quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Segue amanhado à pressa, para variar e ainda com uma certa nostalgia na ponta dos dedos, feita de descoberta vestida de viagem nos olhos e mais de outros silêncios, sorrisos e histórias de quem, vindo de férias, ainda se senta

À sombra das palavras magras



Não nos dêem euforias estivais, aglomerados de gente como raspas nas placas de aparite juntas com cola da marca Gregário,
festas de risos estridentes, ritmos em decibéis Sonotone suados em óleo de coco,
nem corpos secos e encolhidos à pressa em ginásios,
nem bebedeiras obrigatórias, mais por moda que por gosto ou necessidade,
nem pandemias de altifalantes em débito de música ligeira em bares, restaurantes e paradouros.

Para nós, a praia, deve ser um prazer lento, saboreado na calma.

Com vastidão para ainda se sentirem os fantasmas de quem espera quem partiu, de quem parte para não voltar, de quem volta com vontade de partir, de quem, ficando, parte sempre.
Cada grão de areia deve ser um átomo de lembrança colado na pele do nosso romantismo.

E, já agora, sempre vos digo, que apesar de achar que o tal romantismo residual, de preferência na modalidade britânica ou germânica, é mais sentimento próprio de invernia, nesta rica e variada geografia lusa e em pleno Agosto, nos amanheceres e entardeceres, é capaz de fazer descer do céu um manto vaporizado de fazer inveja ao mais revolto espírito oitocentista.

É hora de sermos envolvidos por um casaco de lã, de os pés se esconderem em chinelos quentes. Também se gozam férias da estação corrente. A geografia dá-nos outra latitude.


Mas, continuando, todos os dias, naquela praia e no vale desse manto, sai um idoso arquitecto inglês, que, quando conheci, confundi erradamente com D. Sebastião.

Talvez ao contrário do imberbe monarca, há qualquer coisa nele que transmite uma felicidade digna. Estado raro, raríssimo, na história de qualquer humano, como é por quase todos sentido e sabido.

Quantas vezes tanto a felicidade como a solidão se alimentam de concessões forçadas.



Visita-nos uma actriz espanhola. Incógnita e despida de todas as armaduras da guerreira incisiva, mediática e desbocada que costuma ser.
Desta vez, penso, vou, emagrecer as palavras dos desacordos que com ela costumo ter.

O mar argumenta mais alto.

Ela exclama um coño, que belleza más pura y selvage!
E fica em silêncio como quem se abriga em si própria.

(Tivessem os pensamentos dela, nossos e dos outros forma e andariam alados e soltos muito para além do horizonte. É de facto voo que a paisagem pouco populosa permite.)

Também não fez muito barulho El Pepe, que lhe é espécie de filho recente, quando apareceu com o meu Royal Highness na boca.

Ay, como está la intelectualidad esta que anda el Thomas Mann el la boca de los perritos…! Le encanta Ibsen. Se ha tragado en un santiámen mitad de la Casa de las Muñecas!


Bom assimilador de técnicas de arte dramática, El Pepe, mata liminarmente qualquer palavra mais gorda de responso. Thomas Mann não chegou a ser por ele engolido. Deixou o acto devorador para mim. Com capa ligeiramente ponteada a dentes caninos.
Mas assim se interrompeu a dieta de palavreado. A bulimia de desaforo continuou à vista de um nórdico escarlate sempre em plena exibição dos músculos varonis.
Em consequência da visão, seguiu-se um pequeno momento do mais puro Almodôvar.




Cena diabólica que, parece-me, fez, por decência, o mar baixar a maré.

Pudibundo e sensato, El Pepe adormeceu.

À chegada de uma outra visita em forma de italiano hidrato de carbono, transformou-se a casa numa espécie de ONU esquizofrénica.




Voz mais ajuizada propõe que se jante em casa, já que ir dar espectáculo de disparate vadio para o restaurante, muito frequentado por espanhóis estranhamente discretos, ingleses absurdamente sorridentes e alemães incrivelmente descontraídos, seria um atentado à paz e ao silêncio mundiais.

