quarta-feira, 19 de março de 2008



Redacção

A Páscoa


Para já agente não gostamos da Páscoa! Mas temos amigos que gostam e dizem que a Páscoa é muito importante pa todos.

Quando éramos mais pequenas do que estamos hoje agente foi à catequese mas só foi poucos dias. Agente tínhamos medo e gostávamos mais de ir andar de bicicleta e agente já estávamos a aprender a ler e a escrever mais a fazer coisas parvas como pôrsse cus pés pó lado e nos bicos mais os trabalhos de casa da escola que mandava a professora porque dávamos muitos erros logo à nascença.

Agente tínhamos medo porque agente lembra-se de ver homens dependurados mais outros espetados com setas espalhados plas paredes





e uma senhora com cara de má dizia que o senhor tinha morrido por causa de nós e agente num se lembra de ter feito mal assim daquele que mata pessoas nem que faz sangue.




Agente só dava carolos no nosso primo Jorge mais na nossa prima espanhola Concha porque nos chamavam Batata e Ojuda. Agente também tinha medo da D.Belarmina que era porteira e andava com o senhor pendurado ao pescoço e disse que o senhor tinha levado o nosso namorado pequenino como nós, Sérgio pó céu e o céu fica muito longe e não podíamos ir lá buscálo nem o pai dele que guiava aviões.





E a senhora com cara de má deu um livro e agente abriu e ficámos zangadas porque tinha lá uns homens de barbas e vestidos cumpridos a queimar um cordeirinho e agente gostávamos muito dos cordeirinhos e contámos ao nosso avô que abanou muito a cabeça porque não fazia mal aos cordeirinhos nem deixava fazer. Agente achava que em vez de andar a matar cordeiros de vários rebanhos valia mais matarem-se a eles.

Agente também não gostava que dissessem que se fizéssemos mal íamos pó inferno.
Já chegava ficar de castigo.






A senhora também dezia que os judeus e outros que não nós eram muito maus pós meninos e para as meninas mas quando fomos mais crescidas do que somos hoje agente conheceu muitos e eram iguais a nós e alguns trabalhavam no dia de Natal porque não acreditavam no Jesus e os do Jesus trabalhavam nas festas deles e não zangavam-se.

Naquela terra grande anda muita gente sempre a chamar por Jesus que eles chamam Jizas e outros também dizem Jizas e fazem mal às pessoas que têm a pele mais preta ca minha. Agente achamos que o tal Senhor Jesus não tem culpa nenhuma destes feios.





Também quando éramos crescidas tínhamos um amigo que era padre e se ria muito cum aquilo que agente dizíamos e agente chamava-lhe o bom gigante




e gostava muito de vernos aos pulos e não se importava com o Deus das pessoas desde que as pessoas não fizessem mal às outras porque as pessoas já nascem más e sempre hão-de ser porque sempre foram mas mesmo assim ele gostava delas e ia ver os condenados pelas pessoas ao inferno.




Agente acha que ele era bom professor de Deus mas nunca nos conseguiu ensinar mas éramos amigos à mesma, porque ele tinha cara de bom. E achava que as mulheres eram tão importantes e inteligentes como os homens e sofriam muito na terra grande, na terra pequena






e em terras em que o Deus é outro ou o mesmo com outros diplomatas e políticos e se calhar não mandou fazer nada daquilo e os homens é que se lembraram enquanto Deus está a dormir a sesta porque tem sempre muito sono.




Agente não gosta da Páscoa mas gosta do que as pessoas pintaram, escreveram e compuseram na música a propósito da Páscoa mais do Senhor Jesus assim como o Senhor Bach e o Senhor Charpentier, por exemplos.





E prontos!
Maria Papoila

11 comentários:

Graça Brites disse...

