viva até aos duzentos anos, com pele de recém-nascida e visão de águia.

Lizzie disse...

e, já agora, oh Emma, tu não quererás, por casualidad, ser juíz num duelo entre o Paco e o Juan Carlos?

Arábica disse...

Pois não sabia eu que a pessoas interrompidas era dada semelhante prosa.
Eu, quando me interrompo, nem faço o que por obrigação descansa sobre a mesa, nem o que por imaginação, voa sobre a mesma.
Nahhh eu quando me interrompo,
interrompo mesmo,
e se há profecia de viagem transatlântica bem que o bote pode e deve fazer marcha à ré, que se interrompe da mesma forma viagens.
E até as árvores ficam interrompidas.
E as nuvens com um grande travessão de interrupção a meio
interrompem também a chuva.

Tenho que aprender a interromper-me assim. E a ver pés de batata
e corpos de fogo a dançarem na chaminé.

Não interrompas é a luta, Zizzie, contra as invejas e o mau olhado, coño, que noivos assim também não devem ser interrompidos na linha da mão.

A Sofia, coitada, é que bem se pode interromper.

Tirar umas férias e fechar os olhos ao poder de sedução do Juan... :)


Por acaso, tal como a Ema diz, a viagem nunca falta na profecia, bem como os outros males de olhos, para lá das cataratas do destino.
Cataratas? Aproveito, interrompo-me e vou de viagem :))

Bom fim de semana! Besos!

Sara França disse...

Tia.
Ah, chama "interromper-se" à lógica continuação de si mesma? Está bem. Eu compreendo, visto que anda bulímica com as palavras. A bulimia sempre foi uma figura de estilo que eu compreendi muito bem! Pena que certos académicos chatos teimem em chamar-lhe hipérboles e outras coisas horrendas, credo! - que ninguém percebe!

Pois olhe que "telepatia" me pareceu toda a tua interrupção. Não haja dúvida de que a astrologia tem sempre razão! Não a astrologia de 50 cêntimos (e olhe que para os jacartinianos 50 cêntimos é muita coisa), mas aquela gratuita e isenta - que nos oferecem os astros per se, com o seu bailado quase invisível sobre nós.
Pois eu diria que a sua interrupção foi uma típica interrupção virginiana!

"Telepatia" porque eu senti cada emoção e impressão da sua interrupção daqui a 20 anos.

Ai. Interromper é preciso, viver não é preciso.

Alien8 disse...

Lizzie,

Obrigatória, a tua "interrupção". Teremos, os que lá chegarmos :), muitos e bons anos para ver as tuas deliciosas imagens comentadas e, por falar em deliciosas, coisas outras que aqui apenas afloras, mas estão lá, estão lá, discretas mas imprescindíveis. Tudo isso por cinquenta cêntimos e uma disposição bulímica (dizes tu!).

Pois que te dê muitas vezes essa gana de não fazer outras coisas, coño! Que assim podemos divertir-nos e pensar um pouco, e olhar bastante.

Um beijo.

Emma Larbos disse...

Ai Lizzie, que herética sou!
Pois não vejo beleza nenhuma naqueles pés e o engarrafamento nos vasos sanguíneos aflige-me porque parece que o moço vai ter um AVC pelos pés. E as unhas (casca de amendoim?!?) parecem cheias de micoses e acho que o moço precisa é de uma consulta urgente e estou cheinha de pena dele.

Nunca ajuizei em nenhum duelo mas aceito com todo o gosto, desde que seja eu a escolher a arma (brancas, fogo e arremesso estão excluídas). Só espero não me deixar influenciar pela grande simpatia que nutro pelo Paco.

Mas não gostarias de rever as tuas opções e trocar o pai pelo filho? É que disse-me o meu amigo Pepe, com quem almocei há duas semanas, que a Letizia anda deprimida e sofre de "Síndrome de Diana de Gales". Talvez o Filipe esteja disponível em breve.
(Enfim, o Pepe é aragonês e não se importa de dizer um bocadinho de mal dos castelhanos...)

