E este segue em forma de pagamento de promessa à minha jacartiniana sobrinha e pode conter, para as mentes mais resguardadas ou sensíveis às reais situações do mundo ou ainda alérgicas a lamas policiais, palavras ou situações chocantes. Vou tentar ser breve que, a bem dizer, tudo isto dá infindável prosa.
Da mulher que, inventando-se, se esqueceu de morrer.
À laia de preâmbulo e como toda a gente sabe, a
Monroe não nasceu
Marilyn, nem loira, nem rica, nem famosa, nem ajuizada, nem de pai absolutamente certo.
A sua mãe, chamada Gladys, que lhe sobreviveu muitos anos, alguns dos quais internada em hospital psiquiátrico, já tinha herdado da sua própria geradora uma esquizofrenia exuberante, pelo menos segundo as classificações da época.
Embora por outros motivos aparentes na superfície, Marilyn também passou por internamentos vários.

Gladys mostrou uma fotografia do suposto pai a
Norma Jeane (ou
Jean)
Monroe Mortensen que haveria de ter consequências funestas no futuro. Por parecença no fenótipo de homem, Marilyn veio a convencer-se ser filha de Clark Gable, afirmando tal coisa a quem a quisesse ouvir, para grande espanto do actor. Foi uma das suas primeiras invenções.

Segundo testemunhos de várias famílias de acolhimento, já em criança, Norma vagueava entre a tristeza, a confusão e a fantasia desafiadora.

Por estas e por outras nunca ninguém soube quando Marilyn falava verdade ou mentira, quando inventava calculadamente tragédias e infelicidades para cativar e comover o sexo oposto ou quando acreditava piamente nas vidas que de si construía.
As únicas declarações que manteve estanques em toda a curta vida foram o desejo de ser fada do lar, submissa ao ser superior que é um marido e Chefe de Família. Era feroz adepta do tão publicitado modelo de família dos anos cinquenta.

Fez diversas e detalhadas descrições, de uma suposta violação em criança, para justificar a sua muito precoce voracidade por homens.
Casou aos dezasseis anos e contam terceiros e também ela (chegou a auto classificar-se publicamente como rainha dos felatio), que enquanto o marido estava na guerra, não houve mancebo, de preferência fotógrafo, que lhe escapasse.
Cedo começou a tomar analgésicos para paliar as dores fruto dos problemas ginecológicos resultantes de inúmeros abortos feitos em sítios pouco habilitados para o efeito. Mais tarde, teve-os naturais. Nunca chegou a conseguir o que mais queria: um filho. Tal impossibilidade fê-la cair em actos do maior delírio.
Ao longo da instável existência, a discrição acerca da sua vida, da dos outros, e sobretudo da sua com a dos outros, nunca foi propriamente virtuosa.
Tal falta de contenção face a segredos e o hábito de seduzir e partilhar qualquer leito com qualquer homem que lhe aparecesse à frente, pode ter levado ao seu assassínio embora para o grande público se lamentasse o suicídio.
Marilyn foi construída e construiu-se como o protótipo de mulher famosa, bonita, frágil, traída nos amores. Uma espécie de aristocrata da infelicidade com brasão desenhado nas chagas da desventura.
Durante a sua vida e após a sua morte foram vendidos, em todo o mundo, milhões de romances de cordel sobre a deusa com penas mortais.
De facto, Marilyn sempre viveu dependente de várias drogas. Para além das analgésicas, recorria excessivamente a comprimidos para dormir (sofria de insónias crónicas) e para matar a ansiedade. Misturava-as com álcool e por diversas vezes entrou em coma.
Eram desesperantes, para colegas e realizadores, os seus atrasos (chegava a ser maquilhada enquanto ainda estava a dormir), e as omissões de memória.
Um exemplo da decadência global do seu estado, foi na festa de anos de J. F Kennedy, quando cantou o famoso “Happy birthday, Mr. President.”

