quinta-feira, 16 de abril de 2009

Podia falar de como as procissões da Páscoa em Madrid se transformaram em manifestações políticas.
Podia contar como pessoas conhecidas da dança e do cinema, expuseram a nu as falsas promessas e as mentiras de propaganda do ministério da cultura.
Podia descrever como uns idosos de um lar de terceira idade perguntaram directamente à ministra da saúde onde está o dinheiro, cêntimo a cêntimo, dos impostos pagos ao longo da vida.
Ou como perguntaram a uma televisiva e colunável rapariga espanhola qual a diferença entre as prostitutas de rua na Casa de Campo, e ela, ao vender os dotes a um conhecido
machote, ultra milionário e infantil futebolista português.
Ou de como, por ocasião da morte de Colin Tellado, vi a última entrevista que deu e, como mais uma vez me espantei com a diferença entre o ser e o parecer

Mas não!
Já que falei, no Alien, numa senhora apelidada de “avisada” , aproveito para, suavemente, me vingar, aqui.


Segue prosa sobre

a águia raquítica especialista na teoria prática da ausência de palavra ou... da palavra a mais.


O meu relacionamento com a Senhora começou mal : ao ver-me recem nascida, comentou que ali estava um bom exemplar de neta “saco de batatas” com cara de tolinha albina, não havendo dúvidas quanto à verdade do parentesco, dado o nascimento com fonte genética no cabelo loiro quase branco, sinal no pé esquerdo e cor dos olhos. Tal e qual como vinte e cinco anos antes lhe tinha nascido filho, agora moreno e pai.

Foi avisando que aos sete anos já eu pesaria cem quilos. Chegada a altura, mudou a avaliação do peso para o de mero esqueleto, embora com cara de bolacha Maria, a caminhar para aula de anatomia. Coisas da natureza.


Um ano atrás, tinha sentenciado a uma das inúmeras filhas, mãe orgulhosa de rebento, que nunca se tinha visto em tal maternidade lisboeta, um bebé com tanto aspecto de rato engelhado de laboratório. Sempre lhe pendeu a comparação para a ciência.

Parecida fisicamente com Geórgia O´Keefe, nasceu cedo no séc. XX. Em Portugal.




Trazia no sangue a matemática dos genes de judia alemã e a altivez de um metro e cinquenta do descamento espanhol. Que lá do alto me perdoe, mas valeram-lhe os genes portugueses para lhe impedir a pulsão para a prática de vários assassínios em série.
Entre filhos, netos, genros e noras, os que já morreram, finaram-se de morte natural. Que fique claro! A prova está em que tanto eu como o Rato Engelhado de Laboratório estamos vivos.

Em criança, por ofício paterno, viveu algum tempo em Berlim.

Quando voltou a Portugal, ia pelos quinze anos, apaixonou-se por rapaz mais velho. Casou com dezasseis e iniciou uma vida reprodutiva de tal ordem que teve uma neta mais velha que o seu último filho. Dizem que, aos lanches, a casa parecia uma confederação de grávidas e afins.



Consta que disse não querer ter mais pela simples razão que havia uma óbvia e notória perda de beleza nas crias: se a mais velha era lindíssima, o mais novo parecia um cigano cruzado com atleta de boxe. Aqui para nós, ainda hoje se nota a oportunidade da observação.

Também adoptou gémeas fugidas da 2ª Guerra Mundial. Sobre a que sobreviveu já botei post.

Achava indelicadíssimo estar de neura ou mal arranjada em frente de fosse a quem fosse. Aí, levantava a mão e declarava que "não estou de palavra".

Retirava-se, então, e passava horas a resolver equações matemáticas como quem faz palavras cruzadas ou ia sentar-se, muda ,no jardim na companhia dos seus cães. Onde está? Anunciava-se o estado irredutível: não está de palavra.






Perdia a palavra quando, por exemplo, o marido, irmãos dele e dois filhos, emudeciam para tocar algum instrumento jazzistico. Sugeria que utilizassem um qualquer descampado sem ouvidos nem olhos humanos ou animais nas redondezas. Das poucas coisas em que ela, eu e demais convergíamos. Não pela falta de qualidade mas pela frequência. A ausência de palavra dela, e só dela, felizmente, acabava por surtir efeito.






Odiava diminutivos e linguagem tabitate para as crianças.