É minha função acender o carvão.

Não há nada de mais produtivo que discutir movimentos artisticos enquanto se descascam batatas e se cortam os talos às hortaliças.

Ao fim de uma hora a natureza morta dá lugar à bem viva.



A senhora do quiosque dos jornais, na vila, que, pelas exclamações, se percebe ser devota de Deus, do Pai do Céu, do Filho, do Espírito Santo e da Bem-Aventurada Virgem Mãe de Todos, indica que o sr. X é um bom jardineiro. E barato. De mãos postas, olhos no ensolarado firmamento:

- Graças a Deus Nosso Senhor que ainda há pessoas decentes neste mundo!


O ponto de exclamação tem a forma de um profundo suspiro.

Numa prateleira do seu estabelecimento, o Galo de Barcelos desceu a sul para acompanhar várias Nossas Senhoras de Fátima de tom esverdeado, ali mesmo ao lado das Pastilhas elásticas Gorila , tudo encimado pelo cartaz a anunciar as Festas da Nossa Senhora da Guia: procissão primeiro, Vanessa Soraya depois. Grandes êxitos: "estou louca por você", "não faz mal na minha vida".

Bom, mas abre-nos a porta o sr. X. Um homem ainda relativamente novo, de poucas palavras, olhar vago e algo ausente mas a irradiar uma bonomia quase enternecedora. Viemos a saber tratar-se de um ex professor de português, agora com profissão exilada nos jardins. Trocou, diz, a guerra pela paz. Prefere a boa educação da terra, o disciplinado crescimento das plantas. A sabedoria ancestral dos ciclos.

(Igual que en España! Mis alunmos son mayores y me llegan a confundir Isabel la Católica con Maria Antonieta! Y danza Moderna con Contemporanea.Fíjate!)

Fascinados pelas suas Van Goghianas botas, vamos à feira de Santana.


A vendedora delas tem um elevado sentido de justiça económica: percebemos que custam 50 euros para americanos, 30 para espanhóis e 20 para portugueses. Assegura que iguaizinhas, nas sapatarias da moda em Lisboa, custam 200. Duram uma vida. Cosidas à mão.

Só no fim me pergunta qual o meu número: 37 mais ou menos.
- Amori, só tenho despois do 40, mas, Cara Linda venha cá, põe-lhe umas palmilhas e anda com os pés à vontadi, minha Santa. Ai a americana é sua amiga? Disse-lhe que eram 50 éros, mas enganê-me. Até lhe faço 15. Mais o sebo.

(Estamos nosotros de Marruecos?)

Ao som daquele mar, que dia e noite parece um animal desesperado e voraz, vêem-se noite fora, chá e whisky dentro, filmes mudos em resma de DVDs


com cenários e expressões quase reconhecíveis em recantos daquelas paragens.



Com memória a impulsionar o corpo, vamos mimando movimentos, gestos e truques antigos. Abrimos os baús nos sotãos dos músculos.

Em silêncio. Com sorrisos respeitosos, que o corpo começa a ser já uma matéria adormecida, embora ainda não patética, convenhamos.

O tempo é uma entidade hiper-realista e dramática.

O fecho do porta bagagens tem o baque de sentença. Estrada, auto-estrada, fronteira. Passadiço para nação oposta.

Madrid vai-se recheando de gente regressada, de histórias . Animal que se sente ferido mas, diz a História, há-de renascer sempre do seu próprio sangue.


-Manaña, reunión a las dos. Lástima!


Limpo e penduro a tábua que o mar deixou na areia. Como um inacreditável presente. Soa a tesouro ou milagre. Quem diria à árvore que iria ter uma fatia de si gravada, que viajaria oceano fora, que seria enxotada para uma costa de areia fina e clara, entraria num carro para repousar numa parede branca?