Lizzie disse...

Arábica:

quero lá eu que a Sofia se interrompa...que tanto a admiro e gosto dela. Até é mulher em que se sente a fibra das mãos num aperto ainda que protocolar.

Também não preciso de lutar contra a inveja que os invejosos sofrem mais que os invejados. Muitas vezes acabam suicidários.

Aborreceu-me que a cigana não tivesse falado na viagem: para que se quer um desenho de futuro incompleto ou uma profecia inacabada?
Coitada, se calhar precisa de óculos.
Cá eu, vejo nitidamente aqui umas linhas que parecem um avião para longo curso. Tenho que ver com lupa se é da TAP ou da Ibéria, da Luftanza ou TWA.
E com um microscópio, tenho que ver se os pilotos estão com cara de ter os cinco alqueires bem medidos: não me apetece durar até aos cem anos numa ilha deserta só acompanhada de um rei. Interrupção mas não tanta:))

Boa semana:)

Lizzie disse...

Sobrinha:

há quem diga, com certo temor, que nunca me interrompo.:)

Viver sempre da mesma maneira também cansa e não faz mal nenhum que os astros,inventem novas coreografias.

Não há teoria no Universo, suponho eu, que impeça Marte de fazer tapetes de Arraiolos ou Vénus de ir fazer um retiro para um convento inter-galáctico sem passar por uma loja de lingerie primeiro.

Esta é uma "lógica" virginiana, sim.

Daqui a vinte anos, segundo previsões terrenas e antigas, irás passear com uma tia mais refilona e rabugenta e a distribuir begaladas a quem não se portar com dignidade e modos de condado. E de ducado. E de marquesado. E de principado.

Interrompamo-nos pois, nós a da família, com ou sem hiperboles bulímicas.
(aprendeste essa das hipérboles com Jacartes ou com Nigerius Augustos?)

Lizzie disse...

Alien:

havemos de lá chegar mas se quiseres ter a certeza, consulta uma qualquer cigana embora não saiba se as portuguesas dão menos anos de vida e menos reis e raínhas que as espanholas.
E também não sei os preços que levam, mas suponho que pagam mais IVA nos actos proféticos por via do déficit no Orçamento Geral do Futuro.

E era bom que nunca se interrompesse a capacidade de, de boa-fé, ironizar embora os especialistas digam que a ironia é uma forma, enfim...de luto.

Com ou sem gambas, ay qué ganas tengo yo de intérumpirme cada día, Verdito Mío.

Beijo

Lizzie disse...

Emma:

que acertada essa a do Acidente Vascular Pedonal! A dar-se tal tragédia, espero que não entrem em coma nem percam a memória. É que mesmo feios e micóticos são senhores de muitas histórias, quase tantas quantas um faroleiro cego que, na Escócia, as inventava para uma menina (esta veio de um livro lindíssimo que me ofereceram e que estou a poucas páginas de acabar).

Pensa lá nas armas para o duelo enquanto eu penso na forma como hei-de abordar a separação. Estava para ter a conversa enquanto comíamos castanhas assadas na lareira mas, interrompi-me na coragem.

E prefiro o pai ao filho. Além daquele ter um nariz mais Bourbon, o nome deste é de presságio duvidoso e sabe-se-lá quantos estragos não lhe terá já feito a tão problemática Letízia que, tem o Pepe razão,anda com laivos (mas mais plebeus e negativos)de Diana de Gales.

Por outro lado, dizem os cronistas da Corte, que não fosse Sofia senhora de bom pulso, bem formada de temperança e certeira na decapitação das intrigas e já teria havido uma qualquer mudança no trono.

Soa calada a conspiração da máxima:
"antes rainha por um dia que duquesa toda a vida" com as devidas adaptações, claro.

Andam castelhanos, e outros, a notar-lhe arrogãncia e altivez próximas da consorte de Carlos IV. É doença mais de Camila Parker Bowles que de Diana Spencer.