Era especialista em alcunhas: quando uma neta beata casou com um sacristão dizia, sem pejo algum a Rosário e o Terço vêm cá jantar.

Mas apesar de ateia convicta, o Rato Engelhado e eu, não escapámos ao castigo institucional quando à vista do casal, entoámos o
Avé
Avé
Avé Mariiiiiiaaaa
em reprodução do hino de Fátima.

Tinha a Senhora dois irmãos que andavam sempre juntos. Um muito alto, o outro muito baixo. Chamava-lhes o Sobe e o Desce.

Isto são só dois parcos exemplos.

Era de disciplina militar.

Vendo que um dia eu declarei oficialmente não gostar de feijão frade, industriou o filho,eu sei que foi ela, para que não me fosse posta outra coisa na frente até o comer. Achava obsceno que com tanta fome no mundo, alguém se desse ao luxo de rejeitar algum alimento.

A tal prova leguminosa resisti, estóica, já que o Rato Engelhado, o tal com quem eu tinha extenuantes sessões de mútua pancadaria, me levava, de contrabando, bolachas, fruta, pão e outros víveres. Também a minha mãe. E a minha outra avó. Não cheguei a emagrecer mais ainda. E não comi o feijão.
Retribuí a atenção quando o petiz foi torturado com arroz de manteiga. Pelas mesmas vias, também manteve o peso.

Achava que para mandar era preciso ter conhecimento de causa. Cedo os filhos foram chamados a desempenhar tarefas. Nunca se saberia o futuro: ou mandantes ou mandados, era bom que soubessem os custos dos variados ofícios..


Em boa verdade, exigia mais das filhas do que dos filhos: as mulheres eram os pilares da familía, logo (raciocínio dedutivo de que era tão adepta) as bases da boa saúde de qualquer sociedade. Dotadas de mais inteligência, cabia às mulheres orientar as fracas cabeças dos homens. Para o bem e para o mal.

Talvez por isso, tenha dito na cara de Salazar, que muitas ditaduras têm origem no poder dado às governantas. Também causou espanto no serão, o seu dito que confundir ideologia de direita (que ela assumia) com fascismo se pagava muito caro.

Ficava sem ser de palavra à vista de um genro simpatizante da PIDE e de outro militante clandestino do Partido Comunista.

Emudeceu e virou-se para a resolução de teoremas durante vários dias, quando, em conversa familiar, o Rato Engelhado e eu comunicámos, de forma natural, não estar nos nossos projectos constituir família. Só quando velhos, lá para os trinta anos (teríamos então catorze, quinze, não tenho a certeza).




Queríamos, sim, estudar e ir livres para o estrangeiro. Não éramos os primeiros. E cada um para seu lado.
Passámos a ser designados pelos Vagabundos Degenerados.

Eu, mais tarde, passei a Belzebu em forma de escocesa militar enlutada quando, já estrangeirada, lhe apareci de cabelo vermelho com um centímetro de comprimento, vestido negro, eye liner e botas estilo tropa. E perfeitamente satisfeita com o "demasiado autónomo" e altivo estado de solteira. Tal como o Rato Engelhado. Sabia-se lá em que mundos, cada um em seu pólo, estes dois insubordinados e delinquentes andavam metidos.



Com tais aspectos, acordou-se-lhe, no ADN, o Muro das Lamentações.

Coisa estranha para quem era fiel ao princípio pombalino de “enterrem-se os mortos, cuidem-se os vivos”. Detestava a passividade dos lamentos. Era conhecida pela rapidez com que tomava decisões em momentos difíceis.

Desprezava, no tempo das guerras e noutros, a caridadezinha hipócrita da consciência tranquila.




Preferia arregaçar as mangas e cozinhar grandes panelões de confortável e nutritiva sopa. Dizia que não lhe caíam os parentes na lama ao sujar as mãos.

Ao longo da vida foi ficando cada vez mais magra e pequena. Talvez por, como ela dizia, engolir os desgostos. Além tinha que os engolir. Alguém tinha que dar o rumo ao barco. Alguém, no meio de sonhadores e doidos, tinha que manter o pragmatismo.