Não, acho que não me esqueço de nada. Tenho as chaves, o telemóvel do serviço…

E, trago uma mala a viajar, romanticamente, pelas veias.


Onde a sombra guarda os segredos.


25 comentários:

Frioleiras disse...

Também gostaria de uma praia assim... com frio e névoas.........
porque com soleiras algarvias não me entendo...

e gosto,
muito ,
de 'rituais' como os que descreves...

o Norte........

gosto.
muito mais, do que ao sul,
ao sul do Tejo..........

Lisboa, que me acorrenta, já é um
enorme
desterro para mim..............

Lizzie disse...

Frioleiras:

Norte,Norte não será.

Esta é a zona entre a Foz do Arelho e a Praia de Sta Cruz.

Existem praias ali que são verdadeiros tesouros naturais.
Outras, enfim, com gente aos magotes, lixo, barulho, berros.

As carantonhas que botei aqui foram, sabe-se-lá por quem, esculpidas nas rochas, na praia de Porto das Barcas (zona da Lourinhã).

As ruínas correspondem a uma casa-fortaleza assombrada perto, salvo erro,de Porto Dinheiro ou Valmitão. O acesso é difícil mas vale a pena. Por fenómeno acústico, ouvem-se as entranhas das ondas. Tudo ampliado. De vez enquando, um pássaro da zona pia com um grito humano. Agudo. Feminino.
Disse-nos uma velhota que são os gritos de uma rapariga que ali viveu e ali morreu de loucura. Quando? Não sabia porque já assim contavam os antigos.

Foi ali que nos deu (de repente e sem combinação) para dançar cenas dos filmes mudos. Frustação: não ouvimos o fantasma bater palmas.

Noutro sítio, salvo erro outra vez, perto da Peralta, há outra casa abandonada sem telhado com...uma ávore lá dentro. Já está na mira para ser comprada. Ele há arquitectos que ficam logo desvairados:))

A "nossa" praia tem quilómetros de extensão, quase ninguém e os alguéns são espanhóis, ingleses e alemães. Maioritariamente.

É uma paz que se infiltra, que se bebe. Onde se pode tomar balanço para voos. A casa vai ser utilizada exactamente para dormir, nem que seja acordado, e trabalhar.

Há muitos anos que não vou ao Algarve. Provavelmente, nunca mais. Sinto-me mais filha do fresco e do nevoeiro.

Lizzie disse...

e, já agora, a feira de Santana, fica para os lados de Rio Maior.
No meio de um pinhal, junto a coisa nenhuma.
Tem um ar medievo. Podia lá eu resistir a comprar um carrinho naive feito em madeira...:))

Há muito tempo que não comia fruta de sabor intenso,não normalizada, pequena, filha legítima da natureza.

o Reverso disse...

Lizzie*, senhora

entrei neste post (como muito bem foi por vós recordado, postal, como diria o mui saudoso capitão), entrei neste post e dados alguns passos logo me senti como que caminhando pelas tábuas no convés do navio de fellini.

"porque sim", era o motivo que me atiravam minha mãe e meu pai quando, em pequeno, lhes pedia a razão de ordens que me davam e que não me agradavam por não as compreender.

"porque sim" é a razão que vos dou pelo que senti ao caminhar nesta vossa grandiosa nau. espero que a aceiteis melhor do que eu aceitava em miúdo.



* sabei que detesto carregar no caps lock para fazer crescer as pequeninas, mas vós mereceis.

Arábica disse...

Lizzie,

de facto é de lamentar que não conheça tais lonjuras de mar e névoa. Essas tuas fotos são uma porta adentro do sonho de qualquer solitário!

Por outro lado, é bom ainda haver névoas e silêncios salgados por conhecer, tão diferentes dos amarelos terra ocre onde irei descansar por uns dias e já tão conhecidos, tão percorridos, tão pisados. Mas de água tão acolhedora na temperatura!!

