quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Previsões semi-astrológicas para o ano de 2009



Pela vidente Lizzie Pitanguí Xamaradú Karamba Oxalá

(agenti pidiu à qui chama só Lizzie pá pô esta prosa em putuguês de Potugall, sim áinda acórdô ortugráfico, pá usês num ficarem maluco que nem eu e agenti só vai falá di Portugall purque vidente cunségue vê daqui pa í)
Atão vamo lá cu á cuversa se usês num simporta não:

Trabalho e negócios:
Como Saturno vai praticar jardinagem a Júpiter , o ano será de franca expansão. Serão criados quatro milhões e meio de novos postos de trabalho.




Seguindo a sua vocação de descobridora virada para o desenrasque, os portugueses darão novos mundos ao Sistema Solar, partindo à descoberta do planeta XPR230089, rico em matérias primas, substituindo assim o petróleo, as energias eólica e nuclear e trazendo componentes para o fabrico de computadores Magalhães que aproveitarão para vender no trajecto para o citado planeta.

Cada português fundará três bancos, para o caso de falência dos já existentes.



Más notícias para os deputados que, em cada sessão parlamentar, serão chamados três vezes, pelo sistema de braço-no-ar-presente de forma a comprovar-se a sua presença efectiva.

Para os outros cidadãos a jornada de trabalho será reduzida para vinte cinco horas semanais, sendo a reforma atribuída, com retribuição por inteiro, aos trinta e nove anos para quem começou a trabalhar aos doze e cinquenta para os restantes.


Cultura e educação:


Como Mercúrio irá ouvir a Oratória de Natal de Bach, enquanto toma chá, na terceira casa de Úrano, o IVA sobre livros e outros instrumentos de desfrute e saber será reduzido para 2%, totalmente dedutível no IRS.



As crianças que trabalham dez horas por dia e as adolescentes a fazer serviço em bares na Galiza, serão enviadas para estabelecimentos escolares, mesmo contra a vontade dos pais, dos tios, dos avós e dos vizinhos.

Os professores terão autoridade para ensinar aos alunos, sem que estes os mandem para partes inestéticas, que D. Afonso Henriques foi o primeiro rei português e não o primeiro presidente da república, bem como 2x2=4.

Ficarão mais interessados em aprender que em mandar duas mil sms para o companheiro de carteira durante as aulas.




Os portugueses deixarão de usar, a exemplo de outros países, os títulos de doutor e engenheiro mesmo quando vão comprar pão, lavar o carro, comprar bilhete para o futebol ou marcar para manicura.


Saúde e beleza:
Como Vénus irá para um solário no quinto anel de Saturno, desprezando Mercúrio,
todos os portugueses tomarão um duche diário, aprendendo a lavar as mãos depois de várias actividades que a decência impõe como privadas.

Devido à melhor e mais racional alimentação, às menores preocupações com os créditos, trãnsito e transportes, à prática de actividade física, os portugueses ficarão, em média, mais altos e saudáveis.



Em prol do bom funcionamento das articulações e demais sistemas, e pela primeira vez na história, os portugueses aprenderão a andar pondo um pé à frente do outro (o chamado andar para a frente) e não um para trás do outro, como têm acontecido até aqui.

As queixas na coluna vertebral diminuirão à medida que forem aprendendo a andar de cabeça erguida.

Os fumadores, os gordos, os magros, os seropositivos e os cancerosos serão absolvidos da sua culpa e terão tratamento digno sem lhes perguntarem o que andaram a fazer nem quantos anos têm. Ninguém se arrenderá de ter cometido o acto de nascer.




Amor e amizade:
Como Vénus encontrou Marte, Plutão, Neptuno e Úrano e a Terra numa visita a uma cratera da Lua, os casamentos e outras partilhas deixarão de se tornar jogos de xadrez à procura de xeques à rainha ou ao rei.



Os homens não se sentirão diminuídos com a falência funcional da libido e as mulheres não sofrerão de dores de cabeça ao deitar.

E seguindo o exemplo dos outros países, o governo português decretará, sem temor de castigo papal, o casamento entre pessoas do mesmo sexo.




Os homens não terão medo de acharem em público outro homem bonito. Também vão deixar de bater nas mulheres e nos filhos quando a sopa está demasiado quente ou fria ou morna.

Ninguém morrerá devagarinho de solidão.





Para informações mais detalhadas é favor contactar os telefones 0034-9......,351-21....., 96......, 91..... a 0,62Euros acrescida de IVA à taxa de 2008.
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Assim sendo,eu Lizzie, Eli, Élis, E.W.G., Maria Papoila




desejo-vos já, na medida das possibilidades e sonhos de cada um, um Bom Natal, ***** para o Capitão Haddock, e um Bom Ano, já que estou quase de abalada e as minhas vindas aqui serão esporádicas.
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Mais boto aqui esta música por ter referência a fotografias (faladas no anterior post) e também para desejar coragem e melhoras a todas as mulheres que, como Luz Casal, sofreram ou sofrem de cancro da mama ou outros sem esquecer os padecimentos dos homens, claro.


lo eres todo - luz casal

Em termos de posts, até para o ano.



e, já agora, a abertura da Oratória de Natal, que botou boa disposição e generosidade em Mercúrio (sempre forreta e com problemas renais), quando foi à terceira casa de Úrano.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

vem este à laia de continuação de certos comentários com asneirolas de boa sorte do anterior e sobretudo e também porque me apetece.