No seu funeral, muita gente lembrou o aspecto duro. O apoio às crianças anónimas. A coragem das noites e dias sem dormir para acompanhar doentes. Os conselhos e auxílios dados em segredo a pessoas aflitas. A mania de, em cada aniversário, dizer que não chegaria ao próximo. O demolidor senso de humor. Negro. Negríssimo. Escuro de breu.

Quando foram à sua casa, foram encontradas fotografias e documentos da evolução de um saco de batatas-esqueleto-insubordinado e de um rato engelhado de laboratório, guardadas numa gaveta fechada à chave.

À beira da morte, tinha confessado, mas não aos próprios, serem os seus netos preferidos. Os mais guerreiros. Os mais briguentos mas os menos sonsos. Confessou as preocupações e sobressaltos: os animais selvagens estão mais sujeitos a perigos que os domésticos.




A mim sempre me fez lembrar uma águia depenada e raquítica.

Ora tome lá, já que dizia que mesmo morta, tomava conta de tudo, que agora sou eu que


Não estou de palavra!

(Sobretudo porque este ainda está mais comprido que os outros.)

20 comentários:

Arábica disse...

Um grande post. Ao tamanho da fama e da força da Senhora, que aliás ja tinha sido referida, embora de forma mais superficial, noutros posts. A prometerem este. A ganharem corpo para este.

Um corpo, uma lenda, vacticinios de avó, que guarda a teimosia do coração numa gaveta. E à chave.


Como só poderia ser, Lizzie, elogio-te a arte da escrita e da criatvidade nos rumos tomados, através das fotos.


Depois de te ler, fica-me a saudade da luta com paus de vassoura entre a menina gorda que eu fui e o primo mais alto, que ainda tenho.

Uma formula rápida e económica de praticarmos "esgrima", que ambos gostavamos, tanto.

Perante o susto das nossas mães.

Um beijo.

Lizzie disse...

Arábica:

pois, ela tem entrado nas outras biografias:)

Podia lá tal minorca demolidora ficar esquecida.

Foi uma surpresa saber que andávamos assim tão amados, tão catalogados em recortes e fechados à chave. Depois de tanta medição de forças, de tanta guerra.

E nem te conto como é que ganhei a guerra do feijão frade...e o meu primo a do arroz. Do que os miúdos se lembram...

Não fomos ao funeral. Cada um estava a milhares e milhares de kilómetros opostos de distância.
Aliás só fui ao funeral do meu avô, marido dela, porque estava cá na altura.
Vê só a coincidência: esse meu avô morreu num dia 16 de Dezembro, de madrugada, com 70 anos. O meu pai, que com ele uma ligação fortíssima e era o filho preferido, morreu num dia 16 de Dezembro, de madrugada, aos 70 anos.

À frente da minha mãe sempre evitei brigar. Ficava, e ainda fica, muito nervosa com qualquer tipo de violência. Mesmo com a inconsequente entre miúdos.

O resto castigava, ralhava, mas achava graça porque era uma forma de aprender auto defesa (as outras primas nunca fariam tal aprendizagem, credo) e porque eu era muito magrinha, mais pequena mas muito ágil e destemida. Furava por todo o lado:))
Quem se lembra, ainda se farta de rir com o espectáculo:)

Besos

Frioleiras disse...

Belamente descritivo......... gostei ...

a minha Mãe... era uma Deusa para o meiu Pai.......

Isso diz tudo..............

(eu ainda hoje adoro o meu Pai...
e já lá vão mil anos que partiram...)

Alien8 disse...

Lizzie,

Lembro-me da história do jazz... se me lembro! E do seu grande fomentador.

Mas esta Avó tinha a sua, como dizer, idiossincrasia, as suas ideias muito próprias e definidas, os seus planos rigorosos como equações algébricas e aquele sentido de humor que, por vezes, quanto mais negro, mais defensivo é. Não sei se era o caso... mas, dada a família :), não me surpreenderia. Era mesmo de não "estar de palavra".

Acredito piamente que lhe valeram os genes portugueses... deve ter sido a safa da Belzebu que, de outro modo, bem poderia ter ido parar aos quintos dos infernos e não estaria agora aqui para contar a história (e pontapear cantores marxistas-leninistas onde não devem ser pontapeados cantores nenhuns...:).

A descrição que fazes dos netos parece-me um bocado dura, talvez ainda mais do que feita pela Avó... vê bem para onde caminhas, Lizzie!!!!!!!!!!!!! Eheheheheh!