Não existem praias perfeitas! :(

Esta, pela tua descrição e pelas próprias caracteristicas, lembrou-me de imediato uma praia alentejana, desconhecida da maior parte dos veraneantes, a da Carriagem, ali para os lados da Maria Bolacha.

E aqui me despeço, com muitas vénias e beijos, até a um possível cybercafé :) num possível momento de fare niente, depois do outro possível, recomendado e desejado, dulce fare niente :))

Bom fim de semana, Zizzie Lizzie.

Lizzie disse...

Estimado Triliti:

Ecco! E la nave va!:))

não é película mal lembrada não senhor, num ou noutro momento.
"Nau", como lhe chama, tem uma ressonância muito mais lata, aventurosa e metafórica que barco.

O redondo e definitivo "porque sim", aqui, não me aborrece. Antes pelo contrário.

Na infãncia e adolescência também conheci o "porque sim", às vezes acompanhado por uns "não me lembro de te ter pedido opinião" e "cresce e aparece".
Acabava ali a conversa.

Isto numa parte.
Na outra, como mandavam as regras, era mais:young lady, vais pedir desculpa primeiro depois vais lavar a loiça (esfregar o chão, levantar às seis da manhã e etc) para saberes como dói. Género recruta, mas com sargento de voz ampla, funda e doce que dava também dava explicações mais teóricas ou o explico-te quando cresceres até áquele traço na porta, podes quando puderes pagar com o que ganhares com o teu trabalho.

Também neste caso qualquer argumentação era, em geral, inútil.

Irritada, irritada era quando saía em genuíno português um "uma menina não deve fazer isso"( ? "porque sim"). Era logo meio caminho andado.
Odiava jogar futebol,p.ex, mas se fosse preciso até fazia o sacrifício.

E se o Estimado não gosta de engordar palavras com as calorias do caps lock, pois ponha as letrinhas a dieta.
De qualquer forma, curvo-me perante este seu asterisco.

Os meus agradecimentos e habituais respeitos com desejos de bom fim de semana.

Lizzie disse...

Arábica:

essa Maria Bolacha não conheço. Fico-me pela Bolacha Maria, que tanto aprecio molhada no chá. Cuetara, de preferência:))

(telefone... já volto)

e não me dou nada bem nem gosto de calor, por isso aquela praia é óptima. E versátil: tem horas do mais belo Outono.

Quanto a mar, gosto dele com mau génio e bruto.

O frio convém à matilha lesionada: é anti-inflamatório e andar na rebentação é fisioterapia mandada pelos deuses.

Aliás tem umas rochas, tipo ilhas de pedra, que fazem desenho tipo sofá de massagem.
Qualquer dia levanto-me, pronta a andar e vejo que virei sereia.
Mas prometo não cantar. Credo.

Então boas férias no mar que tem a mania de imitar os lagos em banho-maria:))

Diverte-te.

Besos

Lizzie disse...

e, tenho estado a pensar numa razão para ir lá amanhã ou no domingo.
Já encontrei: vou ver quantos milimetros já cresceu o arbusto que o Sr. X lá botou.:))

Miguel Batista disse...

Oi Lizzie...passo só, como diria uma minha colega, "para largar charme" :)
dizer um "Oi"
e anunciar que estou a organizar um evento cultural na covilha como esta cidade ja precisava, com mostras de arte, cinema, design, conferencias e, melhor de tudo, FESTAS...pelo que se por novembro nao tiveres nada melhor para fazer, aconselho vivamente dar um pulo à Covilhã...
dark kisses

Arábica disse...

:)) Dessa Maria também gosto...com o café :))
Mas a outra, a da Carriagem é exactamente assim, deserta em muitos kms, com brumas e névoas frescas, rochas negras e mar agitado. Nas rochas, em fase de maré vazia, aparecem as marcas de uns carris, que só podem ter sido laboriosamente gravados pelo tridente de Neptuno, em dia de ígnea criatividade ou fúria terrestre:))
Se um dia passares por odeceixe, vale a pena procurar. Mesmo correndo o risco de escamas prateadas, qualquer argumento é válido perante a promessa de tantos prazeres. Não te esqueças de levar a fita métrica para ser mais verosível :))

Hasta, besitos

Emma Larbos disse...