Mas enfim, se ficar viúva do pai, logo verei quais os meus intentos em relação ao filho.

Lá terá Paco, o favorito, que se bater duas vezes.
Noblesse oblige e God Save the Queen.

Arábica disse...

Zizzzie

há coisas que no tempo nos parecem premonições, momentos breves de uma intuição que se vislumbra, embora racionalmente não se perceba porquê, de onde nos saltam, porque nos assaltam.
Lembrei-me agora de ti, a propósito do cinema paraíso, agora passado na 2, que de todas as outras vezes que vi, sempre senti que viria uma vez, que o veria de uma outra perspectiva, que o veria com outros olhos, que o sentiria de uma outra maneira, mais total, mais profunda que as anteriores.
Talvez o "perte" e não deixes que a nostalgia te retenha, talvez a nostalgia de chegarmos a um ponto de vida que não nos permite ficar.
Talvez a cigana tenha cataratas que não lhe permitam ver a companhia aérea.
Talvez um problema congénito que não lhe permite ter uma visão periférica avançada.
A verdade é que quem parte, leva sempre consigo muito dos que o vêm (ou vêem?) partir e quem fica, guarda sempre tanto dos que vêm (a duvida subsiste) partir.
Valha-nos esta ponte aérea (não subsidiada por qq companhia de aviação e sem restrição de milhas e sem horários certos a cumprir) que em qq local será fácil de manusear, para com mais ou menos assiduidade irmos tendo novas da estrangeira que não é estrangeira, mas se sente estrangeira e que assim sendo tem que ser estrangeira em qq outro lugar onde não se sinta estrangeira.

às vezes quem parte fica a perder.
Desta vez, se a não premonição da cigana se cumprir, eu acredito que quem fica, fica a perder.

Coño, mulher, se os pilotos não tiverem os cinco alqueires bem medidos, pegas tu no comando do avião que não deve ser coisa muito dificil de te sair com sucesso das mãos.

Ilhas desertas e sem net, é que não. :))

Frioleiras disse...

interessantes ...............

sempre, estas tuas 'crónicas', histórias, descrições etc etc........

E admiro sempre a beleza estética das imagens com que as adornas ...

E... adorava ter o dom de me saber ... interromper.
(quando o faço... angustio-me.
é um dom , certamente enorme! Quem me dera saber fazê-lo, de quando em vez...)

Lizzie disse...

Arábica:

mal de quem vê, ao longo da vida, a mesma coisa da mesma maneira.
E mal das coisas que mostram tudo o que são numa única vez.

É este último período que me liga às artes: obrigam sempre a descobri-las em revelação contínua e nunca estão descobertas definitivamente.

E trabalhando com elas, nunca se está satisfeito: uma é sempre mote para a que vem a seguir, mais completa que a anterior e incompletíssima em relação à que se seguirá.

Talvez seja por isso que não sou nostálgica. E talvez também seja por isso, para além da genética,que sou estrangeira. Mais aqui que noutros sítios, para ser honesta e falando em termos gerais porque quando parto, daqui também levo pessoas, sítios, coisas. Quem me dera levar uma eremida que conheci no domingo...

Nasci aqui mas sinto mais berço noutras paragens.

Isto das viagens é curioso:

hoje até vou para a Suécia, estando aqui sentada:))vou chegar lá sem partir daqui. Alguém vai levar um pedaço de mim. Só espero que os pilotos e os aviões tenham as peças todas afinadas. É chato morrer aos bocadinhos.:))

E o que me fascinam aqueles botões todos dos aviões:))Aliás todos os botões e luzinhas e engenhócas.:)) Desde miúda e isso, a ficção científica, nunca me passou.Infelizmente não sou personagem de série de tv. O McGuiver passou cá?

Bom resto de semana e obrigada.

Lizzie disse...

Frioleiras:

muito obrigada.
As artes dão sempre boas imagens e são sempre um bom motivo para a pessoa se interromper da monotonia do resto.