Qualquer dia venho aqui e "não estás de palavra"...

Falas-me de marcas que ficam e que vão... destas, terão ido algumas?

Abraço.

Alien8 disse...

P.S.: Hmmm... não percebi bem... eras tu ou o teu primo quem estava dentro das grades? :))))

Anónimo disse...

quem sai aos seus.........:-D

Lola disse...

Lizzie,

Tive(tenho)na minha família exemplares semelhantes:)))

Mas nenhum se ficou "de palavra".

Adorável o teu texto.

Beijos imensos

Haddock disse...

que ternura de avó a vossa, lizzie!!!
tantos miminhos... a fazer lembrar uma certa história infantil de susto... [associação de ideias motivada tão-só por vosso irreverente capachinho vermelho. já agora, havereis psico-analisado tal opção cromática??]

mas tranquiliza-nos não terdes - vós e vosso primo rato engelhado de laboratório - crescido traumatizados com tamanha causticidade e austeridade, porventura sábias.

por exemplo, concordamos com a tortura do feijão frade a que fosteis sujeita. só lamentamos não ter dado em nada...
mas experimentai-o com cebola e salsa picadas e regadinho com bom azeite e a acompanhar uns carapauzinhos assados ou fritos... de vez em quando não prejudicam a linha e não correis, por isso, o risco de vir a dar póstuma razão a qualquer prognóstico de vossa avó.

de resto, muito apreciámos vossa prosa sobre a Senhora águia.

vénia...

Haddock disse...

que ternura de avó a vossa, lizzie!!!
tantos miminhos... a fazer lembrar uma certa história infantil de susto... [associação de ideias motivada tão-só por vosso irreverente capachinho vermelho. já agora, havereis psico-analisado tal opção cromática??]

mas tranquiliza-nos não terdes - vós e vosso primo rato engelhado de laboratório - crescido traumatizados com tamanha causticidade e austeridade, porventura sábias.

por exemplo, concordamos com a tortura do feijão frade a que fosteis sujeita. só lamentamos não ter dado em nada...
mas experimentai-o com cebola e salsa picadas e regadinho com bom azeite e a acompanhar uns carapauzinhos assados ou fritos... de vez em quando não prejudicam a linha e não correis, por isso, o risco de vir a dar póstuma razão a qualquer prognóstico de vossa avó.

de resto, muito apreciámos vossa prosa sobre a Senhora águia.

vénia...

Lizzie disse...

Frioleiras:

Esta minha avó era modalidade matriarca. Não seria uma deusa, mas tomou a tarefa de proteger tudo e todos, sobretudo os homens. À maneira dela.Tratava-os como crianças.
Claro que eu gostava muito mais dos outros avós. O meu primo, que nada tinha a ver com estes, também.

Estávam sempre de palavra calma e que bons e livres eram os passeios numa carrinha Taunus cheia de criançada...bem portada. E os banhos no tanque.
(Por diversas circunstãncias, nunca mais vi a tal criançada.)

Também já fiz post sobre esse avô, enfim, aproveitando o relato de um sofá que veio de Inglaterra.:)

Este meu primo, também ficou sem mãe, relativamente cedo.

Por coincidência, no dia a seguir ao funeral da minha tia, encontrámo-nos 4 primos (ele, filho,também)no aeroporto. Partimos cada um para seu destino e até hoje nunca mais nos vimos.
Já lá vão uns bons vinte e tal anos.

Lizzie disse...

Alien:

Nunca mais vi o tal primo,nem consta que tenha vontade de voltar a Portugal, mas tanto quanto sei, nunca esteve preso:)) Eu também não. Juro!:)

Um dia destes tenho que ir à cidade onde ele vive e ao sítio onde trabalha depois de ter tido um acidente na voz,e então, talvez confirme in persona se está tão careca como dizem.:) E a inveja que eu tinha dos caracóis:))

Parece que o senso de humor é uma espécie de luto analítico. Dizem os sábios. A vida não lhe foi fácil, até por morte de filhos cá e de parentes em campos de concentração.

Quanto a marcas: vi no meu pai. Estava já em estado terminal, tinha oportunidade de passar à frente de outros doentes e dizia que tinha que esperar a vez dele como os outros. E cumprimentava as auxiliares de acção médica com apertos de mão. "Se faz favor, muito obrigado, desculpe". Coisa rara, diziam elas.