Ai, Lizzie, tenho de te levar um dia ao meu Algarve! Havias de deixar as praias de névoa para passear na primavera ou no outono, quando pertencem as névoas e o corpo não pede água.
Na minha praia há pouca gente porque ainda não a descobriram. Um dia vão dar cabo dela também.
Mas só lá é que consigo renascer das águas. Tardes inteiras no mar, com água a 29º, quente e doce! Só em África me lembro de tal coisa.
Agora estou de malas aviadas (vou passar por Madrid, embora muito rapidamente, queres que leve saudades?) mas, quando voltar, logo te conto onde é a minha praia.

Anónimo disse...

E mais uma vez aqui os chinelitos (do conforto) e os passadiços (das viagens).

Não fora ter consciência de que em Agosto estava na Dinamarca à procura de névoas, baixas temperaturas e luares encantados e até pensaria que esse arquitecto saído do nevoeiro era eu. Sim, dedico-me a desenhar edifícios, com a esperança de que alguns deles se venham a tornar casas assombradas para os prazeres das almas ousadas e os sabbaths de belas feiticeiras em andamentos de filme mudo. Se há criaturas por quem sempre me apaixono são os fantasmas e as feiticeiras e ficarei com aquele(a) de quem sentir o coração em tontura perante a minha dedicação, aqui, além, perdidamente.

Outras loisas ficam por dizer, pois o tempo urge e o atelier espera-me, nesta vida de robot e digital em alta definição. Tenha um bom dia e até breve.

Passadiço ainda em Pantufas, já lancetado de nostalgia de fantasmáticos

Lizzie disse...

M. Angélus:

sejas bem aparecido!
Fica descansado que charme é coisa que não te falta.

Iniciativa, pelos vistos, também não.

Vou ficar atenta aos eventos da Covilhã. Espero que seja um sucesso. Se puder, claro que vou.Diz-me a experiência que se descobrem sempre talentos.
Essas festas são sempre necessárias e existem tão poucas aqui, comparando com lá fora...

Dark kisses e obrigada pelo teu convite.

Lizzie disse...

Arábica:

esqueci-me da fita métrica:))

Fiquei extasiada com as gaivotas, em magote, à entrada. Uma espécie de corpo diplomático do mar.
Pareceu-me que estavam concentradas numa espécie de oração pagã.
A Escócia ali tão perto...até baixou um nevoeiro digno esconder feiticeiras.

Já passei por Odeceixe, mas confesso que não me lembro da fúria artística de Neptuno.

Esses carris não serão as garras de um gato dinossáurico?


Boas férias

Lizzie disse...

Oh Emma,

mal posso esperar para me sentar na tua praia, a olhar para mar, em ânsias para te ver surgir, leve e sorridente, das cálidas águas.

Também posso esperar montada num alazão, capa ao vento, alforge viajado (hoje acordei muito britãnica).

Agora, para mim, 29 graus olha, não sei se ficarei melhor temperada com salsa ou com coentros. Talvez oregãos. Azeite é que não!

Espero que não estraguem a praia. É uma especialidade deste país.

Aquela nossa tem aldeamentos em algumas zonas, mas como é tão grande, enfim diluem-se. Podia ser pior. Suponho que a manutenção do silêncio e controlo da população veio da exigência do público alvo.

Andamos desencontradas nas idas a Madrid mas, de qualquer forma, se passares na Alcalá,põe as mãos na anca e chama-me. Nunca se sabe se o Almodovar não estará a tomar a sua "americana" no....

(Lizzie, oh Lizzie, donde coño estás tú, mujer? Baja de ahí, gillipolas!).

Sou capaz de estar num terraço, ali, numa transversal.