Tenho pena de ainda me faltarem (em Portugal) tantos anos para a reforma. Sempre penso que aí posso dar mais tempo e sobretudo sem culpas, às interrupções.

Não me angustio porque já sei que nas interrupções entro num caos (já sei que não gostas) de que sairá ordem. Uma ordem mais natural que forçada.Ao fim e ao cabo é uma forma de ordenar a biblioteca dos pensamentos.

Não é dom. Acho que é uma forma pessoal e cada um tem a sua.

Agora mesmo, que está a chover e estou a ouvir as Lyric Pieces do Grieg me está a chegar a virose interruptiva:))

Lizzie disse...

...e, o que vale, é que já falta pouco para entrar de férias...

Arábica disse...

Sossegas-me, Lizzie, eu tenho esse péssimo defeito, ver a maior parte das coisas sempre mudadas e quando a perspectiva teima em se manter, pensar sempre, um dia vai mudar tudo de sitio. :)

Por acaso, depois de escrever o comentário, fiquei a pensar que do que conheço de ti, não te posso achar nostálgica.

Ou sequer pessoa que fique ou volte atrás, a qualquer sitio, por chamamento de nostalgia.
Embora aquelas cores outonais...
das árvores...únicas...

As minhas interrupções não me levam ao caos -são o caos-.
Também gosto delas, acabam sempre com uma urgência.
Felizmente não tenho ninguém que espere de mim camisas passadas a ferro :) refeições a tempo e horas :)ou um qualquer modelo de lar, doce lar.
No passado, diferente do presente, as interrupções eram dificeis, conseguiam-se com muito custo, nem sempre é possível o corpo obedecer à mente que o manda continuar a cozinhar, escrever à máquina, inserir números num ecran de pc, lavar a banheira, enquanto ela, malvada, voa por outras paragens.
É verdade que às vezes, por revolta do corpo, a comida ficava insonsa. Nunca salgada, era um truque básico.

Sim, o McGuiver passou por cá.
Raramente perdia um. Tenho dúvidas se era ao sábado ou ao domingo. As míudas eram pequenas e também achavam graça, às soluções engenhosas.
Quando nos engenhos domésticos ou tpcs de trabalhos manuais conseguíamos um "milagre" diziam que eramos o Mcguiver :)

Falas-me da ermida e lembro-me que nunca mais contaste novas do jardineiro das férias...

Quantos milimetros cresceram os pequenos pés? :)


Um beijo caótico numa desarrumação caótica :))

Lizzie disse...

Arábica:

lembro-me das árvores(essências a que sou muito visceralmente ligada), dos outonos, como volto a museus ou galerias ver determinados quadros, como volto a livros, filmes,danças ou a músicas: pelo prazer da beleza, mistério ou aventura que me dão.

Ouço com frequência uma ária de Bach, por exemplo, só para ouvir os violinos a fugir.Parece que fogem da voz. Dá-me vontade de voar para agarrar aquele som.:)) Para além da admiração do génio intemporal que os botou a fugir daquela sublime maneira.

Isto não é bem nostalgia. São tipos de coisas que estão de acordo com a minha natureza, como estiveram no passado, como, suponho, estarão no futuro.Afinal as árvores, os livros, e etc, continuam a existir. São roupa que me assenta, sempre evoluindo, no corpo da alma.

O jardineiro cuja natureza está nas plantas e nas botas da feira de Santana, está bom, discreto,calmo, simpático e eficiente.
Os pézinhos já cresceram muito além de milimetros. Cada vez que lá vou espanto-me com o desenvolvimento e envergonho-me da minha ignorância botãnica.
Vou fazendo perguntas estúpidas e recebendo respostas sábias. É uma forma de aprender:))
Até já fui com ele, a Valada, buscar um pé de "chorão-ninho". Foi assim que ele chamou. E ensinou-me outros nomes. E eu a pensar que eram todos simplesmente chorões, sem apelido:))

Uma oliveira comum só fica mais ou menos com cara de adulta ao fim de vinte anos.
E os limoeiros devem ser plantados junto a muros ou casas e em Janeiro ou Fevereiro.