E começa aqui o enredo policial.
Já era dado adquirido no meio, que Marilyn era amante simultãnea de John Kennedy e do seu irmão Robert. E de Frank Sinatra, com ligações ao sucessor em poder de Al Capone, Giancana. E deste a quem era favorável a extrema direita.
(Segundo alguns investigadores a figura central desta renda era a voz de oiro, angariador do vasto rol de mulheres que os presidenciáveis irmãos partilhavam e mestre de cerimónias nas festas de famosos com orgias de poder a todos os níveis.)
A meio de uma das festas, dada em casa de um cunhado dos Kennedy, Marilyn foi para casa. A meio da noite foi encontrada bastante morta e em rigor mortis na cama, agarrada ao objecto de que era dependente: o telefone. Telefonava a quem quer que fosse a qualquer hora.
A polícia fotografou o quarto. De forma exaustiva. Foi feita autópsia com o veredicto de suicídio (suponho que por negligência de vida )dadas as doses de álcool e barbitúricos concentradas no fígado.
Mas, um professor da especialidade inglês, em honra da veracidade anatomo-patologista-forence levantou o pó da certeza.
O estômago de Marilyn estava limpíssimo. Nem comida nem resquícios de comprimidos ou cor dos mesmos no dito órgão. Parece que, com tal dose capaz de matar, o coração pára antes que todas as pílulas se desfaçam. Mesmo quando passados em almofariz e diluídos em líquido, deixam rasto por onde vão passando.
Não haviam sinais de injecção intramuscular ou endovenosa.
Perguntou o Douto Professor Inglês, onde estava a análise toxicológica ao cólon. Não existia porque o autopsiante se limitou a olhar o e a verificar que Marilyn tinha o órgão massacrado por obsessivos clisteres , como era prática corrente nas actrizes e modelos como forma de perder peso.
Indignou-se o inglês com tal negligência já que eram muitos os assassínios discretos praticados dissolvendo as mortais drogas na água utilizada para a prática.
E se o autopsiador fez longo relato dos pêlos públicos da famosa defunta, não lhe examinou o canal vaginal.
Por não ser sítio muito exposto ao comum dos olhares, também era forma corrente de, através de injecção, administrar o mortal princípio activo, levando-o a espalhar-se sangue fora.
Mais tarde, juntando todos os elementos, muitos se viraram para o assassinato por um destes dois últimos meios.

Por outro lado, ouvindo quem estava na festa, comparando horas, chegou-se à conclusão mais apurada, dado o estado de rigor mortis, que Marilyn por lá andou, de copo na mão e passeando-se, já finada.

E nas fotografias do quarto não se vê nem copo nem garrafa de líquido por onde Marilyn tivesse empurrado para dentro de si os comprimidos.
E mais muitas coisas que agora não me ocorrem.
O processo foi fechado e reaberto várias vezes e, parece que só em 2025, poderão ser de acesso à investigação publica documentos reveladores. Alguns dizem que a História vai trocar anjos e demónios.
Talvez tudo seja tão irónico como o corpo esventrado de Marilyn dias a fio na morgue, sem que, no meio de tanta fama e utilização, alguém o reclamasse para lhe dar definitivo descanso. A família desprezou-o, os famosos ignoraram-no.

Como muitas outras vezes em que o Ícon era massa disforme, o seu controverso ex-marido, Joe Dimaggio, encarregou-se de a chorar e lhe fazer o funeral. Toda a vida, apesar da violência gerada nos ciúmes doentios, lhe tinha chorado o lado mais recôndito dos desaires.
Tinha visto mais da mortal Norma Jean que do ambíguo produto Marilyn.
De qualquer forma, talvez ainda se continue a ouvir em todos os plateaus, teatros e famas em qualquer parte, o que tantas vezes ela disse:
“Em Hollywood, pagam-te mil dólares por um beijo e cinquenta cêntimos pela tua alma”

A preços da época, claro!