terça-feira, 21 de outubro de 2008

crónica apressada das longas noites que se fazem cura de males passageiros




Esquecem-se ais e outros lamentos virados à indisposição quando nas cabeças de algumas pessoas atingidas pelo vírus alcunhado de Sevilhano se anuncia longa noite de convergência de várias especialidades, ou seja, de trabalho com bicho carpinteiro nas, enfim, irrequietas mentes.

Vai tocando a campaínha da porta, vão-se abrindo os sorrisos em rasgo de comunhão encontrada. Sacodem-se as doenças e outros males que se vão coordenar fantasias que traduzam várias penas.



Não será precisa uma multidão para que se juntem ali nacionalidades e gostos vários


nem disciplina de horário para que comecem a soltar-se as opiniões, perguntas e respostas que geram outras perguntas, de modo solto, que ali não há poses de intelectualidade inacessível e superior, tantas vezes revestida de ar enjoado e enjoativo de quem está longe do piso da terra.

Para, pelo menos duas, entre as quais eu, a noite sempre foi tempo de iluminação nos pensamentos.



A escuridão parece concentrá-los, ajudada por um certo sossego na paisagem exterior. Mesmo ali, na Madrid das insónias congénitas onde dá jeito que ao virar da esquina haja restaurantes abertos vinte e quatro horas, sítios onde vão parar foliões, trabalhadores ou simplesmente despertos contrariados. Nada impede que na mesma mesa ou balcão se juntem fatos virados à haute couture e roupões puídos em várias partes. Tantos pijamas envergonhados escondidos em casacões solenes.

Consuelo , mulher brava de olhar certeiro e nocturno, vê-nos e solta palavrão gigante para os padrões portugueses: teríamos saído de casa ou do cemitério para matar saudades dela? Ouvidas as justificações e as queixas dispara outro palavrão para a maldita maleita sevilhana. Como tantos outros espanhóis, tem o tique de mandar tudo e todos para a tarefa da reprodução. Tenha ou não sucesso no empreendimento.

Setencia que tal palidez olheirenta tem cura numa boa omolete de espargos e presunto regada com qualquer tipo do sangue de Cristo. Mais ou menos colorido, perdão, anémico.



Face a tal autoridade metafórica, só nos resta obedecer!

Faltam um quarto para as três quando dali saímos com ar rosado da ressuscitação. Consuelo sente-se imperial na sua santidade regenerativa. Pergunta se algum estômago dói e dadas as negações berra para o Javier, na barra, uns coños bem sonantes: ela sabe como se curam doenças de fuinhas mal encaradas.

Consuelo é o tipo de pessoa que precisa sempre de ter algum ouvinte para sublinhar as suas certezas. E vem, no balanço e muito empírica, à porta, prescrever um cozido madrileno para o almoço, lá para as horas do lanche.



O ar fresco da noite lava o sono. E o ranger dos passos misturado com o rumor da vida doida, numa das principais avenidas da cidade, mesmo ali ao lado, responde-me a uma pergunta que eu fui fazendo mesmo sem ter consciência dela. Como em tudo na vida, é preciso parar para ouvir os pormenores aparentemente mais insignificantes.



Mais uma vez percebo que sou mais pessoa sortuda de encontrar que angustiada de procurar.

E novamente na sala, prosseguem os trabalhos tempo fora.

Apesar das mensagens que já ninguém lê,




os cinzeiros são quase ampulhetas a medir as horas.

Já ninguém diz coisa com coisa quando começa a fazer dia.




A vizinha do lado, mulher solitária de expressão doce e tranquila de quem não conhece ódios e salta as barreiras das amarguras



e que também toda a noite trabalhou no seu ofício, é desafiada para ir tomar o pequeno almoço, também num outro sítio de labor ininterrupto, ali, ao virar de outra esquina.



A meio da última ceia tão confortável, ainda há força para beijos de lábios tingidos pelo chocolate quente e abraços para a nossa quarentona que anos atrás nasceu àquela hora. Os gritos levam o empregado a bater tampas de panela. E outros, que ninguém conhece, juntam-se à festança matinal: bendita tu madre, guapa! Que sea eterna tu belleza!

Depois tomo o duche, entro na cama como se fosse um berço de refúgio secreto e, sem dar por isso, embalo a alma, abandono a vida e entro numa viagem sem percurso ou peso.

Embora por pouco tempo, tão profundamente por lá andei, que não me lembro do que lá fui ou vivi.