Cópia

A gente também não gostamos da Páscoa pelas razões iguais às da Papoila.
Miss Lizzie disse-nos que podíamos fazer uma cópia da redacção da Papoila mas só se as nossas convicções fossem iguais às dela. Miss Lizzie é a nossa preceptora e explicou-nos que ter convicções é ter certezas e opiniões firmes sobre as coisas porque achamos que a maneira como elas nos surjem na frente dos olhos não oferece dúvidas. A gente não tem dúvidas de que há pessoas que só gostam de cumprir rituais porque pensam que assim hão-de ir pró céu e vão ter um quintalinho com mais sol do que o da gente. Há muito tempo a gente ficou baralhados por causa dos que cumprem os rituais porque eles nos obrigavam a decorar o catecismo e davam-nos reguadas de ferir os dedos quando a gente se enganava. E quando fizemos a peça de teatro da Páscoa no salão paroquial levámos beliscadelas nos braços às escondidas das outras pessoas porque não sabiamos as falas na ponta da língua e assim estávamos a ofender o Senhor que estava quase a ressuscitar para nos salvar. A gente pensava que nos ia salvar das beliscadelas, mas não era isso, só mais tarde é que percebemos que o Senhor está no meio de nós, o que quer dizer que ele nasce ca gente, mas só se a gente quiser.

Claire

Emma Larbos disse...

Cá a gente não tem muito más recordações da Páscoa porque era quando vinham as férias e a primavera e a gente podia correr à vontade pela serra e às vezes fazíamos picnics. A catequista mandava a gente fazer desenhos e contava que uns homens muito maus tinham prendido o Jesus que era bonzinho e curava os cegos e os paralíticos e a gente ficava com pena dele. Só não gostávamos de quando tínhamos de contar ao padre os nossos pecados porque o padre não tinha nada com isso e a gente tinha de estar na bicha muito tempo para chegar àquele armário onde o padre estava sentado e a gente nunca gostámos de bichas. Mas o que vale é que o padre acreditava que a gente só tinha batido na irmã e ido à caixa dos chocolates às escondidas. A gente sempre achou que os padres acreditam em qualquer coisa que a gente lhes diga e ainda bem, senão era uma carga de trabalhos. A gente não percebia porque é que o Jesus, depois de ter conseguido ressuscitar, se ia logo embora para o céu. Se fosse a gente, ficávamos cá e dávamos uma tareia nos tais homens maus para eles aprenderem. E também tínhamos pena da Nossa Senhora, que ficava ali triste a chorar por causa do filho dela. Quando a gente cresceu, houve um senhor americano que se chamava Mel Gibson que parece que fez um filme que era para a gente ter ainda mais pena mas a gente não quis ver esse filme porque nessa altura já andávamos fartas de ter tanta pena.

Lizzie disse...

Querida Claire:
A chata da Miss Lizzie disse à gente que tem convicção que cada pessoa pode fazer o que lhe apetecer e acreditar no que quiser,desde que não obrigue os outros a fazer e a acreditar à força puque Miss Lizzie fica com vontade de dar carolos nas pessoas que pensam que tem razão todinha e são maiores que as outras e por isso Miss Lizzie deixa-me a mim ouvir o Senhor Bach e o Manel ouvir o Quim Barreiros e poe os dois de auscultadores porque assim não brigam e cada um ouve o que gosta.
Por isso coitadinhos dos meninos que levam reguadas como a ti. Aquele padre Bom Gigante Professor de Deus não ia gostar que levasses reguadas porque dizia que o Jesus entrava quando as pessoas abrissem as portas sem serem arrombadas.E só ia ouvir os condenados sem falar de Deus e dar reguadas. Ele dizia que Jesus morava com ele e agente achávamos que ele era feliz assim mais que agente. E tinha um amigo que era Rabi e trocavam livros e lições porque o rabi também ia falar com os condenados. E havia uma menina má que gozava com eles por causa do que eles acreditavam e achava que eram estúpidos por acreditar por dentro.
A menina pregava rasteiras para agente cair quando estava aos pulos porque se ficassemos doentes era ela que ia pular. Má.

Come muitos chocolates e amêndoas.

Maria Papoila

Lizzie disse...

Emma:
olha tu não dás erros! Quando eu fôr grande também quero não dar erros.Vou fazer cópias tuas.
Nunca fomos confessar ao Padre porque se fôssemos a bicha dava a volta ao mundo.
O confessor a modos que forçado era o nosso pai. E a penitência era não ir brincar para a rua e comer muitas vezes seguidas a mesma sopa e levar palmadas no nosso rabo. Quando iamos de férias para o homem do sofá tinhamos menos castigos mas ficavamos com atchins às vezes na Páscoa por causa das flores.
Agente também acha que o Jesus devia cá ter ficado. A gente quando algum menino nos batia agente batia-lhe também e agente entendia-se e não gostávamos que a nossa mãe viesse separar e ralhar como fazia como quando brigávamos com o primo Jorge e a prima Concha.
E olha agente também não foi ver o filme do senhor porque também quando éramos mais crescidas achávamos que o homem era maluco e chato e só via para a frente. Agente quando ficamos grandes perdemos paciência.
Mas prontos.
E não roubes chocolates da lata que fazem mal aos dentinhos e agora já não crescem mais.