O tempo intermédio





Não, não nos apeteceu ficar ali na lendária Chocolateria san Ginés, de passagem quase obrigatória depois de estreias de espectáculos e outras aflições, a exibir sorrisos autorais, e a responder a perguntas irrespondíveis.

Não nos apeteceu despirmo-nos dos nossos segredos, mostrar o outro lado dos pensamentos. O mais idiossincrático e escondido.
As almas pediam-nos silêncio. Pediam-nos o vaguear sem horas pelas ruas e avenidas da capital espanhola, no aconchego do carro aquecido até chegar a casa, ao prazer simples do duche escaldante, do chá com comentário solto e avulso aos pormenores do anseio que já passou.



Digo-lhes que estacionem e subam, que a vida entre íntimos não tem etiqueta de traje e, comigo de roupão e pantufas, vocês são mais meus, fazem-me sentir que tenho uma história viva. Que existi.

Se me der sono adormeço no vosso colo, encaixo-me na vossa intuição deste meu estado intermédio entre a idade de ainda me lembrar de ter companhia num pato de plástico branco e a que há-de vir, vazia de memória.

Vou-me despir de máscaras. Aquela que todos nós, sendo ou não do palco, pomos todas as manhãs quando deixamos de estar sozinhos.
Mudam-se os tempos, mas as máscaras continuam. O teatro da sobrevivência assim o obriga. A verdade sem disfarces seria demasiado insuportável.


Olha a bailarina estrangeira, loira com olhos de água virgem, que trabalha aqui, em Madrid. Poderá ela dizer-nos, ou melhor dizer-vos, que vos detesta o barulho, a arrogância, os verões exuberantes de bulício nas esplanadas, o sol descarado. Senti-lhe nos gestos as saudades, em português diz-se saudade, do chão húmido a reflectir o recato nas lajes, o cheiro a porto, a ânsia que lhe chegue amor empático do Norte.
Quase com quarenta anos, chegou à idade em que a espera é uma dor lenta. Um caminho intermédio entre a esperança doida e a resignação. Está a mascarar de profissionalismo a solidão que não confessa. Os do Norte não têm flamenco nem fado para gritar as tristezas disfarçadas de tradição.



Esse? Desenha cenários como quem constrói uma casa de brinquedos da infância que ainda lhe resta, que não deixou morrer,olha, assim como eu vou falar em cavalinhos para o blogue e se, para a próxima…tipo metáfora visual…

gosto tanto daqueles olhos negros, curiosos a apanharem qualquer fantasia que fuja para o ar…parece uma criança barbuda. Deve ser bom envelhecer como se nunca se tivesse passado pelo tempo intermédio de se ser obrigatoriamente crescido.

Eu? Espero nunca crescer completamente! Credo!

Olha, vai buscar o cobertor que ela já adormeceu. É melhor tirar-lhe os sapatos. Já tinha aquela ruga ao canto da boca? Assim, tão funda?
Até a dormir é bonita. Já expliquei que lá dizemos que é como o vinho do Porto, não é Oporto, é Por-to, quanto mais velho melhor.

Ai essa é giríssima: disse-me que já publicou um novo romance baseado numa constatação que fez por acaso e veio a confirmar: uma parte das pessoas fala ao telemóvel com ninguém.

Foi o que ela disse. Falam, falam, estão no meio da conversa, chega o metro e desligam a meio da frase. Distraem-se. Não são actores profissionais, esquecem-se da deixa na peça que vão criando. Sei lá, deve ser o cúmulo da solidão. Tempo intermédio para a completa loucura. Ela só escreve sobre gente na fronteira de tudo…estão algures ali na terceira prateleira, podes levar.


Perguntei ao António por quanto me venderia uma gravura da série Audrey Hepburn, porque o quadro a óleo…



tenho cara de banqueira, por acaso? Compra-o tu. Ah, bom, pois é…trabalho em Portugal. A gravura em formato grande já me chegava. Sabes com quem é parecida?
São os olhos amendoados, a forma como se move. Acho que vai dançar também na Gulbenkian.

Não, não a acordes, anda tão cansada. Amanhã é domingo. Quando acordar vai-se embora. Já conhece os cantos à casa.

Está como eu. Estoirada.

Vou para a cama. Lá diz-se vamos deitar que esta gente quer ir-se embora. A brincar, claro.

Vou dormir. Vou para o estado intermédio entre as realidades. Se é que sei o que realidade significa. Os filósofos que pensem nisso



que eu, vocação a sério, só tenho para sonhar.


Lava-se a loiça amanhã!





yo envidio el vento - lila downs