Talvez tenha sido um pássaro, ou um balão, a voar em redor do som de uns passos dentro do céu de um oceano numa calçada feita de corais com a cor do ar.


Talvez...

sobre las olas - juventino rosas

22 comentários:

Alien8 disse...

Lizzie,

Diabos levem os 30 segundos...

Entretanto, começo a criar alguma empatia pelo virus sevilhano, que já te fez produzir dois deliciosos posts, carregadinhos de humor, petiscos e figuraças (Consuelo! O nome até vem a calhar...)

A mim, também a noite me ilumina os pensamentos. E, se o corpo reage mal à falta de sono, a mente pelo contrário. Faltam por aqui, é certo, esses belos sítios abertos 24 horas. Áreas de serviço, não, obrigado!

Esse "desayuno" rebenta com qualquer maleita. Ou então, com o portador da dita...

Enfim, o que realmente me intriga é não saber quem é a menina que acompanha o Rato Mickey. Parece a Branca de Neve, mas por outro lado, nem tanto...

Beijos para ti!

Lizzie disse...

Alien:
ai os trinta segundos...)

Ontem botei uma copla divertidíssima dos anos 40, fui ali ao compudador do lado e...30 segundos.
Depois lá vai o "Into de night" e não tive tempo de ir ali ao lado...

e depois de ter lido o teu comentário saiu-me esta valsa que tem muita relação, cá por coisas, com a segunda imagem. Agora fui à sala ao lado e não consto do Imeen:)

Como é que ele, o Sr Imeen, sabe que eu tenho as músicas em cd? O coscuvilheiro!:)

E além destes sítios simpáticos estarem abertos 24 horas, mesmo ao pé há uma livraria e uma loja de música com o mesmo horário. Tudo muito bom para quem pensa melhor à noite.

Quanto a desayunos" ninguém me tira as porras estaladiças e o cacau magro sem açucar. Don Argimiro, a quem já dediquei post, é muito simpático e atencioso: "tira" o cacau mesmo como eu gosto. Leve.Já sabe o gosto de todos os clientes. Desta vez levei com o piropo de estar com uma cara "romãntica":)

A menina do Rato Mickey faz parte de uma série de homenagem ao Velasquez do pintor Pop "nocturno" e frequentador da tasca da Consuelo, grande apreciador de churros, refeições fora de horas e dois dedos (sujos de tinta) de conversa, chamado Antonio de Felipe.
É senhor cheio de delicado senso de humor.
E tem outra série dedicada ao cinema de cujo retrato da Audrey Hepburn, que ocupa sózinho uma parede, faz as minhas delícias mas o estado não me injecta dinheiro para o comprar...:)

Beijinhos para ti

Vanda disse...

Tenho saudades de trocar as noites pelos dias e m sentir no auge quando à minha volta o sono passeava solto em nuvens de fumo.

Saudades de jantar fora de horas, a meio da noite, por exemplo...

Ando tão certinha que às vezes penso que fui trocada e não dei conta, no meio da minha distração :))


Não te cures do virus sevilhano Lizzie, deixa lo propagar-se à velocidade da luz, ou talvez melhor, da escura claridade da noite :))


Um beijo, um cacau quente e porque mereces :) também uma porra matinal :)))


Obrigada, Lizzie por mais esta partilha :)

Lizzie disse...

Vanda:

giríssima essa tua ideia de teres sido trocada sem dar por isso!:)

Um deus atrevido qualquer apanhou-te a dormir, ou a ver uma montra e pensou: deixa-me cá trocar a alma a esta. E tu, ingénua, nem percebes porque é que às onze da noite estás a bocejar enquanto alguém se levanta às quatro da manhã e vai para a cozinha fazer um guizado...e depois ao médico porque passou a sofrer de insónias.


Agora a sério, embora "distraída" por causa do cansaço: tenho saudades de trocar as horas sem me sentir cansada. Mas apesar da já falta de resistência, é um prazer viver noite fora. No silêncio da minha morada ou tendo como fundo o frenesim contínuo da Alcalá e como companhia as várias luzes acesas do prédio em frente, especialmente a de um actor que ensaia falas e gestos na sua sala de estudo. Soube, no meio das porras, que agora é o King Lear. Já estudou um papel que dava vontade de chamar o 112:)

E que boa é a comunhão a partir um pão parecido com o de Mafra, acabadinho de sair do forno de lenha, sobretudo nas noites de inverno. É quase um simbolo ancestral de paz. E de riqueza
(ainda hei-de botar faladura sobre essa panificadora).