Quanto a pontapés...ai Alien, que cheia que eu já estava.
O cantor, que eu conhecia, tinha a mania de se gabar em publico das proezas sexuais. Género, ontem f....aquela que me...... e etc.

Entrava, com o seu grupo, sem ser convidado, numa casa de pessoas que me eram queridas e nada fascistas, abancava e os donos que se calassem.

Muito grave: havia uma rapariga com mais dois ou três anos que eu, não me lembro, e com quem nós (os meus primos e eu) brincávamos sempre que íamos a determinado sítio. Lembro-me de ser muito calada, timida mas boa companheira nas corridas.
A rapariga cresceu e tornou-se evidente a tendência lésbica.
Aqueles senhores, um dia, fecharam-na numa sala e divertiram-se pregando-lhe sustos. Não chegáram a fazer mais nada. Só sustos.

Isto foi no verão e a minha outra avó, que a conhecia desde bébé, foi dar com ela em estado de choque. Com hipotermia.
Valeu a calma e a sensatez.

Quando foi ordinário para mim, só de palavra, note-se, levou. O Rato Engelhado, outro primo e eu, fizémos o tal pacto de silêncio, apesar de sermos adolescentes.

Soubemos depois que outro cantor, pessoa decente e amigo de um familiar meu,quando soube, ficou indignadíssimo.
Claro que em todo o lado há bom e mau.

Desculpa estar a contar isto. Mas foi assim.

Nestas coisas também costumo não ser de palavra.:))

E nós éramos mesmos pestes.
Muito calados, sossegados, bons alunos mas de vez em quando...aquilo devia ser o Belzebu:))

Grande abraço

Lizzie disse...

...não degenera!

Conhece-me, por acaso?

Acho que não!

Lizzie disse...

Lola:

acho que mais ou menos, todas as famílias tinham tais exemplares. Palavrosas ou silenciosas.

Tive uma chefe que era uma excelente pessoa mas que de vez enquando se fechava no gabinete e dizia que tinha acordado estúpida.

Tem a vantagem, de facto, de não chatearem ninguém e reconhecerem o estado:))

Obrigada, Patatita

grande abraço

Lizzie disse...

Nós, Capitão, ficarmos traumatizadas?
Quando maior era a música maior a dança.
Deu-nos resistência e, convinhamos, algumas lições de respeito.
E ainda hoje, quando mal dispostas do estomago ou vesícula e quando S. Gregório não nos acode, nos lembramos do método de o subtituir. Não nos podemos é lembrar muito quando não é preciso:))

E ficai a saber que a Águia também tinha coisas boas. Por exemplos: um dia apanhou-nos a roubar cigarros Portugueses Suaves ao nosso pai (o Rato roubava à mãe e lá íamos distribuíndo consoante a ocasião melhor para furto) e não nos denunciou. Ouvimos enorme raspanete de moral e saúde pneumonológica, mas ficámo-nos por aí.

E, Capitão, gostamos de salada de feijão frade. Mas só quando entendemos que nos apetecia gostar. Mas sempre sem azeite.
Se nos fizesse alergia, cutãnea ou outra, poderia ser riso póstumo de vitória. Como não faz, deve a Águia estar na fase sem palavra.

E não somos de psicanalizar cabelos.
Rapámoszio e pintámoszio por motivos profissionais, primeiros, por moda, segundos, e ficai a saber que toda a gente dizia que nos ficava bem.
Fomos de ir ao Algarve por uns dias e toda a gente nos falava estrangeiro.:)

Agradecidas e com a devida continência.

(e se tiverdes ataques inflamatórios de artroses, não vos inibeis de nos contratar como guarda-costas. Supomos que é como andar de bicicleta)

Haddock disse...

olhai... repetimo-nos!! desculpai, lizzie. mas, como dizíamos no "sono", esmola é esmola; mesmo que repetida, entra na contabilidade...
e se ainda andássemos com aquelas manias de merceeiro bem que vos contrataríamos como guarda costas, que hoje são mais os larápios que os fregueses. agora, para solução do nosso caruncho é que não nos parece bastar costas quentes. achamos que só mesmo indo à faca...

e não saltámos os méritos da Senhora vossa águia avó (apesar de neste postal estardes de palavra...);
especialmente o do humor!! extraordinária herança genética...

para concluir, permitide que achemos que a vossa salada de feijão frade ia bem como um molhinho espanhol.

vénia...

