quinta-feira, 4 de junho de 2009

Da contemporaneidade produtiva

das Folhas

hermafroditas



Não, não é nada. Levanto-me já!

Não Minha Senhora, não é preciso chamar o 112 nem ligar para nenhuma linha de apoio à vítima. Não se incomode. Muito obrigada.
É que, sabe, não fui habituada a papéis, a dizer faz todo o sentido com ar grave e a toda a hora, nem a escrever competências, valências o que para mim, que sou disléxica, é um drama.

Ai Minha Senhora, sei lá se se escreve com ^ ou com ~ ou se com coisa nenhuma (sou lá eu algum dicionário espremido). E os critérios de normalidade, critérios de satisfação e critérios de superação?

A vida muito arrumadinha em grades exelianas, num papel branco, timbrado e com selo que aqui, veja lá, se parte sempre do princípio que toda a gente engana antes de já estar farta de ser enganada.



Mas, dizia eu que, ainda não haverá muito tempo, o meu Mestre, que é assim que eu chamava ao chefe por já ter o dom de se rir de tudo,

mais uns quantos, cá nos ajeitávamos, cada um a fazer o que tinha de fazer, encantados da vida, empurra hora daqui, encolhe-a dali, sem mendigar feriados e pontes como agora fazemos.

Mas deu-se, minha senhora, um estranho fenómeno nunca visto nem na Mancha espanhola nem no Entroncamento português: sentimos uma ligeira pressão nas portas que se propagava em ondas ao nosso cérebro, perturbando-lhe a paz do trabalho.
Vou-lhe explicar:

verificámos corresponder tal pressão, a resmas de papeis sedentos de escrita com palavras e expressões que nós não conhecíamos nem nunca tínhamos ouvido falar.

Instalaram-se eles, os papéis, aqui no sítio onde estou. Acredite ou não, começaram a reproduzir-se entre si e em regime de hermafroditismo como só conhecia nos caracóis.

Minha senhora, imagine a avalanche branca, dirigida por umas quantas canetas voadoras e umas quantas teclas esquizofrénicas mail-listicas a que acresce um comportamento maníaco compulsivo, ao som de uma voz de comando correspondente a um deus que eu nunca vi, nem me viu a mim, a menos que seja omnipresente e omnisciente como aquele mais antigo de que sempre ouvimos falar e que acreditando nele, ou não, imaginamos.


Viu os Pássaros de Alfred Hitchcock, viu? Tal e qual, mas em folhas.

Minha Senhora, antes que os papeis me travassem os movimentos das pernas e dos braços e me invadissem a cavidade oral, porque não sei se já lhe disse que têm micro ventosas com super cola três, corri ao Mestre que, quanto mais velho fica mais gargalhadas dá e é conhecido por já ter privado com muitos deuses e contei-lhe da invasão.

Estava calmo apesar de ter centenas de folhas a choverem do tecto.

Ele cruzou as mãos atrás, lá para as bandas da nuca e disse que já não tinha idade para se satisfazer, nem superar, nem para suspirar por feriados nacionais ou municipais e que tinha pegado num papel anti corpo chamado reforma e que o tinha mandado para o ar à espera que fosse aterrar na secretária de deus nacional, porque ao contrário dos outros, muitos estrangeiros, este novo deus nem sabe, sequer que ele existe.

Apesar das preces.
Superem-se agora vocês!
Disse o Mestre.


Depois o Mestre falou como um tribuno travestido de filosofo com laivos de apóstolo.

Começou por citar Tomasi de Lampedusa , ou... teria sido Monsieur de La Palice?
É preciso mudar para que tudo fique na mesma.

Porque é sempre mais superado o que mostra ser do que aquele que é.



Aconselhou a evidência: vale mais correr, limpar a testa e exibir suspiros dramáticos e nada fazer que muito trabalhar com afinco e discrição.

E mais disse o Sábio, Minha Senhora:

que palavras simples não chegam aos céus. Com qualquer gestão de competências na micro estrutura organizacional tendo como objectivo a maior rentabilidade inter departamental numa contextualização macro económica, qualquer janela se abre para o universo destes novos deuses.