O que vale é que a fome devoradora já me está a passar, mas mesmo assim tu não me fales das porras quentes por volta das sete, oito da manhã...

Tem um bom fim de semana e aqui te envio uma rosquilla simples para molhares no chocolate quente quando acordares já com a tua alma nativa de volta:)

Beijinhos

Alien8 disse...

Lizzie,

Acabo de ouvir a valsa "Sobre las olas" em todo o esplendor dos seus quase 7 minutos :)

Uma recordação que me transporta ao tempo em que ia ao circo (continuo a gostar de circo, aquele mundo ainda me fascina). Muitas vezes ouvi a valsa durante os espectáculos.

Agora acompanhei-a, à falta de porras estaladiças, com umas batatas que acabei de fritar... e que tive a ousadia de "molhar" em mostarda, e já sei que vou pagar por isso... mas souberam bem.

Cacau não está nos meus hábitos, só de vez em quando.

O teu Don Argimiro é outra figura, claro! Devias mesmo estar com cara de ultra-romântica, dada a maleita e coisa e tal:)

Não estás no Imeen? Como é isso possível? O Sr. deve saber que tens as músicas em CD porque deves ter sido tu a colocá-las lá, por upload... ou não?

Obrigado pelo esclarecimento. As meninas do Velasquez, pois é... e mais um conversador nocturno.

Olha, acerca da noite, de gostar da noite e etc., se ainda não leste o Café Europa (quando o publiquei ainda não tínhamos contacto bloguístico), talvez possas dar-lhe uma vista de olhos, se tiveres paciência.

Bom fim de semana e um beijo (de ambos).

Emma Larbos disse...

Estás portanto de saúde restaurada, não é verdade, Lizzie? Pela frequência com que regressas a Madrid,estou a ver que, das três uma: ou o vírus sevilhano tem antídoto num vírus madrileno e estás a seguir as recomendações do médico ou "aquele" madrileno é uma cura muito melhor que o remédio do cão! Esqueci-me de qual era a terceira, não ligues...
Pois qualquer dia ainda te peço boleia, que ando a precisar de fazer uma visita ao Paseo de Recoletos.

Vanda disse...

Lizzie

tu ris e achas giro :) mas, a sério que ja pensei em contratar um detective privado para procurar do meu paradeiro :)

Onde estará a que dançava ate ser dia e ainda arrastava os amigos para um qualquer café que aquela hora tivesse pão quente e bolas de berlim? (só comecei a gostar de bolas de berlim depois dos 40...e tive que comer muitas, pelos anos perdidos); onde está aquela que depois de uma directa, tomava um duche e entrava no .... com um sorriso? Pois não sei. Perdi-lhe o rasto, parece que só apareceu para me fazer pirraça;) e depois partiu :)

O pior é que não bocejo. Nem tenho sono :), mas fico assim quietinha, suficientemente bem nas entrelinhas do silêncio, da qietude d casa...

Obrigada pela rosca, acompanhei-a com um nectar daqueles laranjas, que prometem energias mil :))


Beijos e bom inicio de semana, Lizzie!

Lizzie disse...

Alien:
pois é, esta valsa está sempre ligada ao circo tradicional, de que não gosto muito, confesso, sobretudo quando entram animais.

Para mim está ligada a outros circos:)enfim,de trapézio metafórico um bocadinho mais dramático. Talvez por isso lhe conheça todas as notas.

E lá fui ler! Grande noctívago tu me saíste, entre lareiras na praia e jogos de matraquilhos e outros. Se as bolas ficarem presas, em vez da Car, podes chamar-me a mim, com a minha força...apesar do ar romãntico desfalecido:)

e tu tira-me as batatas fritas da frente, Alien, tu tira-me as batatas. Está bem, só cinco molhadas em molho de iogurte picante que ainda não estou em estado de mostardar.

E, meu herói, tu sabes fritar batatas! E não te queimas?
Pois que eu a fritá-las faço semelhante figura ridicula que prefiro ir aos pacotes tipo Pála Pála. Sempre mantenho uma imagem mais digna:))

Um dia destes ainda falo do pintor das "meninas pop" e mais detalhadamente do estabelecimento da Consuelo.

E parece-me que o sr Imeen está com erros de raciocínio: se ele sabe que eu tenho os cd´s, também sabe que eu posso ouvi-los sem recorrer a ele. O que eu queria é que quem os não tem os ouvisse. Não passa de forreta.

Agora a sério, já vou aprendendo quais as editoras que impôem os trinta segundos. Parvas!!

