enfim, mais ou menos, ou seja, o conceito multi-abrangente chamado
kitsch
de que este palavroso título é já exemplo.
Desde que apareceu, muitos cérebros já se ginasticaram para lhe definir fronteiras, tal é a confusão nos limites.
Sabe-se que a palavra vem de um verbo alemão, verkischen, que significa regatear. Coisa de pobre, feira e mercado. Nos salões negoceia-se entre vinhos seleccionados e em voz baixa.
Seja qual for o tom de voz, no início do séc. XX, chega-se à produção em massa de produtos, à industrialização e surge uma pequena burguesia mais urbana e, convenhamos, já mais endinheirada, com laivos de consumismo.
Chega-se a uma das características basilares do kitsch: vale-se mais pelo que se mostra ter do que por aquilo que se é. Ostenta-se. Exibe-se.
Com o aumento de publicações de moda, decoração e mais tarde com a televisão, a generalidade das populações tem acesso ao conhecimento de como se vive do outro lado da sociedade, a chamada fina.
Entra-se na outra característica: a cópia caricatural e espaventosa, com atraso, das escolhas mais recentes ou antigas, anteriormente feitas pela classe alta. Reproduções feitas em série. Por molde e design plagiado.
Aparecem em todas as casas as mobílias “estilo séc. XVII”, encharcam-se os espaços de bibelots tipo rococó, ( o séc. XVIII francês, pela exuberância quantitativa de arrebiques é ainda hoje inspiração constante),
copia-se a tradição inglesa do papel de parede, enchem-se jarras de flores de plástico, transformam-se carros utilitários em aparentes Ferraris de escape aberto, etc e muitos mais etcs, tudo em quantidade e sem diferenciação até no comportamento social de esconder as origens:
ninguém quer descender das pessoas do campo. Compram-se brasões, inventam-se genealogias. Os ingleses chamam-lhes snobs, os espanhóis cursi.
Milan Kundera, entre outros, dá um cunho político ao fenómeno: interessa aos regimes, sobretudo aos totalitários, criar uma massa de gente embalada na parecença, de pensamento obstruído por esta guerra de pretensão e de ostentação com o vizinho.
Face ao kitsch, a individualidade, o assumir do modo de ser próprio de cada um, o espírito critico e analítico são aberrações.
Por definição, o kitsch é um fenómeno de extensa gregariedade virada para o exterior e com horror do vazio. Dos vários vazios.
Sob o ponto de vista estético, pensa-se que teve origem na Arte Académica bem feitinha do séc. XIX. Arte sem ousadia no traço nem na expressão, sem carisma pessoal que identifique o autor, que não puxa por qualquer esforço de leitura ou interpretação. Arte completamente passiva por parte do espectador. Estética do bonitinho mais tarde reproduzida até à exaustão em posters emuldurados a dourado, modalidade barroco ibérico, com destaque na sala de visitas.
(em sincera homenagem ao ilustre visitante deste espaço, o digníssimo e ilustre Capitão Haddock)



Em Espanha, só por curiosidade, é chamada simplesmente de hortera (pirosa, foleira) tal a profusão de produtos hortícolas e adereços pechisbéticos com que se enfeitava.
Na dança e no teatro, o caso é muito complicado. Teria que botar faladura mais prolongada acerca da Camp Art (não sei se há tradução para português), considerada nestas andanças a herdeira do romantismo.

E assim, senhora e senhores, prezados e pacientes leitores, vos deixo esta prosa contextualizada numa ínfima porção do imenso universo da blogosfera, pedindo desde já desculpa por qualquer erro, que omissões foram muitas por via de não os maçar mais ainda, despedindo-me de voceses até ao próximo, uni ou bilateral, acto comunicativo em sede de internet informático-computacional.