Porque o Mestre disse, ainda, que é preciso escrever bem ainda que ninguém perceba o que está escrito.

Como sempre, quando constata factos, limpou os óculos à fralda da camisa de riscas ou quadrados. Sem gravata. Nem botões de punho.

Quando voltei aqui, os filhos dos papeis eram agora pais de outros mais novos e destes mais novos já tinham nascido outros mais novos ainda, parecendo-me estes já, por sua vez, completamente grávidos.



E saiba que, se anteriormente, ao pedido de esmola de dias entre os feriados, bastava a atenção única do Mestre, expressa em rabisco rápido debaixo de um simples autorizado, sem inconveniente de serviço, são agora precisas as benevolências de sete intermediários do tal deus que nunca ninguém viu.

Ai Minha Senhora, foi aí que tombei no chão e assim me encontrou:

imagine que um desses papeis, bailando gozão à minha frente, porque se na minha atabalhoada letra manuscrita se lia distintamente 3 dias de ...érias, não se deu por entendida a letra inicial, e portanto não podia o emérito intermediário passar ao seguinte o que não estava claro. Sob pena de também ele não satisfazer ou superar.

Está certo, Minha Senhora, que sou dada ao disparate, ao absurdo,


mas juro, por qualquer deus antigo, exista ele ou não, que nunca me passou pela cabeça, pedir três dias de Lérias entre feriados, por exemplo. O F inicial, sempre me esteve no espírito. É, hoje em dia, letra recorrente no meu pensamento.

Pronto Minha Senhora, olhando para estes meus objectivos pessoais inseridos na produtividade da estrutura de rentabilização do oxigénio, ainda tenho a margem de três suspiros fundos como limite máximo de libertação de dióxido de carbono.

Vai-me custar o nível de superação, de excelência, já que ainda ontem os meus pulmões desordeiros e individualistas, se lembraram de chegar às quatro emissões profundas e dez superficiais.

E, o que é mais grave, é que me esqueci de as anotar na folha de serviço inventada por deus e onde se distinguem os conteúdos funcionais entre o acto de suspirar e o acto de respirar fundo. Como é que apresento agora a estatística pormenorizada dos meus actos respiratórios?

Um funcionário excelente não respira. Um bom respira uma vez por dia e nunca durante as horas extraórdinárias. Um suficiente não contém três ais. Um mau hiperventila porque, se calhar, até fuma.

E, como também vou ter que avaliar a formiga que está abaixo de mim na hierarquia, ando num dilema angustiante: em que categoria entrará o bocejo?

Deus considerar-me-á apenas num nível satisfatório, mas enfim… ninguém é perfeito…e ainda não tenho idade nem sabedoria para me rir de tudo como o Mestre mas também não sou assim tão nova que sorria a um qualquer deus avulso sem ter prova da sua divindade.


Fico à espera que me entre porta dentro uma outra folha de papel, desta vez benigna, de F já considerado entendível, que me permita, para a semana, rolar estrada fora e estrada dentro, imaginando que vou sentada numa mota de cowboy, livre, no saboreio do vento



enquanto, agora, vou ouvindo música que faz todo o sentido nestas árduas circunstâncias invasivas.

Boa tarde, Minha Senhora, e muito obrigada pela sua gentileza…

-------------------------------------------------

E, já agora, deixo a nossa triste figura, quando às 14h e 52m, soubemos, embora não oficialmente por falta de selo branco, que nos eram concedidos, os tais três dias de férias.


34 comentários:

Anónimo disse...

:-))))))))))))



ironia

graça

imaginação



sempre uma surpresa neste país dos efes



bem haja, lizzie

Lizzie disse...

Bem haja vocemecê também!

E, pois, substituíram-se os Fs (ou não)por uma delirante feira de vaidades, perdão, burocracia do reino das valências:)

Demora-se mais tempo a contar e a justificar o trabalho do que a fazê-lo.