Boa semana e beijinhos para ambos.

Lizzie disse...

Emma:
tens razão, que ando com um pé cá e outro lá para ver se me passa o vírus e entretanto vou trabalhando e bocejando, bocejando e trabalhando, tanto que ainda sai peça com o sugestivo nome do "Bocejo trabalhador", assim tipo Ionesco. Acabaste de me dar uma ideia.

Neste fim de semana foi Madrid em comitiva que veio bocejar para Lisboa e são tantos e bons os ares do Tejo e do Atlãntico que, hoje, foi tudo mais saudável e mais acordado para lá:)

E quando te der boleia para o Paseo,antes de ires aquele teu magnanimo destino, bem que podemos passear-nos quais damas oitocentistas por entre o arvoredo e ir até ao Gíjon e, quiçá, ir ver o próximo desfile à Praça Cibeles. E olha que o arvoredo agora está bonito. Leva é um casaquinho por conta dos vírus madrilenos que já faz mais frio que aqui.

Bora lá...

Lizzie disse...

Vanda:
O criminoso que te levou de ti, se calhar, chama-se tempo. E não há detective que o descubra ou prenda.

O mafioso que agora me manda o cansaço ao fim de uma directa é da mesma família.

Agora, tirando algumas excepções até para não perder de vista o mundo, também prefiro ficar quietinha na minha casa ou noutra,em trabalho ou conversa, do que andar por aí a gastar a noite porque... é noite.
É bom ter as casas recheadas de vozes também já cheias de tempo, aquelas que se reconhecem no desejo de calma. E se alguém tem sono, pois que adormeça: há sempre um cobertor para se cobrir.

Nesses tempos de que falas, muitas vezes corria capelinhas barulhentas e muito sociais por obrigação e vai daí cansei-me.

Nos caso da Consuelo o ambiente é diferente. É quase uma irmandade da fome urgente e, ao virar da esquina. Tipo família cumplice de vários ofícios. Como o é quando se vão comer umas tapas antes de estacionar em casa.

É um processo natural, acho eu.

Beijinhos e boa semana para ti:)com ou sem bocejo:))

Vanda disse...

Lizzie,

sim, eu também acredito que são fases, desejos que o tempo consome, mais ou menos vorazmente.
As minhas amigas diziam que era devido a eu ter estado "arrecadada" muitos anos :)

Mas sempre fui noctivaga.

As olheiras são já cronicas.

Nunca consegui adormecer cedo e muitas são as noites em que vou lendo sem saber de horas...

Só ultimamente não, devido a um cansaço generalizado ;))

Entre viagens, julgo que o teu virus ja se transformou num outro qualquer bicharoco, inócuo e indolor que no máximo poderá provocar :) essa fome tão internacionalmente falada :)


Por fome :)) estou munida de croissants de chocolate, não vá o diabo tecê-las :))


Esteve um fim de semana soberbo, sortudos amigos em comitiva:))


Besos

haddock disse...

excelente texto, bem articulado, ilustrações irrepreensíveis, para não dizer mais, MAS...
(e quando usamos maiúsculas é para pôr os grumetes em sentido!!)
... MAS, dizíamos, tudo isto é altamente *asteriscal*!!! e com isso damos-nos MAL!!!
sabeis bem, lizzie, que temos graves problemas do foro disposicional, que se libertam em esquizofrénicos ataques de mau humor quando nos relatam boas disposições. agora queremos é gente deprimida, enfiada no escritório, sem conseguir pagar as contas. enfim, queremos desgraça!! sentimo-nos tão melhor assim...

mas rezamos pela felicidade de todos...

vénia!!

(não nos leveis a sério. é mesmo só inveja verde...)

A. disse...

(pois...também não estou a conseguir erase, mas vou lá chegar!!)
;)





...grande beijo, querida Eli dos olhos bonitos...grandes grandes. e grandes. atentos.

...grata.
*

A. disse...

...já está!

;)

pentelho real disse...

senhora,
dada a minha triste condição actua, muito vacilei entre aqui vir ou não. mas vim. e foi um bálsamo ler-vos por aqui abaixo.
adeus

pentelho real disse...

senhora,
dada a minha triste condição actua, muito vacilei entre aqui vir ou não. mas vim. e foi um bálsamo ler-vos por aqui abaixo.
adeus

Lizzie disse...