Ora toma!

Arábica disse...

:)))

(a rir-me do fim, mas não me baralhe eu, que é coisa aqui frequente, tal é o caudal)

Exemplo de caos: um kg de maçãs reinetas a cozer num pequeno recipiente por tempo ilimitado transforma-se em maçã assada queimada. :) é o exemplo de hoje :)

Que ária é essa de violinos fugitivos? Vá, ensina-me, deixa-me fugir um bocadinho com eles! :)

Também não sabia que havia "chorões ninho", em que diferem dos outros? Mais arredondados?

E está a chegar o tempo de podar as roseiras...

Então é desaconselhável de todo plantar limoeiros em julho nas cabeças das pessoas? :)

Lizzie disse...

Arábica:

Em termos do que a minha "maldade" costuma fazer, quando necessário, é mandar ouvir a obra toda e depois, olha, descubram...que até podem Ouvir (com maiúscula) coisas que não ouvi.

Mas é o recitativo (e não ária própriamente dita embora haja quem discuta, neste caso particular, o assunto) da Paixão Segundo São João de Bach.

Trata-se de "Die Kriegsknechte aber",na parte do coro.

Não consigo botar aqui a interpretação que gosto mais, ou seja, a mais pujante e em que os violinos e violas fogem mais.

Tudo depende das "opções" dos maestros e do "fulgor" das orquestras. Ouvi uma vez na Gulbenkian e, coitadinhos dos violinos, nem se mexiam.E nós ali à espera do extase.

De qualquer forma está no youtube. A fuga não é muito grande mas...nota-se. Descobre-a e com som alto (não sei como são as tuas colunas em termos de fidelidade).

Já agora a parte do coro "Herr,unser Herrscher" também me é especialmente cara: ouvi, deitou-me uma semente e deu frutos.Oh tantos.:)
Um deles voou ontem com o tal bocadinho de mim para a Suécia.
E tem a tal suspensão no tempo, o zero, de que falei no Alien.


E os limoeiros gostam de muros e casas porque precisam de se sentir protegidos. Ora,não conheço sítio mais arriscado e ventoso que a cabeça de uma pessoa,
logo os limoeiros não podem ser plantados nas cabeças.

Deve ser essa a explicação dos jardineiros e botãnicos. Não sei:))

Lizzie disse...

e, já agora, correndo o risco de ser chata mas a quem estas coisas interessem, existem versões em que os violoncelos também acompanham na fuga. O Bach compôs as duas versões.

Claro que quando é como deveria ser, com violas da gamba, uma pessoa só pára no fim do universo e em forma de ínfimo átomo, tal é a grandeza do génio.

Arábica disse...

Obrigada Lizzie :)!!!!
Vou ouvir tudo o que for possível para Ouvir o impossivel neste momento, com o aspirador aqui ao meu lado (cala-te, senta-te sossegado, não vês que estou a falar com a Senhora? -isto sou eu a falar com ele-)Amanhã vou sentar-me eu no Youtube à espera do momento da fuga. :))

:) Já percebi a ideia dos limoeiros. Não são nada tontos, gostam de viver com protecção maior, paternalista? para que nenhum vento ou tempo os dobre. :)

Chegou tudo inteiro ao destino?
Esse bocadinho teu parece-me enorme, não sei porquê.

:))

E agora sobre os 50 centimos dos arredores do destino, cubro e arremato por um euro fim de semana e arredores. :)

Pegar ou largar: Besos, bom fim de semana! :)

Lizzie disse...

Arábica:

Assim muito a correr que o aspirador do tempo me suga:

O pedaçinho de mim chegou bem e, segundo sei, recomendou-se. Bach não se zangará comigo por o ter chamado. Felizmente,até hoje, sempre teve uma paciência infinita.

Então ouve! Se te apetecer, claro.

Pegar ou largar é determinismo ventoso que abana o limoeiro:))

Besos e bom fim de semana.