Mas há sempre quem goste destas novas "formas de perspectivar":)

o Reverso disse...

e eu que aqui vinha hoje com tanta pressa, senhora Lizzie, a pensar que vinha num pé e ia no outro, pensando que não heveria ainda postagem nova e dou convosco estatelada no chão!...

e cuidadado não sei se ireis recuperar brevemente.

também me preocupa aquela jovem sísifa. se a corda se parte e a pedra vai por ali abaixo ela estatela-se também de cara no chão.

quanto aos ^ ~, com eles ou sem eles, a escrita por aqui é sempre soberba. diga-se muito ou pouco. mas geralmente diz-se muito, diria que se diz tudo.

e agora me vou, que é tarde e amanhã tenho que madrugar e continuar viagem.

bom fim de semana.

o Reverso disse...

ps-já agora senhora lizzie, deixo o meu convite: passe pelo meu espaço, pois penso que nunca a vi por lá e eu teria imenso prazer na sua visita.

so lonely disse...

Lizzie,


O tempo hoje está de chuva e propicia ainda mais, com o piso escorregadia, uma ou outra queda.


Cuidemo-nos que as doenças atacam cada vez mais em gente muito jovem e nunca se sabe quando uma incipiente osteoporose começa a fazer das suas.

Eu sei que quem faça muito exercício físico melhor está defendido contra esse problema mas nunca fiando, as doenças são traiçoeiras. Os tempos estão realmente difíceis e todo o cuidado é pouco.

Bom fim de semana e resguardemo-nos, o que a mim já de pouco servirá.

so lonely disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Frioleiras disse...

pois... a tua imaginação (ou não) descritiva é fabulosa!

o problema, neste país de efes é que eu gosto da letra F (de Frioleireiras, de Fantasia, de Flor, de Família etc etc ... e da letra L (de Letras, de Lérias, de Leitura, de Livros de Liberdade etc, etc)

mas se soubesses nas coisas kafkianas em que este país de éfes me tem submetido nem acreditarias... mais tarde, qd (se) tudo tiver passado conto. Tudo inopinadamente e surrealisticamente por causa deste pais de efes...

e a máxima (tão máxima...) de

"É preciso mudar para que tudo fique na mesma", nunca me foi tão dolorosamente verdadeira...........


.

Lizzie disse...

Triliti star:

nem imagina os suplícios que tenho com os chapéus das letras...mais fácil é Ascot, além de ter mais graça.

Ando com tendências estatelativas. Ultimamente tenho tido grandes desfalecimentos.

Há algum tempo deu-me para ficar muda e queda sem pinga de sangue: petrificada.
Dava-se tal rigidez quando me via, com o Mestre, no meio de dois intermediários de uma deusa. Um estava sentado muito à esquerda dela, o outro muito à direita. Brigavam o tempo todo. Atiravam-se petardos mutuamente. O que vale é que ficavam tão entretidos a brigar que nem davam pela nossa presença estática.
Nesta guerra, destruíram o edifício. Nunca mais foi o mesmo. A deusa dormia (acho eu). Ou fingia que dormia.

A sisifa está a tentar superar-se.

Não sei se por obediência cega ou por convicção.

Espero que não caia e deixe cair a pedra. Não sei porquê, mas quando estas pedras caem, acabam por esmagar muita gente.

Lá irei aos seus espaços abertos. Com todo o gosto. Ao fechado é que não sei.


Agradecida, boas viagens!

Também eu vou viajar.

Lizzie disse...

Milady:

como tendes vós razão....!

Como o piso anda escorregadio!
Anda toda a gente a olhar para o chão com medo de cair, fracturar o colo do fémur e ficar numa cama a definhar.

E andam por aí muitas doenças disfarçadas, olá se andam.

Já não pode uma pessoa espirrar, que há logo quem diga, e muito mais quem vá dizer, que sofre de uma pneumonia contagiosa. E vai-se para o isolamento compulsivo.

Terei em conta os vossos conselhos, para além de os agradecer.

Não sou muito de andar aos pulos por tudo e por nada e a toda a hora, mas senhora, quando me dá para pular...ganho molas nos pés.

Bom fim de semana, Milady

Lizzie disse...