Haddock disse...

a gente num gosta da pascôa poruqe num gosta de roxo e mais as prussições e as vsitas pascoais.
o sinhor prior já xegava entornado de tanto vinho do porto que enfrascava na casa dos fieis e a nossa, que era a mais bonita e com andorinhas pretas, ficaba para o fim. era o prior e a cumitiva que já estava todinhos bebedolas, mas lá se alambizavam com os bolinhos do cócô da mamã e as mendoas de muitas cores e de chiclate e mais una calisses ... tá quieto que não eram parvos, caquilo era só bintage. e ós depois queriam que dessemos bjinhos nos pés do menino jezus e nós não críamos, poruqe já estavam lambuzádos dos outros e não nos apetecia. só festinhas e táva a andar que a mãma tamém não queria cenas parvas e dava-nos najorelhas depois...

gonçalinho

Emma Larbos disse...

Maria Papoila,

A gente não dá erros porque quando a gente era pequenas a professora tinha uma régua muito comprida e cada falta de acento era uma reguada e cada erro eram quatro reguadas. Assim a gente não dava erros e aprendia a fazer contas muito bem.
Quando a gente cresceu e começou a ler coisas escritas pelas pessoas de antigamente, descobriu que trocar as letras não era assim tão grave e que muito pior era trocar as ideias e responder alhos quando nos perguntam bugalhos.
E a gente esqueceu-se de assinar a outra redacção lá em cima, que a gente pediu à Emma para pôr aqui.

Cátia Vanessa

Lizzie disse...

Eina pá Gonçalinho ca ganda puquaria a dar beijos nos pés. Eu cá também nun dava e tamém num gosto de rocho mas gosto dos bolinhos de amendoa ca minha mãe tamem faz.
Na minha casas num havia priores. Num iam lá. Quando iam iam à civil e também bebiam vintage ou lá como se diz que agora num ma lembra. Agente uma vez também bebemos ás escondidas. Òspois fomos dormir pa não ficarmos malucas. Mas o sono num fez efeito puque ficámos malucas à mesma.
E prontos.

Ó pra mim a fazer continência.

Lizzie disse...

Cátia Vanessa:
ainda bem que pediste à Emma pa por o teu nome se não agente julgávamos que eras a Soraia Mariza Solange.
Agente tamem acha como a tu que é mau trocar pensamentos e a gente tamem levámos cum ponteiro mas agente dava erros na mesma. Por isso agente quer viver como os antigos puque assim ninguem vê cagente dá erros e prontos atão assim já não presisamos de fazer cópias tuas.
Agente levávamos também ponteiradas nas pernas mas era com pouca força e não doía muito.

Emma Larbos disse...

Ó Maria Papoila, já viste se nessa altura a gente fizesse como os míúdos de agora e andássemos à luta com os profs por eles nos tirarem o telemóvel?
Eu guardava fotonovelas na pasta e livros do Tio Patinhas e da Lulu e da Mónica e se a prof. mos visse eu tava lixada! Agora se ela os quisesse para ela, eu dava, não andava assim agarrada a ela e gritar como uma maluca!

Lizzie disse...

Oh Cátia Vanessa eu ouvi hoje já falar na miúda que andou á porrada na professora e no nosso tempo agente fugia pá Lua cum medo da professora e mais dos pais e mais dos avós e mais dos tios. Pa já agente tinha respeito metido na cabeça.
Tu sabes que uma vez agente faltou mais ou menos ao respeito à senhora que na casa do homem do sofá, que era bonzinho, lavava a loiça e ele nos pôs em cima dum banco a lavar a loiça todinha e mais a limpar o pó e na frente dele agente teve que pedir desculpa à senhora?
Olha se agente lhe batesse...

Emma Larbos disse...

Ah ganda dono do sofá!
A gente nunca se atreveu a faltar ao respeito a ninguém que a gente era muita tímidas. Mas se tivesse faltado teria gostado de um dono de sofá que nos tivesse mostrado como é estar no lugar do outro.