Boa viagem.

Lizzie disse...

Oh Passadiço Arquitecto dos Mais Belos Silêncios, Criador da Mais Diáfana Cor:

Fôra eu fantasma desgrenhado sem cabeleireiro nem gradeamento de maquilhagem obrigatória, e habitaria, divisão a divisão, louca, lívida e urgente, a casa que para mim desenhásse.

Esperaria por si, surgindo assim solitário, vestido da mais orvalhenta névoa.

Na minha voz, só por si ouvida, contar-lhe-ia, com a sabedoria do além, os mais recônditos segredos das loucuras da aurora boreal.

Vá, senhor, não tarde, para esse labor tão terrenamente digital.

Esperá-lo-ei, vestida do mais puro e angelical branco, junto à fonte do vosso génio.

Sua eterna fantasma, ainda cruxificada na dor estilistica dos saltos altos.


Ai!

Haddock disse...

brrrrr....
de facto dá ares de não apetecer descalçar o peúgo!!
e assim até percebemos vossa opção pelo "termal" thomas mann...

mas, convenhamos, lizzie, que ir à praia para dela sair descorado e tiritante com tanto romantismo germânico faz mal aos ossos!!

tivésseis levado uma "caras", uma "gente" ou um "paulo coelho" - que fosse - e o céu abrir-se-ia!!

de todo o modo, ficámos profundamente rendidos ao "el pepe"!! o dom do bicho para esfrangalhar o tédio ibseniano e quejando encantou-nos e de que maneira!! (permita o divino que não se trate de um daqueles canitos irritantes que sempre tomámos por estúpidos... é que dói-nos torcer o braço...)

fazemos votos para que já estejais a trabalhar... subordinadamente, por supuesto!!

vénia...

Anónimo disse...

Lizzie - permita-me já tratá-la pelo nome - sou tímido, embora tigre de astrologia chinesa...;-) E fiquei tão sem jeito com a sua verve esperadeira que até a minha barba ficou incandescente tal o rubor que rastilhou de sob ela. Um rubor similar à ocularmente deliciosa posta de salmão que prantou na sua divinal ode e que lá nas dinamarcas cozinham à la mil e uma noites de mil e uma maneiras. Curiosamente há lá uma banda muito cool chamada Dizzy Mizz Lizzy. Frequentei muitas festas e saunas ao som dela... Tenho de ir, tenho de ir, esperam-me uns alçados para mais um centro comercial... Não sem antes de lhe dedicar a música Haja o que Houver dos Madredeus...

Passadiço Trémulo, desejante de ser tocados pelos seus saltos altos ...

Lizzie disse...

Capitão:

Oh, quanto já estamos a trabalhar subordinada e subordinantemente que somos mulheres de, pelo menos, dois opostos trabalhos.

Se levássemos Paulos Coelhos seria grande o nosso medo. Começaríamos logo a voar por força de esoterismos vários e,não é por nada, mas temos mais confiança em aviões afinados com pilotos devidamente treinados e pára-quedas devidamente testados.

Perdoai-nos mas gostamos mais da Hola do que das que referis: nestas abundam poses rígidas a pedir torcicolos e outras contracturas. Na Hola, só a Princesa Letízia sofre de tal mal. Até a cadeira de rodas da Duquesa de Alba é mais descontraída.

O canídeo é literariamente subversivo, o que não deixa de ser estranho já que pertence a uma raça francesa.
A propósito, vamos botar essência de ossinho fresco no meio das páginas de Simone Beauvoir. Adoraríamos vê-la escorregar pelo esófago d`El Pepe.

E que quereis?, gostamos de temperaturas amenas e praias desertas de raquetes e bolas. E viramos alvoroçadas de romantismo embora não tão filosóficas como os germãnicos. Nem tão descoradas.
Sabei que regressámos bem morenas ainda que não usemos Coppertone nem similar.

Adoramos dormir de cobertor.Somos de aconchego.

Continência

Lizzie disse...