Frioleiras:

estou solidária nas kafkanianas e nas outras,as que parecem puzzles em que se perdeu a imagem completa.

Também passei e passo por elas.

Uma, agora é, vamos imaginar,dizerem nos que temos que subir ao 70º andar de um edifício em Lisboa. Nós dizemos:
- não podemos subir porque não existe nenhum em Lisboa!
-têm que subir porque os deuses querem que subam e se vocês não subirem dizem que a culpa é minha!
-mas os deuses não sabem que não existe nenhum?
-sabem. Mas querem que vocês subam.


As obras na minha morada estiveram embargadas durante seis meses. Na origem não havia Wc. Foi lá um funcionário da camara, primo de um senhor que queria a casa, e disse: não pode ter nem um, quanto mais três. É o que diz na lei: não se pode alterar a arquitectura.

Nada estava a ser estruturalmente alterado. Havia respeito pela traça e pela antiguidade.
Durante esse tempo, foi construído, um primeiro andar altíssimo por cima de uma casa linda do séc. VIII. Tanto a original, como o tal 1º andar foram pintados de azul piscina. Até a talha de pedra da fachada.

e etc, e etc.

Todas as letras são bonitas. Depende é aquilo que cada um faz delas.

Neste país dos Fs trocados ou não por Ls, o abecedário é muito mal tratado.

Anónimo disse...

:-)))))!






X

Lizzie disse...

e Frioleiras, obrigada pelo que deixaste lá em baixo.

Fica prometida a Alma Mahler.
É só me dar na gana, perdão, na veneta:))

Haddock disse...

f*****?? ousasteis sequer pedi-las, lizzie?? e ainda protestais contra o liminar(mente provisório) indeferimento?? e em pleno "venire contra factum proprium" caligráfico?? e nem a benevolência hierárquica, paga a nossas expensas, vos demoveu do protesto??

e quem protesta, animado (erradamente ou não) pela injustiça, em geral, geral e/ou o assédio moral, em especial, não deve exercer o direito-dever de votar, conquistado (consta) a duras penas??

*asterisco*???

pois nós cá ficamos - quais eternos heróis desconhecidos - de castigo para mais um acto eleitoral em cuja eficácia nem acreditamos.
mas dá-nos um prazer inexplicável aquela cabine da democracia com a bic normal agarrada a um cordel.
da última vez, estávamos tão hesitantes entre o branco e o nulo que o presidente da mesa de voto mandou chamar o segurança para nos fazer decidir.
desta, e para evitar mais vergonhas, estamos decididos a votar no garcia pereira!!

reconsiderai!!

vénia...

Alien8 disse...

Lizzie,

Ora ainda bem que os meus olhos cansados deram com letras maiores. Eu sei que posso aumentar o tamanho do texto, mas não gosto nada de o fazer, não sei porquê. Manias.

Da tua deliciosa e angustiada descrição concluo que andas a precisar de lérias (ou qualquer coisa assim) e, sobretudo, do "bode imarcescível". Se não o conheceres, eu apresento-to :)

De resto, não sei como te deu para criticar a burocracia, instituição meritória, previdente, cautelosa e indispensável ao progresso e à reforma tecnológica... :)

Ainda bem que conseguiste o objectivo entre feriados, senão tinha que te sugerir que metesses baixa :)

Tenho ainda forçosamente que deixar dito que quase me bastaria ver as ilustrações para compreender a história toda! Quase, mas é um grandecíssimo quase!

Boas férias-entre-feriados quando vierem.

Até lá, um beijo da Lola e outro meu.

Cöllyßry disse...

Expressivo post e espaço,parabéns


|)’’()
| Ö,)
|),”
|Terno beijo

Arábica disse...

Zizzie,


não só as folhas se multiplicam, também as senhoras se multiplicam, na sua complexa eficácia pró burocracia nas instituições.

Tomam corpo, forma e lugar.