Vanda:
e tantas vezes, oh quantas, me lembro que uma cadeira ficava melhor aqui ou ali, me apetece ver uma cena de filme, uma imagem no livro que não encontro, ler, ouvir isto ou aquilo a acompanhar as sombras que se desenham na parede e

de manhã me chamo nomes e me prometo que me vou deitar cedo, que não vou rondar e adiar o dia seguinte e

olheiras?:))))

não é circunstãncia, é feitio!

Com que então croissants de chocolate?:))

Está quase, quase e o diabo já não tem oportunidade de as tecer:))

besos y abrazos niña!

Lizzie disse...

Capitão em crise disposicional:

pensais serem apenas astericais as noites de trabalho?

Pensais que não existem formigas, que não nós felizmente, que têm por antipática função alertar o formigueiro para os custos que certas ideias delirantes têm?

Pensais que só nos divertimos como boneco de banda desenhada?

Prontos,do lado menos bom com ar triste falaremos no próximo "postal" que não queremos que cada vez que vos lembrais de pousar nesta casa, tenhais ataques psicóticos como se escrevessemos com todas as letras N****, F*****. perdoai que só nos lembramos destas duas.

Agradecidas por tudo além do MAS.

Continência

Lizzie disse...

a. (leia-se A.)

Olha quem fala...em olhos grandes:)

Pois, Passarinho, as lanternas já conseguem estar um bocadinho mais acesas:) Doze horas quase seguidas ajudaram a fortalecer a luz:) e já consegui não andar à procura, por exemplo e entre outras coisas, do carregador do telemóvel porque consegui ver que estava dentro da mala. Com os pinos prateados a olhar para mim.:))

grande, enormíssimo abraço, olhos enormes!

Lizzie disse...

Alteza das ruas da amargura:

se vir aqui vos faz sair desse malfadado antro e estado de reclusão, pois cobri a cabeça com lenço ou xaile que vos faça sombra no delicado rosto e, cinematográficamente de preferência a preto e branco, percorrei caminhos até chegardes aqui.
(Cuidado não tropeceis nas sombras dos candeeiros)

Sentai-vos à lareira que estais gelada que vos vou mandar servir cacau reconfortante que copos de três e cerveja em copos mal lavados já deveis estar com fartura de ver engolir.

Repousai e aquecei-vos que fui senhora de expulsar o vento que vos corta a pele.

Alteza? Alteza?

Ambrósio, traga o cobertor que temos bela adormecida!

Alien8 disse...

Lizzie,

Foi precisamente por causa dos animais que deixei de ir ao circo. No tempo em que ia, raramente se usavam animais. Agora parece que metade do circo é isso. E é pena...

Continuo, no entanto, fascinado por aquele mundo muito próprio, de grandezas e misérias, sobretudo o dos pequenos circos (será que ainda existem?), onde a Marléne (Cuidado no arame, Marléne, a sua mãe morreu assim!...) é dali a nada a Incrível Simone, trapezista voadora, pouco depois transforma-se em Claudette, a linda assistente de Fakir, o ilusionista, e nos intervalos aparece como Madame Louise, vidente, e percorre as bancadas a vender fotos dos artistas para ajudar a pagar as refeições. O circo e os Palhaços de Fellini. Outro mundo.

Bom, creio ter satisfeito o teu pedido, já que, amavelmente, comi as batatas fritas todas, todinhas, só para não te prejudicar:) E sim, sou bem capaz de fritar batatas sem me queimar, nem às ditas. Se não me distrair, claro.

Obrigado por teres ido ler aquela parte da crónica dos meus tempos de noctívago de rua. Agora sou mais noctívago de casa, estou mais em sintonia com o que dizes na resposta à Vanda (pois li, desculparás...). Ah, o tempo... olha, agora está frio :)

Fico à espera de notícias do pintor e desse precioso estabelecimento, onde já me apetece ir petiscar.

Um beijo.

Lizzie disse...

Alien:

que descrição tão visual que tu fazes do circo pobre, aquele em que as meias rendadas das senhoras têm buracos, aquele que serve de metáfora às venturas e misérias humanas.

Há um livro de uma escritora americana, de que não me lembro o nome, fascinante sobre o assunto. Já o li há vinte e tal anos e não me esqueço da personagem do palhaço pobre e das vigarices fora da pista do ilusionista. Circo sempre em fuga, mais que em digressão, na América do séc XIX.

O celebérrimo Paul Auster escreveu um parecido mas, na minha opinião, sem tanta riqueza descritiva.

Da próxima vez que, habilidoso, fritares batatas, guarda-me algumas:) mas só muito poucas:) num pratinho. Se eu vir a travessa....:)

Abraço