Alien8 disse...

Lizzie,

Pronto, então não sei quem serão as duas pessoas da foto com as grades :)

Queres gozar com a careca do "rapaz"? Por vingança dos caracóis? Eheheh!

Percebo bem as marcas que referes no teu Pai. E também percebo o pontapé. O que contas é de arrepiar, nem digo mais nada. Só se perderam as que não acertaram, como se costuma dizer. Ou as que não foram dadas, no caso...

Agradeço que tenhas contado. Tomo isso como uma atenção, pela qual, obviamente, não tens que te desculpar. Ainda bem que foste de palavra comigo e de acção com o outro :)

Como bem sabes, todos os calados e bons alunos têm os seus momentos de tentação demoníaca, ou melhor, luciferina, que é mais bonito... acredita que sei do que estou a falar :)

Um grande abraço também para ti.

Lizzie disse...

Capitão:

não somos de ter espírito de contabilistas e ainda menos de andar a escrever em livro da Papelaria Fernandes em colunas de receita e despesa, deve e haver.

Não somos, tratando-se, ainda por cima de esmolas, de prestar contas da generosidade alheia, a qualquer divindade:)

Bisai, por isso, à vossa realíssima vontade.

Lamentamos a liquidação e trespasse da vossa mercearia. Habituámo-nos a ver-vos, com aquela bata de sarja cinzenta e lápis atrás da orelha, para a eventualidade de qualquer anotação de fiado, em caderno de papel manteiga com nódoa de torresmos.

Também apreciavamos o vosso lote de vinho da Adega Cooperativa do Martelo de Cima, região demarcada.

Quanto ao vosso caruncho, não haveis ainda experimentado as águas termais? Achamos que com vossa barba e figura, muito fotogénico ficaríeis, sentado á beira das piscinas sulfurosas, e de calças arregaçadas. Ponde vosso boné inclinado para trás que vos comporá a figura.

Não nos faleis em molhos espanhóis que nos lembrais as saudades de gazpacho madrileno com gelo.

Continência

Lizzie disse...

e mais vos dizemos que gostamos de feijão frade (de lata) com atum (enlatado).

É uma excelente oportunidade de mostrarmos, a nós próprias, o quanto gostamos e temos jeito para cozinhar.

Quando nos dá para decorar o prato, torná-lo mais estético, temos a ousadia de o salpicar de verde horta, juntando-lhe um malmequer de branco clara com a robustez circular de amarelo gema e o translucido toque neutro de lacrimejante bolbo.

Servimos frio em prato porcelana Pollux.

Em ceias informais, descansamos a mão esquerda, tranferimos o garfo para a direita e iniciamos, assim, o modo americano e espanhol de degustar a ementa.

Continência, sempre de boca fechada, na mastigação. Não somos betoneiras.

Lizzie disse...

Alien:

em relação a caracóis, imagina: olhos castanhos escuros com caracóis loiros e eu, de olhos claros com cabelo liso e escuro.

Faz tanto sentido como o anúncio ao Restaurador Olex: um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha...(acho que era mais ou menos assim, se bem me lembro).

E também havia outro: um senhor de cabelo branco dizia "desculpe, eu não sou velho, só tenho trinta anos" e baixava os olhos qual Calimero em cadafalso.

Quanto a pontapés, claro que tens a sensibilidade e a boa formação para perceber a minha pontaria. Mas o que lá vai, lá vai. Desde que não se repita.

E, Alien, o que seria dos santos sem as tentações, enfim, sem as aparições sorridentes de Lucífer?
Não é exactamente nas provas que se mede a santidade?

Não fiquei eu ontem a olhar para o pacote de batatas fritas nas mãos do demo?
Come!
Não como!
Come, que são light!

Dará meio pacote purgatório?

Quem nunca pecou que atire a primeira pedra...:)) desde que tenhamos um toldo por cima, senão...

Grande abraço

so lonely disse...

se todos somos feitos de encontros e desencontros interiores e temos de viver com as nossas íntimas contradições e segredos, também esta avó de força não fugia à regra. e, no meio de tanta força, lá teria as suas fraquezas.

era forte e era um ser humano.