Ler-te levou-me cinco anos atrás em tempo e espaço, lembro-me das erupções cutâneas e pruridos vários que me nasciam nas pontas dos dedos. E por outros sítios.
Aprendi a rir-me sózinha.
Talvez lhe parecesse acto de louca.
Aos olhos da senhora. O funcionalismo organizacional era péssimo, parecíamos baratas às voltas sempre dentro do mesmo círculo, claro:)

Mudaram a metodologia do trabalho que se não avolumava mais que o humanamente possível, para o humanamente impossivel tão bem descrito por ti.

Uma tarefa, passou a ser dez tarefas.
Ainda pensei que seria uma forma de combater o desemprego. Imaginei-nos num enorme open space, em vez de trinta, trezentos, erro crasso meu, claro.

Éramos os mesmos. Não. Éramos outros, uma qualquer especie de automatos que deveriam dizer a palavra certa, introduzir o código certo, saber o aplicativo certo para cada situação errada que nos chegava às mãos. Por esta altura, já trocadas. O desespero de ver que as baratas e os papéis nunca mais se divorciariam. Que se tinham casado segundo as leis do matrimónio antes da era do divórcio.

Tal como o Mestre também recorri a esse papel. Milagroso de riso. Mas alguns anos depois do desespero inicial. Um dia a rir, disse ao meu chefe Martins, marinheiro nas águas do mar da palha, que uma simples tarefa que demorava 4 minutos a ser efectuada (repetida 200 ou 300 vezes por dia sazonalmente) poderia demorar um minuto. Olhou-me incrédulo. Deitei a minha arrogância para o lixo (ou seria dignidade?) e exemplifiquei.
Segui o meu raciocinio, demonstrando, aplicativo a aplicativo como fazer. Ele pegou nos papéis e dirigiu-se à senhora, sempre mergulhada em papeis e telefonemas urgentes e reuniões importantes. E eu suspensa. coração alvoraçado: não é possivel. Claro que a senhora ficou indignada, rematou logo que não era metodologia a seguir. O marinheiro regressou de sorriso sarcástico olhando-me cúmplice.
Eu já não era a única a saber do talento das baratas e do complexo milagre da multiplicação das folhas.


Hoje em dia também gosto de me rir destas tolices...


:)


Boas lérias de férias :)

Emma Larbos disse...

Lizzie,

Ainda bem que a esta hora já estás a caminho do mar, a pensar nas cores do guarda-chuva para os pic-nics na areia!
Por lá os papéis desfazem-se com as ondas ou voam com o vento para uma qualquer ilha distante.

Não te esqueças de máquina fotográfica!

casa de passe disse...

bem......elucidativo esse seu post!

E logo hoje que estou bem down!
E por causa do meu ex-emprego e do meu novo(?) emprego.........

é tudo MUITO complicado!

abração

nini

so lonely disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
so lonely disse...

Que o mar que salga o corpo também adoce a alma. E que o regresso seja alegre como o terá sido a ida. Que sejam sempre de prazer as partidas e chegadas das vossas viagens.

Miguel Batista disse...

Oi Lizzie, passo só para deixar um "Olá" que a minha vida anda caótica......tenho k mudar de país...de preferencia para um em que os dias tenham 48h!!

dark kiss

Lizzie disse...

Votante e contribuinte Capitão:

Astericámos. Adoramos asteriscar embora, dizem-nos, nossa cabeça não pare só que às horas que muito bem lhe apetece e no gozo do achamento do acaso.

Sem a ditadura de papéis, fomos de ligar um arranjo fortuito de pedrinhas na praia a uma maravilhosa composição de Taverner para vários violoncelos.

Já somos três (vós, o Mestre e eu) a achar que as contribuições para os gastos públicos precisam de ter destino em inventores de papelada. Se assim não fosse, seriam aplicadas onde?

Nós, quando vemos a Bic cristal "escrita normal", logo ficamos com vontade de banda desenhada. Mas como somos de ser moderadamente ordeiras, vamos por exclusão de partes, já que há quatro que não merecem a nossa cruz. Nunca.

Além disso, somos de ficar irritadas com as perguntas que nos fazem acerca de nosso nome e BI.Achamosios intrometidos. Sorrimos e saímos altivas com passo de passerelle.