Passaiço Nórdico Dos Mais Ruborosos e Tigrados Salmões:

Ah, como o imagino em puro langor descansado, toalha púdica a envolver a cintura, na mais nevoenta sauna...

e como visualizo, oh com que clareza, a sua figura de smoking, os seus delicados dedos no corrimão a descer as íngremes escadas dos faustosos palácios onde se celebram valsísticas festas.
Qual Burt Lancaster no Il Gattopardo, sorriso de Visconti ao fundo do salão.

E ao pressentir-lo no estirador em desenho de alçado para centro comercial, intuindo-o eu com de alma aprisionada e contrariada em tal labor, contraem-se-me os gémeos, os bíceps, o dorso como expressão da mais visceral revolta.

Ah, como são os tigres animais possantes de liberdade.

Ecoam os Madre de Deus no mais secreto recanto do meu aparelho auditivo.

Haja a moda que houver, guardarei para si, sempre e até que a morte me devolva ao pó, os saltos altos.

Sua Lizzie, cool mas quase desfalecida.

Ah, brevidade...

Miguel Batista disse...

eu sei que tenho andado meio ausente, mas o motivo é justo. estou numa fase da minha vida em que tenho que aproveitar cada oportunidade para me lançar, a organizaçao desta mostra esta a dar frutos em varias vertentes, é nao só uma oportunidade que me dou a mim e a muitos outros de mostrar trabalho, como uma experiencia que me esta a permitir a aquisiçao de um enorme know how no que diz respeito tanto à organizaçao de eventos como a outros diversos campos. para alem disso estou numa fase imensamente criativa que é de aproveitar, as ideias nascem que nem cogumelos. nao é estrenho por isso que me tenha ausentado tanto da blogosfera como de muitos outros campos. trabalho quase todos os dias mais de 12horas, muitas delas noite dentro, e ainda se associa a isto a organizaçao do evento, da minha vida pessoal, e de outros compromissos que vao surgindo.
planeio ja iniciativas do genero noutras cidades, basta que para isso as camaras municipais se mostrem disponiveis tanto ou mais quanto a da Covilha se mostrou no que diz respeito ao apoio deste genero de iniciativas...

dark kisses

Arábica disse...

Ai Zizzie,

mil ventos me virem do avesso
não consigo despedir-me do verão ;))

Lizzie disse...

M. Angélus:

fico contente com essas tuas actividades.

É muito importante saber aproveitar essas fases de criatividade sobretudo porque atrás de umas vêm as outras. É uma espiral viciante.

E desejo-te, mais uma vez, as melhores saídas para as tuas organizações. Num país onde a cultura não existe nem é nunca falada como parte do desenvolvimento económico e criação de emprego, é óptimo que existam iniciativas como as tuas.

Em frente e com força.

Dark kisses

Lizzie disse...

Arábica:

cá para mim desde que faça fresco tanto se me dá como se chama a estação:))

Alien8 disse...

Lizzie,

Dá-se o caso de conhecer a zona. E também o de apreciar praias contraditórias, quero dizer, sem calor, de preferência, a água até pode ser fria como a das praias nortenhas (Furadouro...brrrr... com os barquitos a virem da pesca, as redes arrastadas por quem lá estivesse e a lota ali mesmo na areia)... e a aurora ou o pôr do sol, uma bebida, um petisco, gente pouca mas boa, enfim, estás a ver a ideia :)

Calor, só mesmo nos mares tropicais de que fala a Emma sortuda que tem um Algarve dela :), que aí (nas Áfricas!) tudo é diferente uma questão de amplitude, ou talvez de latitude, sei lá... mas, mesmo assim, com sombras acolhedoras ali mesmo a jeito. Ah, pois!

Quando for grande, quero ter umas botas dessas. A 20 éros, tá visto! Não as calço nem à lei da bala, mas fico embasbacado a admirá-las.

Férias bem temperadas, já percebi.

Beijinhos.