O nome de Garcia Pereira é-nos dúbio: Garcia soa-nos a Garzía castelhano, o que nos agrada porque deve ser combativo. Por outro lado Pereira lembra-nos cristão-novo, ou seja, alheiras fritas a fingir de chouriços. Odiamos alheiras por causa da gordura.
Se o vosso candidato as comer assadas, então, no nosso próximo acto eleitoral, também botamos nele cruz.

Continência

Lizzie disse...

Alien:

Ai que bons estavam os peixes grelhados,os naxos, os tacos,o marinado de cacto, o vinho bem fresco, a conversa ao cair do dia, a tisana de gengibre para aliviar o ardor no estomago (em vez do corriqueiro e pouco exótico kompensan)...:)

E botei letras grandes para ver se eu própria percebia melhor. Assim como aquele hábito de a uma pergunta em estrangeiro se responder em português aos berros:)

Fico à espera que me apresentes o "bode":) embora suspeite saber quem seja:)

A burocracia é uma forma de pôr ordem nas mentes desordeiras, enganadoras, alarves e quiça, criativas.
Também não percebo este meu ataque psicótico:)

Beijos para ti e para mi Patatita.

Lizzie disse...

...e Alien,sabes fazer a tal tisana de gengibre?

Para os abusadores de sólidos e líquidos que não saibam, cá vai:

Corta-se a raiz em finas laminas, qual Chefe prático e minucioso a cortar cenoura na profissional tábua.

Fervem-se os laminados em abundante água a fogo lento durante quinze a vinte minutos.

Espera-se que arrefeça a gosto e bebe-se em pequenos tragos.

Suporta-se, estóicamente (preferencialmente sem caretas arrugadas) o ardor alfinetado no trânsito gástrico e finaliza-se com o gozo da morte de qualquer azia ou enfartamento.

Lizzie disse...

Collybry:

obrigada pelos elogios.
Volte sempre que quiser e lhe apetecer com ou sem olhares indiscretos.

(lamento mas não consigo decifrar os seus caracteres finais)

Lizzie disse...

Arábica:

vais-me desculpar mas este novo riquismo expresso em palavreado economês, não tem senhoras nem senhores. É assexuado. Despersonalizado e sobretudo nada inocente.

Países mais ricos e melhor estruturados já o abandonaram. Alguns nunca o tiveram, sobretudo em campos onde o "objectivo" de um suposto lucro, dada a sua natureza, se torna obsceno.

O acto de assinar, de autorizar, é um acto de poder.

O Mestre tem mais vinte e tal anos que eu. A Mestre, de que não falei aqui, também. São personalidades consideradas ricas, lá fora, pelo seu trabalho. Por isso não sentem necessidade do ritual das assinaturas.
Alguns,novos, obrigados a assinar pelos deuses que ninguém vê,também não sentem essa necessidade.Também se riem do seu papel na engrenagem.

Outros sim. Ficam com a vaidade polida.E é uma vaidade vingativa. Daí que juntem o poder da assinatura com a arrogância e a má educação: só dizem bom dia, obrigado, se faz favor, aos iguais ou superiores. Escondem a ascendência. Andaram juntos na faculdade e tratam-se entre si por doutores. Soa-lhes bem ao percurso.

Lá fora é diferente. Mesmo em Espanha, aqui ao lado e com uma democracia mais jovem pós ditadura, já é muito diferente.

Há aqui um rapaz que tem dificuldade em se expressar. Na fala e na escrita. No meio do seu silêncio, toda a gente lhe reconhece o génio em informática.
Anda infeliz a levar e a trazer papéis. Lá fora, provavelmente, estaria em frente a um computador. Mesmo sem aparatosa licenciatura.
Conheci muitos assim. Em vários campos.

E que bem que me souberam as férias e as...boas lérias:))

Lizzie disse...

Emma,

ai o poder da limpeza do mar.
Voa tudo ou quase tudo:)

O deus que tem o pelouro do mar, não tem temperamento para ninharias, não senhora.

É tão grande que consegue criar encanto a uma praia chuvosa. Pinta-lhe uma luz difusa, estranha a fazer-me lembrar histórias antigas.

Que bem me souberam as sestas frescas e lavadas, no alpendre, com uma mantinha. Em Junho. Do efeito visual da água vertical que correu das telhas em contraste com a horizontalidade zangada das ondas.

Acordou-se-me a ascendência e quase, quase, vi fadas a trazerem bons piratas para a costa.

Ainda fiquei a ver se o nevoeiro matinal trazia o Dom Sebatião. Mas não!
A personagem sem contorno definido era só um velho arquitecto inglês a dar terapia às artroses.

Como nós o compreendemos...pézinhos de molho e descalços de qualquer sombra de papel:)

O deus também deu dotes de massagista ao mar. Tem dedos milagrosos, só te digo.

Lizzie disse...

Nini:

como este mundo anda!

Então nesse seu emprego (suponho) também tem papéis e exigência de produtividade?

Vai-me perdoar mas como Nini, e talvez por estarmos na quadra, bairrista, dos santos populares, imaginava-a (eternamente jovem) atrás de um balcão de retrosaria, emoldurada a caixas de botões e fitas de nastro, a olhar a fotografia do alferes miliciano em serviço no 4º regimento de infantaria.

Com saudades, down, mas a contar os dias para a próxima licença, com direito a braço dado e orgulhoso, no Jardim da Estrela.

Mas não ligue. Isto são maluqueiras minhas.

Espero que fique melhor. Assim a vê-la triste, ainda me lembro de algum livro do Gabriel Garcia Marquez

Lizzie disse...

So Lonely:

ai Milady, que nunca me são de felicidade completa as partidas e as chegadas pois que sempre deixo quem estimo.

Vissicitudes de quem vive em duas ou mais coordenadas.

Mas sois sábia, que traz o mar doçura. Quer a alma temperos que o comum dos dias desconhece.

E assim vamos aproveitando o sabor da vida.

Agradecida pelos vossos desejos.

Lizzie disse...

M. Angélus:

obrigada pela tua visita.

Também gostaria, e precisava, de de mudar para um país de 48 horas.
Como sou caótica, tenho impressão que, chegando lá, ia pensar num de 72:)

Mas tento, sempre, parar um bocadinho o tempo. Todos os dias. Duas vezes por dia, durante uns exteriores quinze minutos.
Habituei-me a isso para não me esquecer que existo.:)

A chatisse é que o relógio ganha sempre.

E odeio o tempo que o trãnsito me faz perder. Aproveito-o a ouvir música. Quando descubro uma nota nova, uma a que ainda não tinha dado atenção, penso:
eu-1,desperdício-0.


Dark kisses

Arábica disse...

Zizzie,

:)) tão bem disposta que quem há-de ficar com azia, serão finalmente os papéis! :))

Assinados ou não.

:)


Beijos, bom dia!

Lizzie disse...

Arábica:

é uma questão de feitio e temperamento: raramente mostro as minhas sombras.


Também as tenho, como toda a gente:))

O euromihões do paraíso absoluto nunca saiu a ninguém:)

Que eu saiba.

Se conheceres alguém diz-me:)

so lonely disse...

quando a morte vier irrevogável e não em visita preambular como me vem fazendo, das poucas coisas que levarei saudosas farão parte os vossos posts e, quando os não há novos, os vossos comentários/resposta que aqui encontro e tão descontraída e deliciada sempre me deixam.

e, se a morte me desse tempo a amadurecer e a crescer, gostaria de, num dia que não vai chegar, ter a vossa sabedoria.

Lizzie disse...

Milady:
se a minha prosa a distrai e descontrai, muito com isso folgo. Já é útil para alguma coisa.

E, Milady, também eu me finarei com pena de não ter aprendido tudo o que desconheço. Que é quase tudo.

Quanto a crescer, Milady, recuso nem que seja mais um centímetro (e olhe que sou baixota de 1m e 60).
Já sinto a alma demasiado madura com o que já viu e sentiu. Bem me apetecia estagna-la para o desagradável e abri-la para toda a leveza.
Mas ninguém escolhe, Milady.

É um prazer te-la aqui.

Os meus respeitos.